sábado, 18 de dezembro de 2010

O técnico e seus valores

Dividindo com vocês mais um artigo do Professor Ronaldo Pacheco que foi escrito nesta semana.

Aproveitem!

*                                                                               *                                                                               *




TÉCNICOS FORMADORES E “TREINADORES”

Sei que em todos os assuntos que abordamos é muito difícil generalizar, mas me arriscarei a emitir minha opinião, já me desculpando e convidando para o debate os que dela discordarem.

No mundo sempre existiu dois tipos de pessoas: as que nasceram para fazer, construir, formar e outras que usufruem do que está pronto. No campo da educação, formação de pessoas e também na formação esportiva, esta divisão existe e a cada dia se torna mais evidente tornando estes dois lados mais distantes entre si no que diz respeito a sua visão de mundo.

Gostaria de abordar neste texto a questão dos técnicos formadores e dos técnicos que dirigem as equipes profissionais principalmente no basquetebol que é o esporte que possuo vivências mais próximas.

Não há dúvida que muitos dos técnicos que atuam nas equipes adultas iniciaram suas carreiras nas categorias de base formando atletas. No entanto ao alcançarem a categoria principal, parecem que esquecem seu passado de formador e acham que seu papel é apenas estar presente nos treinos, dirigir taticamente a equipe, fazer substituições e lidar amistosamente com a mídia. Quanto à formação de jogadores, esquecem-se que o trabalho com o jogador nunca está acabado, nunca é completo, pois todos sempre têm o que aprender, o que aperfeiçoar.

Quando percebem alguma falha técnica em algum atleta percebem que é mais fácil dispensá-lo e contratar novos atletas, ainda mais quando sua equipe dispõe de recursos financeiros para atrair jogadores reconhecidos. Este comportamento resulta em uma falta de evolução, e a estabilização de um nível de basquete que tem se mostrado insuficiente para os padrões internacionais.


Já o técnico formador se preocupa em passar os princípios do jogo não só nos aspectos técnicos do mesmo, mas uma formação integral do esporte, onde as dimensões cognitivas, afetivas e sociais são trabalhadas em conjunto. Não basta formar um atleta que execute bem os fundamentos, mas que não consegue ler o jogo, não sabe ser parte de um grupo, que se vê mais importante que a equipe ou que desrespeite os adversários e o próprio esporte que pratica. Talvez seja esse um dos problemas para que os técnicos de formação cheguem às equipes adultas, nesta categoria na maioria dos casos os fins justificam os meios e os resultados dos jogos sendo positivos tudo o mais passa a ser o de menos. Um técnico realmente formador não se ilude com resultados imediatos nem com a vitória momentânea.

Para piorar a situação vemos que os técnicos de formação, são muito mal remunerados (quando o são), trabalham em situações precárias e sobrevivem pelo ideal educativo. Muitos montam escolinhas esportivas onde passam a viver das mensalidades dos alunos, inviabilizando muitas vezes que garotos de talento, mas de baixo poder aquisitivo possam praticar o esporte que desejam.

Esta perversa lógica mostra que os que atuam na formação pouco recebem enquanto que os que trabalham na categoria adulta recebem bastante (dentro dos padrões nacionais). É a lógica de valorizar o que está pronto, sem atentar para a formação, para a nascente, sem perceber que a mina está secando, que existem mais compradores de ouro do que “garimpeiros” e que a “galinha dos ovos de ouro” está morrendo.


Estes técnicos de categoria principal que passam a ser em muitos casos apenas administradores dos egos inflados dos jogadores, são envolvidos pela admiração da mídia e acabam descuidando-se de controlar seus próprios egos. Mas nem tudo é alegria, porque estes mesmos técnicos são obrigados a se sujeitar as vaidades dos diretores e presidentes (de clubes, federações e confederações) que tem o poder de demitir e contratar de acordo com suas convicções baseadas muitas vezes em indicações políticas e de amigos. 



