terça-feira, 15 de outubro de 2013

Acima de tudo, PROFESSOR!

Parabéns a todos os Professores!


Peraí!!! Será? Será que o parabéns é a todos?
Se houvesse um dia dos políticos? 


Você se arriscaria dando os parabéns a todos, ou àqueles que tentam honrar a profissão?
Pois bem.. faço o mesmo por aqui!

Dar aula precisa ser uma questão de opção e não uma questão de sobrevivência. 


Parabéns aos Professores que mesmo sobrevivendo a um sistema em que desvaloriza a profissão, ainda conseguem se desdobrar e encantar seus alunos e não explica suas dificuldades ou usa desse mesmo sistema pra dizer o porquê que não dá aula direito. 

Parabéns aos Professores que acordam motivados em fazer a diferença em suas aulas, mesmo sabendo que na noite anterior dormiram pouco, planejando suas aulas e fazendo ajustes finais, muitas vezes chegando a abrir mão de sua vida pessoal, porque a sua vida pessoal também é ser Professor. 

Parabéns aos Professores que trabalham duro e que ainda ouvem dizer que a vida é moleza pra quem dá aula porque têm duas férias no ano. Parabéns aos Professores que depois de tanto trabalho e entrega ainda ouvem a pergunta se você trabalha ou se só dá aula mesmo. 

Parabéns aos Professores que se dão a chance de educar-se enquanto educam, pois educação é uma via de mão dupla, mas cheia de curvas sinuosas que passam perto de abismos chamados de soberba, prepotência e ilusão de que se sabe mais do que alguém.

Parabéns aos Professores que têm certeza de que as pessoas não aprendem na mesma velocidade, e que por esse mesmo motivo conseguem adequar suas falas e intervenções, no intuito de desenvolver os mais diversos potenciais existentes, mesmo sabendo que o sistema estimula o pensamento contrário, fazendo da diferença uma oportunidade para comparar, classificar, aprovar e reprovar. 

Parabéns aos Professores que pensam de forma multidisciplinar, que sabem que sua área de conhecimento não é a única "fonte de vida" e que possuem a humildade de dizer não sei quando questionados por algo que não domine naquele exato momento, pois ser Professor não é saber de tudo, e sim saber ser um facilitador da aprendizagem e um provocador à descoberta e ao conhecimento.

Parabéns aos Professores que conseguem ver em outro Professor a chance de se renovar e uma possibilidade de aprender e que fazem das parcerias nos corredores entre salas, mais um momento de aprendizado, mais uma chance de melhorar seu trabalho. 

Parabéns aos Professores que sabem que ter carisma é essencial para dar aula, mas que não é tudo. Que estudar, oferecer conhecimento de qualidade e estimular o pensamento crítico são o maior carisma que se pode oferecer aos seus alunos. E que no fim das contas, anos depois, sendo você engraçado, divertido, dócil, duro ou ranzinza, o que fica de lembrança é de alguém que te estimulou a pensar e a descobrir seu caminho por si mesmo.   

Parabéns aos Professores que enxergam sentido no que fazem e que, por acreditar em dias melhores, lutam diariamente para que estes dias aconteçam e para que o sentido que dão a suas aulas possa fazer sentido a outros tantos. 

E aos Professores de Educação Física em especial, fica a dica.. Que seu dia é 15 de Outubro. Porque independente de onde você atue, seja na escola, no ginásio, na piscina, no tatame, na academia, ao ar livre ou em qualquer outro lugar que seja, você acima de tudo é um Professor, que precisa entender de gente, de pedagogia e que precisa saber adequar suas ideias a uma formação coletiva.

Fica aqui os parabéns a uma classe nobre na qual tenho o imenso orgulho de fazer parte, onde muitos me ensinaram, me inspiraram e inspiram até hoje a buscar ser um profissional e pessoa melhor. É a profissão que escolhi  e que quando me perguntam o que faço da vida, posso falar com convicção e  de peito aberto:

Sou Professor! 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Qual é o seu talento?

