quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Botando as mangas de fora

Nesses pouco mais de 10 anos trabalhando na área de Educação Física, vi e vivi muita coisa marcante. É fato que o trabalho de professor, seja na escola, seja na área de treinamento e formação esportiva deixam marcas incríveis que acabam te criando mais vínculos. Esses vínculos dão sentido ao sonhos de fazer um trabalho de qualidade e assim acontece uma retroalimentação que recomeça a cada ano.



Você dá aula porque acredita no diferencial que pode propor e em virtude deste trabalho, diariamente você é surpreendido com situações que te ensinam sobre a vida muito mais do que já aprendeu em alguma aula na faculdade. Essa troca mantém viva a chama de lecionar, planejar e tentar ser melhor a cada dia e te dá um retorno de como a educação e  formação esportiva são processos a longo prazo. Tenho alunos e ex atletas que anos depois de passarem como participantes, hoje voltam com lembranças daquela formação mostrando que aquilo que foi vivido não foi em vão, que valeu a pena e serviu como base para o que ele é hoje. Além disso, no meio dessa jornada você conhece profissionais sensacionais. E não são apenas professores. Você encontra funcionários de diversos setores que exercem sua profissão com tanta excelência que faz você se perguntar o que seria de você caso essa pessoa não existisse ali dividindo o trabalho contigo. E nesse processo de aprendizado diário vamos evoluindo, aprendendo que podemos ser melhores, mas a história não contém apenas esta parte romântica.




Infelizmente nesse caminho, muito além de vivenciarmos um esporte amador falido no Brasil e um sistema escolar rendido ao mercado e uma Educação Física muitas vezes inexistente enquanto prática sendo conduzida única e exclusivamente pela paixão, crença e dedicação do professor nas escolas, o que mais machuca nisso tudo é dar de frente e ter de conviver com profissionais que adotam o PACTO DA MEDIOCRIDADE como estilo de vida.


Estes medíocres, como diz um grande amigo meu, são Zumbis: Mortos (Não em corpo mas certamente em práticas) que não querem ir embora, pois continuam a sugar um pouco sem fazer quase nada baseando a sua vida na lei do menor esforço.
Além disso, estas pessoas que não têm comprometimento e envolvimento com o que fazem, por não se desgastarem com o trabalho de cada dia, acabam tendo energia de sobra para fazer pactos medíocres, para fazer auto-propaganda, amizades influentes, e assim, em um País que sucumbe ao "jeitinho" e ao "amigo de fulano", esses medíocres continuam por aí. Mortos-vivos da educação, do esporte e de diversas áreas que sabemos muito bem. 



Meus amigos me conhecem e sabem o quanto já sofri com isso. O quanto me indignei com estas pessoas e com a cara de pau de muitos que ainda se intitulam de sofridos, reclamam da vida, explicam o pouco envolvimento na falta de estrutura, reconhecimento e etc. Estes já sugaram por demais a minha energia. 

E neste ano, de tantos desafios profissionais novos na minha vida, olho pra trás e vejo que de alguma forma amadureci graças a estes profissionais que por não fazer nada, me jogaram mais trabalho nas costas, mais desafios e de alguma forma me fortaleceram. Descubro então que o mais importante de tudo é você continuar. Não importa o quanto você produz e o reconhecimento que tem, o importante é o quanto você suporta as dificuldades e mesmo assim consegue ainda dignamente fazer a sua parte. Trabalhar porque é importante fazer, porque é certo e não porque vai acabar aparecendo e fazendo se destacar.

Feito este desabafo, volto enfim a escrever por aqui e deixo um vídeo de uma música que tenho escutado todas as manhãs em forma de pedir proteção dos medíocres, daqueles que só querem sugar e de alguma forma pedir força pra fazer um ano simplesmente fantástico profissionalmente. Sou um católico não praticante. Acima de tudo acredito em Deus e esta música fala sobre Ogum, patrono dos guerreiros e dos que não desistem e continuam correndo atrás e que no Brasil é identificado como São Jorge. 