Alguns técnicos de categoria adulta, mais antenados com essa realidade que pouco valoriza a formação e enaltece a ponta da pirâmide, discursam enaltecendo o trabalho dos técnicos das categorias de base e da importância de um trabalho bem feito (mesmo sendo um discurso da boca para fora e com total ojeriza a eles próprios executarem). Outros ainda mais “autistas” e/ou “egocêntricos” desqualificam o trabalho de base culpando-o pelo fracasso do basquete brasileiro. Estes mesmos que apontam o dedo para a ferida aberta não disponibilizam sua “competência” para atuar nesta área realizando o “curativo” tão necessário para sarar este esporte desse mal que nos aflige há décadas.

O dilema está colocado: qual deve ser a ambição dos técnicos? Serem formadores enfrentando as inúmeras dificuldades na carreira ou tentarem alcançar o “estrelato” (???) dirigindo categorias adultas? Será um a sequência natural do outro? Será que educação integral e excelência são tão conflitantes?
No meu modo de ver, a diferença principal é que os técnicos do adulto passam pela carreira dos atletas deixando suas histórias gravadas nas páginas de jornal e nos vídeos televisivos. Os de base deixam sua história impregnada na vida e na conduta das pessoas.

Às vezes a diferença é entre valores e valores ($$$).


Ronaldo Pacheco

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O esporte e sua imprevisibilidade

Uma das coisas que mais me fascina no esporte é o aprendizado diário que se tem com treinos e jogos. Perceber a sua evolução como praticante de alguma modalidade ou superar-se dentro de uma partida ou prova, mostra que estamos a todo momento tendo a chance de provar a nós mesmos que podemos ser melhores.

Mas aqueles que não estão muito em contato com a prática esportiva normalmente tendem a achar que qualquer jogo é um jogo onde existe uma equipe favorita e esta, dita o ritmo do jogo ou da prova e tudo termina com a vitória do melhor. E as vezes mesmo vencendo, o time que sai de quadra derrotado pode por muitas vezes ter vencido o adversário em diversos aspectos ou se superado a ponto de enxergar no resultado uma grande evolução.

Acima de todas estas possíveis situações, venho aqui mesmo para postar um vídeo que vi recentemente. No primeiro instante após assisti-lo já imaginei ele sendo postado aqui no blog. Tentei fazer uma tradução que tenha a linguagem que acredito ser interessante e pra isso contei com a ajuda de um amigo e um site de tradução simultânea pra alavancar o meu pobre inglês.

O comercial fala do que todos esperam que aconteçam em um jogo e do que, só quem está em quadra ou dentro da competição, é que pode dizer o que é sentir o desafio bem na sua frente. A busca da vitória é compartilhada com a possibilidade e o desafio de superar o adversário e a si próprio.

Fica aí o vídeo que considero bem inspirador.

Abraço à todos


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Uma viagem e muitos aprendizados - Parte II

Passaram-se cinco finais de semana para eu conseguir escrever a segunda parte deste post. Mas enfim, saiu!

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O que mais me chama a atenção em viagens de competição quando acontecem é a possibilidade de você conhecer melhor cada atleta e de poder intervir de forma mais incisiva no que diz respeito à trabalho de equipe.


Não tem como escapar, você convive diariamente com cada atleta em sua totalidade. Acorda, treina, almoça, joga, janta e dorme no mesmo ambiente. De alguma forma, as viagens servem também pra você tentar entender melhor o que pensa de cada um e de que forma pode influenciar melhor cada atleta seu. Eu pelo menos penso muito nisso. Muitas vezes fazemos um perfil de nosso atleta no horário de treino e esquecemos que o treino é apenas um "recorte" do dia daquela pessoa. Em cada treino, cada um carrega consigo os problemas diários, as dúvidas fora dali e por mais que tentemos fazer com que ele naquele exato momento concentre-se apenas no treinamento, de alguma forma devemos perceber também que eles são influenciados pela rotina que vivem e o estilo de vida que têm.



E viajar para competir tem essa característica especial. Por um breve momento enquanto viaja e compete, você pode tentar extrair do atleta o máximo de entrega àquele momento e assim acaba tendo a chance de colocá-lo numa oportunidade de evoluir mais ainda. Individualmente e em grupo.