Tenho uma grande amiga escritora chamada Aline Valek. Desde que a conheci e comecei a conviver com ela, sempre foi uma fonte de inspiração absurda. Vejo que apesar de achá-la talentosa e extremamente competente na arte de construir textos de forma envolvente e provocante, percebi que todo esse processo de esforço, nada mais é do que muita dedicação e horas de TBC - Tempo de Bunda na Cadeira (aprendi esse termo recentemente com um professor e resolvi adotá-lo).

E recentemente ela escreveu um post em seu site (no qual recomendo muitíssimo a leitura) que falava de forma provocativa que ela não acreditava em talento (você pode conferir este post aqui) e que não se identificava com a ideia "mística" que damos a quem "leva jeito" para algo. Como se além de uma predisposição (ou não), não houvesse também ali horas de dedicação para se chegar a um nível de excelência.

Como de costume em seu site, Aline conseguiu provocar diversos leitores que começaram a comentar em sua página no facebook (também vale conferir, aqui) falando sobre a predisposição genética que as pessoas podem ter. Até aí tudo bem, também acredito nisso e a própria Aline fez um adendo no post falando sobre isso e reconhecendo esta questão sem deixar de enfatizar que a prática, essa sim, te leva a uma qualidade próxima de você poder ser chamado de talentoso. No vídeo abaixo faço a seguinte pergunta: São todos apenas talentosos ou associaram talento à uma prática constante para chegarem nesse nível?



Mas o que mais me impressionou foram alguns comentários que denunciam algo que vejo diariamente na Educação Física e no trato com esportes. Dois comentários em especial me chamaram muito a atenção. Uma dizia que talento existe sim e dava o exemplo do cantar. Que ela nunca, de maneira alguma, mesmo que treinasse durante anos, ela conseguiria cantar como a Whitney Houston. E em outro comentário um rapaz falava a favor da "loteria genética" e dizia que não dava para esperar que um anão fosse o melhor jogador de basquete do mundo.

Vocês conseguem perceber do que esses dois comentários falam? Eles falam de padrões que saem da busca pessoal. Em um primeiro momento a moça que cita a Whitney Houston como padrão, desconsidera qualquer evolução pessoal que ela pudesse ter com sua dedicação, pois nunca chegaria a ser como sua referência musical, no caso a Whitney. E o outro, simplesmente nega que um anão possa ter acesso à prática de uma modalidade, pois ele já está descartado de ser o melhor do mundo. Como se para praticar esporte, uma das principais válvulas motivadoras fosse ser o melhor do mundo e caso isso não fosse possível de ponto de partida, não seria então motivador ou não teria propósito, como se fosse perda de tempo.

O que vejo nessas duas falas me faz arriscar a dizer que são produtos de um forte e impregnado senso comum que habita o imaginário coletivo. Senso comum baseado numa cultura que prega que fazer o que te dar prazer não tem sentido caso você não se destaque.

É claro que preocupar-se e querer destacar-se é mais do que que aceitável e humano até. Quando começamos a aprender algo, uma das molas propulsoras que mais no mantém conectado com o aprendizado é a chance de ficar melhor (mais habilidoso) em tal atividade. Mas dizer que a única possibilidade de desenvolvimento é a de ser top, melhor do que todos os outros, é realmente grave e é o que mais vejo de preocupante em minhas aulas. É muito comum receber alunos novos com o discurso de que não levam jeito para determinada atividade. Eu sempre tento levá-lo a pensar que se ele acredita que não leva jeito para tal coisa, talvez seja esta atividade a indicada para ele praticar, já que terá a chance de evoluir, desenvolver, aprender. Claro, desde que seja uma atividade em que ele veja sentido, possibilidades e se envolva por interesse próprio.


Mas o que vemos por aí não atinge esse campo. São pais dizendo aos seus filhos ainda quando criança que precisam conquistar melhor nota da sala (e desde quando a nota garante a você sucesso absoluto?), que quando pintam um sapo de vermelho está errado, pois sapo é verde e assim você não vai chegar a lugar algum. E assim vamos passando a ideia de que nos desenvolvemos apenas para ser o melhor. E por isso existem tantas frustrações hoje em dia. Tanta gente achando que falhou porque acreditou que sua referência estava fora de si mesmo, em padrões ditos a ele, visto na tv ou que nos fazem acreditar no dia a dia, quando o que deveria se preocupar era de fazer o melhor que pode, o tempo todo. E dessa forma, se avaliar, reavaliar e cada vez mais descobrir seus potenciais, limites e ir se aventurando nesse mundo de possibilidades que a vida nos oferece.