Ao ouvir esta música pela manhã tomo a decisão de que vou fazer melhor do que já fiz e que agora um pouco mais velho e maduro, não vou deixar esses que se encostam e vivem de imagem me atingir ou desanimar. 

Abraço a todos!






Ogum


Composição: Marquinhos PQD/Claudemir


Eu sou descendente Zulu
Sou um soldado de Ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre
Sim vou à igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou ao terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum
Ogumm
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais
Ogumm
Ele vem de aruanda ele vence demanda de gente que faz
Ogumm
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz
Ogumm
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão
Ogumm
É quem da confiança pra uma criança virar um leão
Ogumm
É um mar de esperança que traz abonança pro meu coração


(Jorge Ben Jor)
Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei nesse dia nessa noite
Com meu corpo cercado vigiado e protegido
Pelas as armas de são Jorge
São Jorge sendo com praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tendo pé não me alcancem
Tendo mãos não me pegue não me toquem
Tendo olhos não me enxerguem
E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançara
Facas e lanças se quebrem se o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem se ao meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia.


7 comentários:

Ronaldo Pacheco disse...

Tudo dito, não há o que comentar. É vestir as "roupas de Jorge" e ir a luta, encarar o trabalho e fazer o que tem que ser feito, superar a mediocridade, não alimentar e enterrar os zumbis!!!
Parabéns pela luta, pelo trabalho e pelo excelente texto.

Mari Moura disse...

Como disse Ronaldo, não há o que comentar mesmo... eu preciso agradecer pelas nossas conversas que me fazem acreditar que ainda vale a pena... que a mediocridade não cabe na minha vida...
Dia desses no Facebook, retirei uma frase de um autor que adoro, chamado Caio Fernando Abreu... e imediantamente ele me levou para os acontecimentos que te acometeram no final de 2010 e que me acometeram no início de 2011:

"Agora não da mesmo pra ser feliz, é impossível. Mas quem disse que a gente precisa ser sempre feliz ? Isso é bobagem. Como Vinícius cantou ´é melhor viver do que ser feliz´. Porque, pra viver de verdade, a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, doi demaais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."

Seguimos juntos...

Unknown disse...

Muito bom Galego, é gratificante saber que na minha profissão (agora somos colegas de profissão!?!) existem profissionais envolvidos, motivados e até de certa forma indignados.
Um abraços

Anônimo disse...

Fenomenal!!! Fiquei muitos feliz ao achar esse blog nas minhas buscas através da "net" para tentar me tornar, um técnico melhor, ou melhor, um Técnico. Li vários posts antes de ter a coragem de comentar, e realmente fiquei mais feliz e motivado e acredito que posso daqui tirar muitas lições.
Lendo seus textos lembrei de um texto que você levou pra um treino do juvenil/juniro/adulto do vizinhança anos atrás quando ainda era seu atleta, sobre uma cidade que produzia vinhos e sempre realizava um festival, com seu melhor vinho, um dia todos resolveram trapacear e neste festival, só houve água.
Lembro do jogo contra o jóquei clube de goiânia, pelo infantil ainda, onde Jonatas foi expulso de quadra e você assumiu, sim o jogo mais lindo da minha vida.
Agradeço pela grande influência que seu trabalho teve em minha trajetória, e que agora volta a ter.
Abraço.

Victor.

Basquete Brasil disse...

Lí, relí, e gostei demais. Me fez retroceder no tempo, às lutas, venturas poucas, desventuras demais, mas sempre focando o depois, o amanhã, renovando esperanças em dias melhores. E hoje constato que nem tudo está perdido, pelo contrário, prevejo um futuro ainda muito dificil e lutado, mas real e possível.
Sua luta sempre foi a minha também, e quando esse espirito for acrescido pelos jovens professores e técnicos que se iniciam, estaremos no caminho certo, apesar dos mediocres e aproveitadores.
Continue sua luta Prof.Rodrigo, estarei sempre na torcida por você e seu belo trabalho.
Paulo Murilo.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Por isso sou filho de Ogum,
Por isso sou iluminado pela Lua de São Jorge,
Por isso acredito em guerrear em pról dos amigos,
Por isso sou Jorge Guerreiro...
Preciso dizer algo mais...