Foi assim que viajei para Belo Horizonte, em busca de conseguirmos um bom resultado, visto que temos uma equipe extremamente competitiva em nível nacional, mas também em busca de conhecer melhor cada atleta e tentar evoluir como técnico. Nesta busca de evolução de todos, vemos como o intercâmbio é essencial. Só o fato de poder enfrentar técnicos que conheço de longe, admiro e outros que passei a conhecer na própria competição já me fazia testar tudo que eu acredito que poderia fazer ali naquele torneio. De alguma maneira enquanto enfrenta e assiste jogos de outras equipes que não está acostumado a ver muito, você acaba assimilando e pensando sobre outras formas de jogar e essa possibilidade de repensar seu trabalho e como joga a sua equipe faz muito bem ao trabalho.


Profissionais que admiro e que tive o prazer de enfrentar.

Quanto a trabalhar com um grupo jovem assim é uma experiência pra mim sempre renovadora. De alguma forma ser professor te dá algumas vivências que considero especiais. Por mais que já tenha vivido a minha adolescência e acredito que tenha vivido tudo muito bem, quando se é professor você tem a chance de reviver, ou pelo menos tentar entender, o que se passa com pessoas de uma idade que considera já ter tido esta experiência muito bem vivida. E estar com os meninos de idades entre 17 e 19 anos acaba me fazendo bem. Por um lado resgato tudo o que vivi nesta época. Por vezes recordava de minhas viagens com equipe sendo juvenil e muitas destas lembranças viraram histórias para eles. Por outro lado, você tem a chance, por já ter passado por algo parecido, de mostrar um caminho e direcioná-los a um melhor aproveitamento de tudo. E toda essa mistura de nostalgia com realidade, leva a um trabalho prazeroso de experimentar apesar de considerar extremamente cansativo.



E assim foi nossa viagem, entre os jogos, a percepção de quem ganhou confiança e de quem precisa ainda se soltar . Os altos e baixos de uma competição, as conversas no vestiário antes e após o jogo e as histórias que você acaba construindo com eles durante este tempo fora de casa. Dentro de quadra conseguimos juntos, com muita conversa e dedicação, evoluirmos comparado a quando chegamos à competição e tivemos a chance de enfrentar na final a grande equipe do Minas Tênis Clube. Além dos profissionais que respeito muito que lá trabalham, admirava também muitos atletas que a esta equipe pertenciam. Dois meses antes da competição estava em Brasília trabalhando de guia da Seleção Brasileira acompanhando os treinos e jogos de Raulzinho. Agora, estava tendo a chance de tentar pará-lo dentro de quadra com os meninos da nossa equipe. Além de Raulzinho, tivemos de tentar parar outros jogadores que acompanho de longe em competições nacionais de base e que vi o tanto que evoluíram. No jogo em si, fizemos uma final brilhante, com uma entrega incrível dos meninos aos que combinamos antes da partida e tivemos bons momentos à frente da equipe do Minas. Na reta final da partida com alguns lances decisivos, deixamos escapar o placar apertado e eles abriram 9 pontos. Diferença que acabou nos desestruturando um pouco nos minutos finais e que nos fez perder aquela partida por 7 pontos de diferença.



Ao final do jogo, já tentando pensar em tudo que vivemos naquela semana de competição, agradeci aos meninos por toda a entrega e pelo tanto que me ensinaram sobre grupo e sobre basquete naqueles dias. De alguma forma questionei eles até que ponto o fato de eu valorizar muito a equipe adversária e a qualidade deles, fez da nossa equipe satisfeita por apenas fazer "jogo duro" com o adversário. Já era um desafio que eu precisaria melhor no meu trabalho. Saí do jogo com a certeza de que éramos um grupo tão bom quanto eles e com plenas capacidade de vencê-los. Mas este desafio já era pra ser trabalhado para uma próxima oportunidade. Quando volto de competições assim e vejo garotos que sonham jogar basquete se entregando a um objetivo em comum e tentando evoluir, me empolgo com a chance de trabalhar cada vez mais com basquete mas ao mesmo tempo e pelas experiências já vividas acabo tentando conter minha empolgação, pois estes meninos por mais talentosos que sejam, ficam limitados a uma realidade Brasileira. Por que digo isto?