Acreditar que o "topo" está reservado apenas para os "habilidosos natos" é uma forma de se sabotar e explicar nos outros muitas vezes o que não se permitiu ou o que não se tentou fazer. Há espaço para todos, em diversos níveis, desde que o foco seja a própria evolução, ser melhor do que já foi um dia. Nos 15 anos que trabalho com iniciação de basquete, poucos atletas com que trabalhei tiveram a chance de se tornarem profissionais, considerado o topo da modalidade. Mas tenho uma alegria de saber que muitos em sua grande maioria levaram os aprendizados para seus níveis e conseguiram praticar a modalidade onde melhor se adequaram: Seja numa equipe de alto rendimento, seja jogando campeonatos da escola, na universidade, seja um praticante consciente do jogo pra apenas bater aquela pelada com os amigos. O que quero dizer aqui é que o aprendizado fica, te acrescenta, te faz evoluir e saber que muitas das habilidades que temos são frutos de esforço, repetição e reflexão sobre o que e como estamos fazendo, é se dar a chance de se conhecer melhor e assim, aprender que você pode adquirir novas habilidades, baseadas nas suas qualidades, nas suas limitações, mas que você é capaz de desenvolver-se.

É triste as vezes ouvir ex atletas ou pais de atletas dizerem que o filho se dedicou tanto para nada. Como se houvesse apenas um único fim em nossos propósitos. Posso não levar jeito para ser uma estrela do rock, mas posso tomar vergonha na cara(deveria pelo menos, ainda tenho esperança!) de fazer aula de guitarra e tocar as músicas que mais gosto.

Pare pra pensar em como muitas vezes você deixa de vivenciar algo novo, pois explicar que nunca levou jeito para tal coisa. Hoje em dia nas empresas estamos vivendo uma era em que as pessoas não podem mais ficar estacionadas em seu setor e na sua "caixinha" de conhecimento pra sempre. Muitas vezes é mais valorizado aquele que tem a capacidade de reciclar-se, reinventar-se e redescobrir-se (algo sobre isso aqui). Essas lições podem ser facilmente aprendidas no esporte quando garoto. Eu pelo menos tenho tentado mostrar isso aos meus alunos. Que os aprendizados tidos ali na quadra, podem ir para muito além dela. E que talento só terá sentido se for associado à muita prática.



Quando vemos um vídeo como esse acima, de uma cara considerado gênio pela maioria e descobrimos em seu discurso que ele se aproveitou das oportunidades que teve para "construir seu talento", acho sinceramente que devemos começar a pensar qual o talento que estamos construindo para nós mesmos.

Certamente vale a reflexão.

Abraço a todos!




segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Mais um 1º de Setembro.

Mais um dia 1º de Setembro passou (Dia do profissional de Educação Física). 

E como sempre faço neste espaço, aproveito para reforçar a minha opinião de que o nosso dia mesmo é dia 15 de Outubro (Dia do Professor), mas que é sempre bom ser lembrado como aconteceu ontem, mesmo sabendo que esta data comemorativa é fruto de uma luta política para um conselho se legitimar como "dono" dos "direitos de imagem" dos professores de educação física. Mas enfim... Sempre recebo os desejos de felicitações com carinho e de maneira agradecida. 


Nestes últimos dois anos tenho participado de cursos de formação de professores, seja como convidado em universidade, onde estão se formando futuros professores, sejam em cursos de reciclagem, onde me encontro diante de professores já formados, interessados em ressignificar seus estudos, conhecimentos, e questionar as práticas descontextualizadas que existem por aí em nosso meio, e tenho convivido com estagiários onde trabalho, querendo dar aulas interessantes, estimulantes, em busca de educar e de deixar alguma formação como legado. 