Porque este evento não tinha ninguém da CBB presente, é um torneio criado pelo Minas Tênis Clube, onde cada equipe convidada contribui com uma taxa simbólica de inscrição e por cinco dias, jogam 7 jogos com alguns dias tendo de fazer dois jogos por dia.


Esse tipo de torneio é bem comum em nosso País. Um clube ou uma sede, custeia boa parte da competição e convida as outras equipes de fora para participarem, com cada equipe custeando além da inscrição, algum custo como hospedagem ou alimentação para que não fique tão apertado para todos. Apesar da iniciativa destes diversos clubes espalhados pelo Brasil ser belíssima, eventos como este são a "foto 3x4" da situação do Basquete do nosso País. É muito normal ouvir nos congressos técnicos destes eventos, dirigentes e técnicos dizendo que fazem isso porque não podem esperar por uma iniciativa da Confederação Brasileira de Basquete. 

Infelizmente, esta é uma triste realidade.

Temos uma geração belíssima sub-20 no Brasil e penso que a liga nacional que está sendo prometida para o ano que vem para esta idade, pode sim revolucionar o Basquetebol Brasileiro a médio e longo prazo. É preciso fazer algo por tantos meninos que fazem, lutam e se entregam pelo esporte que tanto amam como nós. Antes que eles desistam por não verem retorno algum.

Por fim, é impressionante como 5 dias fora da cidade podem influenciar tantas pessoas a serem melhores e a aprender cada vez mais.

Abraço à todos.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma viagem e muitos aprendizados - Parte I

Pela primeira vez neste blog vou fazer um post dividido em duas etapas. Como gosto de detalhar muito as experiências que vivo, quero não ficar me cobrando por estar escrevendo muito e deixar solto minhas impressões sobre essa recente experiência que vivi.
Bom... vamos lá!


Já fazem quase 3 meses que resolvi arriscar na minha vida. Trabalho hoje em dia na equipe de Basquete do Botafogo-DF como assistente técnico do meu amigo Professor Ronaldo Pacheco e junto de outro amigo e também assistente Michael Swioklo. Para tomar a decisão de ir trabalhar com esta equipe precisei tomar uma decisão de largar um trabalho meu numa escola que marcou muito a minha vida, mas isto é história para um outro post.

Pois bem, o nosso grupo é basicamente formado por atletas sub-19 (Com a maioria tendo entre 17 e 18 anos). Temos também alguns Sub-20 e apenas dois atletas na casa entre 20 e 30 anos. Formando um grupo de 24 atletas. Todos treinam juntos e disputamos tanto campeonato juvenil como adulto com a mesma base. A ideia nossa neste trabalho é ir galgando etapas no circuito inicialmente Brasiliense, para depois disputarmos a Taça Centro-Oeste, visando buscar a única vaga Centro-Oeste na Copa Brasil e aí sim, tentar conseguir uma vaga para o NBB.
Equipe do Botafogo-DF disputando o Campeonato Juvenil de Brasília


Quando me decidi largar meus outros trabalhos para me tornar parte deste, três coisas pesaram a favor dessa decisão. Inicialmente o projeto de chegarmos em nível nacional com atletas da cidade, coisa que não acontece com nosso representante nacional atualmente. Em segundo lugar porque temos uma geração de 17 à 20 anos em brasília maravilhosa, fruto de bons trabalhos de técnicos na cidade e isto me estimula porque faz com que eu tenha de reformular e potencializar meus estudos sobre basquete. Em terceiro e por fim o que me motivou também foi a chance de trabalhar com uma comissão técnica diferenciada. Ronaldo é um nome de expoente nacional que não precisa nem explicar e que trabalhei junto em 2004. Michael, com quem já trabalhei há dois anos atrás, é um fenômeno, é um técnico apaixonado pelo constante estudo dos aprendizados táticos e técnicos e busca incessantemente as novas tendências em basquete. Só eu sei o quanto esse cara tem me colocado pra estudar e desafiado meus conhecimentos.