Curso de formação continuada dos professores de educação física da rede pública do DF.

O que tenho visto disso tudo é que existe muita gente interessada em ensinar diferente. Em não fazer parte do "show de horrores" que acontece em muita escola, em muito centro de treinamento. Existe muita coisa errada em nosso meio, mas percebo também que existem pessoas afim de se livrar do discurso diminuto que o esporte diminui a violência, que a aula é divertida e que quem não quer fazer aula "não quer nada". Uma aula de educação física é muito mais que isso. Respondemos hoje em dia pela cultura impregnada em nosso meio de que esporte é só uma diversão, de que formação motora está muito abaixo da formação cognitiva e de que não há ligação entre elas. Pagamos caro o preço da nossa imagem, de nossos professores/mestres/doutores que muitas vezes fizeram de seus títulos acadêmicos, uma oportunidade para trabalhar menos, buscar estabilidade profissional e financeira e formar mal os futuros professores da área. 

Mesmo assim, mesmo com a realidade onde o professor de educação física na escola tem a função de entreter a garotada e não deixá-las se machucarem, mesmo sabendo que o senso comum diz que o professor de esportes trabalha apenas com a formação motora de seus alunos e que professor bom é professor divertido. Mesmo com a visão reducionista sobre nossa profissão, vejo muita gente boa por aí querendo fazer diferente. Tenho convivido com muitos destes e este simples fato de estar ao lado de jovens que querem mais da área e poder conhecer professores com anos de "cadeira" ainda se dando a chance de questionar seus métodos e seu trabalho é que acredito que devemos dividir mais conhecimento. 


E por isso este blog não serve mais para o que me propus de início que era compartilhar experiências. Este espaço é pequeno para o tanto de gente que tenho visto que tem sede por buscar mais informações. E é inspirado nessas pessoas que digo que este espaço está com data para encerrar. A partir de outubro, nos tornaremos um site, com mais ferramentas, pessoas envolvidas querendo compartilhar experiências e com a possibilidade de influenciar e ser influenciado por muito mais pessoas.

Tudo isso porque vemos a necessidade de se discutir a área. Vivemos num país que se discute pouco Educação Física, se divide pouco conhecimento e que recentemente tem tido um problema grave na formação de novos profissionais. Fica o convite para você participar e acompanhar nosso novo site. Digo nosso, pois será meu, seu e de todos interessados em colaborar.

Em breve..

Por enquanto, vamos lembrando que o dia do professor de educação física é todo dia em que uma aula se inicia e que em suas mãos está a responsabilidade de mostrar que a formação se dá muito além dos livros, das práticas e dos jogos.

Abraço a todos!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Muito além de um filme.

Tenho criado o compromisso aqui neste blog de quando puder, falar de assuntos e mostrar situações que não são favoráveis ao esporte, à educação, à formação esportiva de qualidade e tudo que possa estar atualmente distorcido sendo tratado como normal. E ontem me deparei com um filme que fala muito sobre isso. Fui presenteado ontem por um colega com um filme. Ia salvá-lo pra ver outro dia, pois já era tarde. Resolvi então só ver os primeiros minutos pra ter uma ideia e não consegui parar. O filme tratava de uma denuncia de uma cultura absurda que hoje em dia é tratada como natural em nosso País. 

O filme trata sobre o consumo de alimentos não saudáveis e como isso tem impactado diretamente as nossas crianças hoje em dia. Mas ao assistir o filme, fica nítido que não se fala apenas de alimentos que hoje em dia são gordurosos demais e que contém açúcar em demasia.

O filme trata da triste realidade de diversos atores que colaboram pra que essa comida seja valorizada. Toca no assunto da educação física que inexiste para educar o aluno hoje em dia. A educação física que apenas é um componente curricular para passar tempo nas escolas e aliviá-lo entre um horário e outro de estudo. Onde as crianças são analfabetas motoras e a brincadeira, o jogo, o esporte, são práticas cansativas nos dias de hoje. O filme mostra a incapacidade que os pais têm de conversar com seus filhos ou de não realizar seus desejos a todo momento. Fala da correria que a vida impõe a esses pais e como eles perdem a capacidade de acompanhar a educação e formação de seus filhos. O filme fala da relação absurda que a tv tem com as crianças. Nos dias de hoje os pais se confortam em ter uma tv por perto para a criança ficar "quieta" e não dar muito trabalho, já que o dia tem sido corrido e cansativo. E essa mesma tv que "acalma" e entrete a criança, é responsável por incutir valores distorcidos da realidade e formam pequenos consumidores cegos a um estilo de vida mais saudável. 