Nessa trajetória toda tínhamos um desafio dentro desta primeira fase de campeonatos da cidade. Havíamos sido convidados para participarmos da VI Copa Minas Tênis de Basquete em Belo Horizonte na categoria sub-19. Esta Copa era uma possibilidade bem interessante de colocarmos à prova o trabalho que vínhamos desenvolvendo com estes meninos. Pela combinação de nossas agendas, Ronaldo e Michael não poderiam viajar na época em que seria realizada a Copa e aí vi que este teste também seria direcionado em grande escala para a minha pessoa.

                                   


Neste torneio teríamos as equipes do Ginástico (MG), Cetaf (ES), Flamengo e Fluminense (RJ) e o Minas Tênis Clube, uma equipe que conta com bons valores na categoria como Cauê Borges, recém vindo de Franca, Bruno Irigoyen, que foi seleção Brasileira sub-18 neste ano e Raulzinho, o nome mais citado entre nós durante nossos treinos e que hoje em dia não precisa mais de apresentações.

Cristiano, Cauê, Bruno e Raulzinho
Atletas Juvenis do Minas e da Seleção Brasileira de base


Só a presença destas equipes participantes já nos motivaram bastante em nossa preparação para esta viagem. Para mim, seria um momento importante de me aproximar mais dos atletas com os quais convivo diariamente nos treinos e também de me relacionar e conhecer melhor outros técnicos que admiro no cenário do basquete nacional. Estava diante de um desafio muito bom de ser vivido.

Neste final de semana conto aqui como foi a nossa experiência nesta competição.

Abraço à todos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um esporte completo exige um suporte completo.


Hortência foi responsável por esta declaração após o Mundial Feminino de Basquete
"Várias vezes ligamos para a psicóloga no Brasil para ver o que poderíamos fazer. Elas lidaram muito mal com a derrota, o técnico se perdeu. Quando começaram a engrenar, já era tarde. Um dia, eu fiquei às 3h da manhã procurando música para um vídeo motivacional que ia passar para as meninas. Não acho que tem necessidade de levar um profissional de psicologia e vou continuar não levando"



Ontem recebi uma mensagem de email de minha amiga Mariana. Mais uma pessoa com quem fiz amizade nas quadras. No trabalho diário. Mariana mostrava-se inconformada com a declaração de Hortência sobre o mundial de basquete feminino, onde afirmava que a equipe mostrava-se desestruturada emocionalmente, mas que mesmo assim manteria o trabalho nas comissões técnicas  sem um psicólogo presente. Enfim, isso gerou revolta não só na Mariana, como em outros sites de basquete que andei lendo hoje cedo.

É complicado entender que na ponta do Esporte Brasileiro, numa Confederação de um esporte que consideramos belo e complexo, não se pense em agregar informações e uma equipe multifuncional que possa trabalhar os mais diversos valores para o melhor rendimento da equipe. Mesmo achando que o problema gritante do Basquete Brasileiro Feminino é de ordem técnica, de formação de base e de campeonatos sucateados, a declaração de Hortência mostra que se nem a Confederação Brasileira de Basquete tem um olhar a longo prazo para as diversas dimensões do esporte, onde será que teremos no esporte Brasileiro, que em sua base vive um amadorismo sem fim com professores abnegados que sustentam trabalhos sozinhos e com estruturas precárias que limitam o aprendizado da modalidade pelo País à fora, um trabalho que preze pela qualidade da informação passada aos seus atletas?

Neste momento posso dizer que sou um privilegiado. Tive a possibilidade de conhecer esta mesma Mariana numa situação assim. Mariana é psicóloga e no ano passado teve a chance de fazer um trabalho de acompanhamento psicológico de uma equipe de basquete juvenil de Brasília comandada pelo professor Ronaldo Pacheco. Mariana queria testar seus estudos, colocar em prática suas ideias e supervisionava um grupo de psicólogos que acompanhavam a equipe. Mais a frente, tive a chance de conhecê-la melhor  fazendo um trabalho parecido na seleção sub 17 do Distrito Federal e pude neste ano que passou, aprender bastante sobre o trabalho que um psicólogo desportivo pode acrescentar à uma comissão técnica e à atletas tanto em formação quanto adultos. Digo isso porque após este trabalho, Mariana passou a acompanhar dois atletas de Brasília que disputavam o NBB e que de alguma forma também puderam crescer profissionalmente com o respaldo de uma profissional que acrescentava na sua formação esportiva. 

Assim que recebi o email da Mari, um pouco ainda indignada com a declaração de Hortência, lancei um desafio a ela e perguntei se não gostaria de escrever um pouco sobre essa triste realidade Brasileira que não valoriza áreas complementares na formação esportiva. 
Transcrevo aqui a resposta quase que imediata dela:


"Missão dada é missão cumprida!!!
Jamais me esquivaria a um desafio seu!!!"


Segue então o relato dela sobre o episódio.



"A primeira vez que entrei em uma quadra de basquete sem a obrigação de jogar, foi 13 anos após o fim da minha curtíssima carreira. Entrei para “trocar idéia” com um técnico de basquete após indicação de uma amiga; segundo ela, ele dava total apoio à Psicologia do Esporte. Fui preparada apenas para um papo, mas ele me convidou para sentar no banco... era dia de jogo!!! Assim o fiz, e comemorei silenciosamente. 
Desde então comecei a frequentar os treinos e os jogos, de olho em tudo... em todos os mínimos olhares e movimentos dos atletas, percebendo o nervosismo daqueles que se diziam “calmos” durante a partida enquanto eles seguravam um copo d’água durante o tempo técnico. Com ajuda deste técnico, consegui supervisionar in loco cinco estagiários, que exerceram papel de psicólogos ativos do esporte; auxiliando o técnico, coletando dados, fazendo scout...


Mariana fazendo parte da comissão técnica também durante os jogos.

Devo isso e muito mais ao Ronaldo Pacheco, que pouco depois me convidou a integrar a Comissão Técnica da Seleção sub – 17 de Basquetebol Masculino do Distrito Federal, juntamente com Rodrigo “Galego” e Michael.
Batalhei, fiz um pouco meu nome em Brasília e parei em um time dito “de ponta”, considerado o maior do basquete nacional atualmente. Trabalhei com apenas dois atletas, sempre com algumas dificuldades, mal acostumada pelo Ronaldo, afirmava que meu lugar era no banco, nunca fui ouvida; respeitada em silêncio pelos dois atletas que eram acompanhados por mim, bem relacionada com todos que ao serem campeões do NBB me disseram que eu também era parte daquele título. Agradeci mas me esquivei dessa atribuição por saber que não contribuí 100% para todo o time.
Hoje, ao ler as declarações de Hortência proferidas no programa Arena SporTV, percebi que o retrocesso chegou ao esporte que aparentemente mais abria as portas para a integração de um psicólogo nas Comissões Técnicas. 

Fiquei sentindo como se eu tivesse pego o caminho contrário, passei por um estrada maravilhosa; asfalto liso onde eu podia acelerar, mais a frente peguei uma estrada sinuosa e com buracos; mas eu podia me manter nela, e de repente a estrada acabou, não havia mais caminho para seguir ou curva para dobrar... o jeito era me achar no meio da confusão. O contrário para mim faz mais sentido.

Cada dia percebo como o psicólogo do esporte é facilmente substituído por um dinheiro a mais diante de uma vitória, por uma palestra motivacional com duração de uma hora com qualquer profissional da psicologia organizacional ou até por massagem no lóbulo da orelha diante da ansiedade pré competitiva...
Todo dia me pergunto quando poderei seguir naquela estrada maravilhosa novamente... quando poderei sentar no banco com o uniforme da Comissão Técnica como meus outros colegas? Quando serei compreendida como profissional e perceberão a integração entra tático, técnico, físico e psicológico? Quando poderei propor uma metodologia de trabalho em longo prazo (e não aparecer uma vez por semana, por 1 hora e sem a menor possibilidade de formar vínculo com os atletas), sem acharem que sou guru, mágica ou curandeira?
Voltando a declaração da Hortência, ela me assustou tanto pelo amadorismo quanto pelo momento; justamente na mesma semana em que o presidente do COB, Sr. Carlos Artur Nuzman, declarou que o Brasil pode ficar fora das Olimpíadas de 2016, que serão realizadas... aqui, por falta de estrutura.