O que se vê nesse filme dificilmente está na tv, não passa nas propagandas, e raramente se vê de forma tão enfática nos telejornais. Ao ver o filme, sente-se uma tristeza por descobrir que cada um de nós é um pouco do que se mostra ali. É um reprodutor de uma cultura que pela primeira vez depois de muito tempo está criando uma geração de crianças com menor expectativa de vida do que a nossa. 

O nome "Muito além do peso" para o filme é realmente perfeito, pois mostra que chegamos a esta condição por muitos fatores. Por abrir mão das decisões em nossas vidas e entregá-las aos publicitários e suas propagandas que reforçam estilos, modas, marcas e costumes, e por nos tornarmos consumidores acríticos e sem limites.

Tire um tempinho do seu dia e assista com sua família. Desligue a tv, deixe de assistir um dia a novela ou o big brother, junte as pessoas na sua casa e assista. Vale a pena parar e refletir sobre o estilo de vida que estamos seguindo e questionar um pouco sobre o que estamos recebendo de informação da tv.

Aproveite o filme:


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Qual é a sua grandeza?

Abro o ano de 2013 aqui no blog, dividindo com vocês uma propaganda da Nike, que considero provocativa. Na verdade sou suspeito pra falar, pois costumo gostar bastante dessas propagandas de internet produzidas pela Nike. Gosto das imagens que eles selecionam e principalmente dos textos que são colocados sempre com uma boa narrativa.

Nesta propaganda, o narrador questiona a ideia de que nascemos com dom. A ideia de que nascemos prontos com nossos talentos e acreditamos que somos especiais. Ele brinca com a própria ideia de uma expressão muito usada por aqui de que "Deus é Brasileiro". E vai além: Diz que pensar dessa forma, que somos especiais, que estamos prontos é que nos acomoda, que nos faz ficar onde estamos e quem sabe sabote a nossa capacidade de crescer, evoluir, desafiar-se entre tantas outras possibilidades.

Ao invés de eu ficar aqui falando sobre o que acho da propaganda, melhor é dividir com vocês, não?

Segue o comercial:


Pois bem, tentando ficar alheio às intenções mercadológicas da propaganda, tentando extrair do vídeo o que há de bom para se refletir e após assistir algumas vezes essa propaganda, pensei em diversas questões que vivo ao trabalhar com esporte. É muito comum ao se tratar da prática esportiva, criar um maniqueísmo onde só existem dois lados: Sei jogar ou não sirvo para esporte ("E aí, Professor? Ele leva jeito ou não?"). Começo e pensar então em quantos alunos vêm com o discurso de que não sabem jogar ou não levam jeito e com o tempo de treino, resistem a aprender novos movimentos, situações de jogo, mas com o decorrer da prática, aprendizado e do esforço próprio, se transformam em outra pessoa?  

Quando comecei a pensar assim, minha mente foi longe e comecei a pensar realmente sobre as situações e realidades que me afligem ao trabalhar com esporte. Comecei pensando e questionando qual era a grandeza que existia no Brasil ao se falar de esporte e acabei respondendo quanto é a grandeza desse País maltratado por uma cultura diminuta quando se pensa em formação esportiva de qualidade. Na minha cabeça então vieram muitos questionamentos sobre a nossa grandeza:


É difícil pensar em grandeza quando vemos imagens recorrentes assim.
Quantas crianças e jovens não conseguem se desenvolver por falta de oportunidades, de praças esportivas com estrutura, porque na região em que vivem não existe continuidade para a modalidade que pratica e se interessa, ou sequer existe um trabalho de formação por lá? Quantas têm de ajudar no sustento da família desde cedo e têm de abrir mão de se divertir e aprender uma modalidade, para ter de trabalhar desde cedo, interrompendo uma infância e juventude que provavelmente não aparecerá mais?