Lamento por esse tipo de pensamento sobre o acompanhamento psicológico ser propagado por uma das figuras mais conhecidas do basquete nacional e mundial, destoando totalmente da realidade e da aceitação do esporte, ao menos eu já vivi dias melhores mesmo passando o rodo com pano para limpar a quadra, pegando água, carregando bola, buscando uniforme... na hora em que eu falava, todos me ouviam; o que muitos deles faziam com a informação eu não posso dizer, porém eu tinha liberdade para me expressar e defender indiretamente minha área, essa declaração é típica de quem não conhece o real trabalho de um psicólogo em quadra, pois ficar até às 3 da manhã procurando uma música para um vídeo motivacional para passar para as atletas durante o Mundial na República Tcheca, sem domínio e conhecimento do conceito de motivação e da real função de um vídeo motivacional; é no mínimo perder tempo, pois a psicologia do esporte já está bem além disso.

É preciso bom senso dos dirigentes e de todos que mandam e desmandam no cenário esportivo nacional, diretrizes precisam ser apontadas e a integração do psicólogo é urgente; a formação de vínculo com os atletas, a aplicação de testes e questionários, as entrevistas e sessões individuais são algumas das funções do psicólogo que precisam ser aceitas e respeitadas.

Para Hortência, gostaria de deixar apenas um recado: o lugar do psicólogo é no banco junto com a Comissão Técnica e não do outro lado da linha."




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Técnico de Basquetebol: Vocação, preparação ou experiência?

Aproveitando a correria dos dias para atualizar com mais uma coluna interessante do Professor Ronaldo Pacheco


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Durante muito tempo tivemos ex-jogadores comandando escolinhas esportivas ou equipes de alto nível, baseando seu trabalho em suas experiências anteriores, sem buscar informações atualizadas sobre psicologia, administração esportiva ou desenvolvimento humano. Quando muito, se atualizavam em cursos técnicos ou oficinas de basquetebol que tratavam muito da técnica do jogo, alguma coisa da tática, e quase nada sobre os temas acima mencionados. Hoje já começamos a notar uma melhor seleção na escolha de técnicos com formação em educação física, que procuram se atualizar a partir da leitura de livros e trabalhos internacionais nas diversas áreas que envolvem o treinamento esportivo.

É lógico que ter conhecimento da parte teórica do jogo não assegurará sucesso na carreira de técnico, no entanto o embasamento teórico é um suporte fundamental que será melhor desenvolvido a partir da experiência prática do jogo, da análise dos seus erros e acertos e principalmente na humildade para ouvir e assimilar críticas construtivas.



Um técnico é o responsável por todo o funcionamento de uma equipe e, quando me refiro a “funcionamento” estou me referindo ao tratamento da complexa engrenagem de um grupo social que se propõe a atuar em conjunto, em prol de um objetivo comum. Esta “máquina humana” para conquistar seus objetivos deve estar ajustada nos seus relacionamentos (estar coesa); deve estar disposta a um sacrifício coletivo a partir do sacrifício individual (cada um contribuir da melhor forma no desempenho do seu papel para o sucesso da equipe); deve ter um conhecimento do jogo nos seus aspectos táticos e um bom desenvolvimento dos fundamentos técnicos para que possam ser devidamente utilizados dentro da tática. Estas diversas tarefas são complementares e necessitam de um planejamento e acompanhamento incessante por parte do técnico. Não se pode admitir que o tratamento que um técnico dê a estes aspectos seja feito de forma empírica. Por isso a necessidade de estudos, planejamentos e aprofundadas análises críticas do seu desempenho.