Quantos professores/técnicos e formadores de equipes de base no Brasil pregam que um atleta não leva jeito, que já tem 15 anos(ainda tem 15 anos) e não aprenderá mais ou não tem "cacoete" para a modalidade, sem se importar com o desenvolvimento amplo, a longo prazo, ou com o próprio desejo do atleta em aprender mais e se tornar melhor? Quantos gostam de trabalhar apenas com o atletas "prontos"?

Quantos atletas deixam de treinar mais ou se desenvolver melhor porque são envolvidos por um discurso de que são talentosos e acabam criando um ambiente acomodador por família, técnicos e amigos, criando a imagem de que já são craques, já brilham e que agora podem curtir privilégios e o status de "estrela"? Como se os atletas bem sucedidos tivessem um momento em que parassem de treinar e se dedicarem ao esporte que praticam e de forma mágica continuassem no mais alto nível. 

Quantas escolas no Brasil têm uma Educação Física de qualidade, onde se explora o desenvolvimento motor, aliado às construções pessoais, afetivas, sociais e que ainda conseguem trabalhar o esporte como conteúdo, mas que consegue ir além, tratando das mais diversas possibilidades da área, legitimando o trabalho de Educação Física como uma disciplina formadora para a vida, desenvolvendo saúde, bem estar,  boa formação motora, auto-conhecimento e senso crítico? (Tema para futuros posts)

Quantos técnicos ditos de alto rendimento pedem para seus atletas talentosos ainda na base largarem a escola para fazer supletivo, pois no Brasil, se quiser ser um jogador de alto nível, não há tempo para estudar e é preciso treinar mais que os outros? (Acredite, existe muito isso! Infelizmente.) 

Quantos esportes são diminuídos em sua importância, pois somos o País do futebol? Esportes como o Handebol, que é um dos mais praticados nas escolas do Brasil, que teve sua melhor participação da história nas Olimpíadas de Londres 2012 com o Handebol Feminino e que ao perder para a Noruega (Que no fim das contas foi a campeã) foi tratada por meios de comunicação como "amarelonas", por ter perdido de virada nos minutos finais, como se o esporte não pudesse ter revés quando o derrotado somos nós?

Alexandra recebe a premiação de melhor jogadora de handebol do mundo.
Quantas Alê's (Ainda falando de Handebol, a brasileira Alexandra Nascimento foi considerada a melhor jogadora do mundo da modalidade agora em janeiro. Você ouviu falar disso nos noticiários? E se fosse o Neymar?) espalhadas pelo Brasil não terão a sua chance de se desenvolverem, pois nem sempre há um ginásio "remendado"e mal tratado com um professor abnegado tentando ajudar para dar oportunidades a estas atletas?


Quanto tempo esperaremos pelos próximos campeões solitários? Quantos Gugas, Diegos e Danieles (Hypolito), Arthurs (Zanetti), Daianes, Natálias (Falavigna), Sarahs (Menezes) e outros tantos atletas que despontaram mundialmente parecendo mágica, terão de carregar o peso de nossa não grandeza(seria pequenez?) no que diz respeito a formação no esporte?

Quantos que despontarão no esporte representando nosso País e não serão o primeiro ou melhor do mundo, terão um tratamento menor, como se tivessem fracassado em sua trajetória? Quantos sequer aparecerão nesse meio do caminho por falta de apoio já que não disputam o primeiro lugar?

Quantas vezes ainda nos emocionaremos e sentiremos o orgulho de ser Brasileiro ao vermos notícias de atletas indo a pé a treinamentos, treinando descalços por falta de condições, ou tendo no seu professor de Educação Física abnegado a única fonte de renda para treinar e se alimentar, ao invés de nos envergonharmos de sermos um País com tanta injustiça social e sem estrutura assim para formar pessoas para o esporte e para a vida?

Quantos espaços esportivos continuam se deteriorando? Quantas quadras construídas e usadas pra propaganda de políticos estão largadas e viraram espaço de usuários de drogas? Onde os atletas de atletismo do Rio de Janeiro irão treinar após a interdição para demolição do Estádio Célio de Barros, que vai virar estacionamento para a Copa do Mundo (É nossa!!!) 2014?

Quantos atletas foram beneficiados com o legado do Pan 2007 e quantos serão com o legado da Olimpíada 2016? Onde está este legado se os jovens não têm acesso aos centros esportivos, seja por localização, seja por falta de projetos sociais?



Quantos milhões estão sendo destinados ao esporte adulto com o discurso de que o foco no Brasil é estar entre os melhores em 2016 e para isso precisamos alavancar o esporte profissional? Quanto tempo ainda levaremos pra entender que formação esportiva leva tempo e não leva o tempo de um mandato de governo? Quantas gerações ainda serão desperdiçadas no momento em que ainda estamos olhando pra ponta ao invés de focarmos na formação, na educação, na base?


Texto que foi eternizado neste vídeo. Escrito em 2008,  está mais atual do que nunca. 


Quem lê o que escrevo nesse post e não me conhece pode até pensar que desisti do esporte e que não acredito em um futuro melhor. Mas é exatamente ao contrário. Preferi falar de nossa pequenez ao invés da grandeza, pra mostrar o quanto somos fortes mesmo com todas essas situações que as vezes parecem desencorajadoras.

E se temos algum nome mundialmente, se temos bons trabalhos espalhados pelo País (mesmo que muitas vezes "escondido") é porque temos profissionais que não desistem de fazer um bom trabalho, que amam o que fazem e que ainda acumulam energia suficiente para seguir em frente. Assim como temos um povo batalhador, que chega em casa tarde e acorda cedo para se dedicar, trabalhar duro e tentar "ser alguém", apesar de muitas vezes as situações e os "ventos" não estarem muito a favor. É por isso que ainda temos grandes nomes e grandes talentos. Porque somos grandes, porque nossa grandeza está dentro de nós, mas não está (infelizmente) ainda em nossa estrutura, em quem pensa o esporte no Brasil, em boa parte dos nossos gestores.

Me incomodo bastante com a forma "florida" que muitas vezes falamos do esporte no Brasil como se tudo estivesse bem. E este desabafo, proporcionado por um simples vídeo de um minuto de duração deverá ser a tônica do blog neste ano. Quero postar mostrando que temos falhas, que precisamos melhorar, e claro, sugerindo propostas de mudanças. Pensar em formação de qualidade não envolve apenas esporte, envolve economia, repasse de verbas a quem e onde precisa, projetos esportivos associados a urbanos e vinculados a projetos de saúde, um bom entendimento do que é formar bem por parte da mídia, plano de formação de bons professores com bons currículos e não currículos enxutos que formam com rapidez futuros professores sem base. Enfim, é muito mais do que aparece apenas nos noticiários esportivos da hora do almoço.

Nossa grandeza precisa aparecer em várias frentes, pois senão seremos pequenos com dimensão geográfica enorme e com discurso distorcido da realidade. Entre o que aparece na tv e o que acontece no dia a dia há um abismo enorme.

A grandeza de muitos atletas fez com que eles superassem muitas adversidades que acontecem com quem tenta ser atleta profissional no Brasil e nos encheu de orgulho nos representando ao longo dos anos em diversos esportes. Mas muitos mesmo tendo essa grandeza dentro de si, não conseguiram superar muitos dos obstáculos aqui citados e sucumbiram no meio do caminho, tornando-se "pessoas comuns", seguindo suas vidas sem a chance de tentar realizar seus sonhos. Esses não aparecem nas estatísticas, estão escondidos no meio de tantos outros brasileiros e essa é a prova de que não basta grandeza interior para desenvolver-se. É necessário estrutura, apoio e formação de qualidade. Ainda nos falta esses três pilares para sermos grandes.

Que 2013 possa ser um ano de crescimento para todos nós em busca de sermos maiores em diversos quesitos, principalmente no que diz ao nosso interior, à nossa base e não apenas da boca pra fora.

Abraço a todos!