A partir de estudos e das observações proporcionadas por estes anos na prática do basquetebol, me vi muitas vezes adotando posturas que me fizeram refletir sobre os diversos tipos de conduta dos técnicos ao lidar com sua equipe:
  • Técnico Torcedor: Confunde a paixão pelo clube ou pelo esporte com a sua função. Tem atitudes completamente passionais. Exclui do grupo os que não estão dando resultados imediatos. Quer a vitória incessantemente, sem fazer uma análise racional das condições de trabalho, da própria equipe e do nível da competição. No banco, grita , xinga, torce e dá poucas instruções úteis à equipe. Perde a cabeça com o juiz cada vez que o mesmo comete qualquer erro. *
  • Técnico Exibicionista: Considera-se o eixo central da partida. Coloca a culpa nos jogadores sempre que a equipe perde. Suas broncas são sempre em voz alta para que a torcida possa sentir a sua presença e seu pulso firme com a equipe. Quando a equipe está perdendo com grande diferença, fica quieto, mostrando ao público que não faz parte daquele grupo perdedor. Faz pedidos de tempo desnecessários para que notem sua presença no jogo. Fala sempre na primeira pessoa: “minha equipe”, “meus atletas”, em compensação quando as coisas não vão bem diz: “a equipe perdeu”, “eles não mereceram a vitória”, “a equipe não teve garra”, etc. Se isenta da responsabilidade quando o resultado não é favorável.
  • Técnico Autoritário: Todos devem seguir as suas idéias. Não cabe a ninguém da comissão técnica, muito menos aos jogadores discutir suas opiniões, devem cumpri-la; Assume os erros, mas não aceita as críticas.
  • Técnico Bonzinho: Conhece os princípios básicos do jogo, mas nunca entra em confronto com as idéias dos jogadores para não criar problemas para equipe. Prefere abrir mão de algumas convicções de jogo para não ferir o ego e algum atleta que ele julgue muito importante para a equipe. Procura agradar a todos para que seja do agrado de todos também.
  • Técnico Teórico: Estuda o jogo, conhece bem os diversos procedimentos técnicos e táticos, mas tem dificuldade em transmiti-los aos jogadores. Não tem paciência com os erros por achar a execução muito simples; Não consegue lidar com os aspectos emocionais dos jogadores. Na maioria das vezes não consegue entender as situações de fracasso já que fez tudo de “acordo com o manual”.
  • Técnico Democrático/Educador: Aberto ao diálogo com toda a comissão técnica e jogadores. Discute com a equipe suas opiniões. Tenta fazer com que toda a equipe compreenda as opções tanto táticas como técnicas. Preocupa-se com as questões particulares de cada um. Entende os erros, corrige-os e admite suas próprias falhas. Sabe respeitar a individualidade de cada jogador, suas características psicológicas e seus momentos emocionais. Assume as responsabilidades pelas derrotas perante os outros, porém conversa com sua equipe sobre os erros que a originaram tentando corrigi-los. Sabe ouvir as críticas sem levar para o campo pessoal. Sabe chamar a atenção na hora e da forma devida. Faz valer a sua autoridade pela competência demonstrada.
É claro que posso ter “caricaturado” as situações acima expostas, mas creio que nós técnicos, já passamos por algumas dessas fases em diversos momentos de nossa atuação. O importante é que possamos fazer uma análise para que possamos atender as nossas perspectivas em relação a esta profissão.

Ser técnico de uma modalidade tão complexa como o basquetebol exige bastante conhecimento nas diversas áreas ligadas ao jogo e ao relacionamento humano, portanto, respondendo a provocação do título do artigo, creio que para ser um bom técnico de basquetebol é necessário, muito conhecimento teórico (obtido através do estudo incessante), o aproveitamento das experiências vividas (com uma análise criteriosa) e um pouco de vocação. Tudo isso cercado por uma grande dose de paciência, obstinação e sentir a necessidade de estar aprendendo sempre.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Como se tornar um jogador ?


A primeira vez em que fui ler este texto, criei um preconceito enorme por causa do título(é este título que está aí em cima). Mais me parecia com essa moda mundial de livros de autoajuda no qual se tem uma pergunta determinista em destaque que parece que solucionará todos os problemas da sua vida do que com um artigo interessante sobre basquete.

Mas o texto é sim interessante e contribui de alguma forma para a leitura de atletas que querem fazer algo para melhorar o seu basquetebol. Utilizava este texto com algumas equipes de base que já trabalhei e venho aqui dividir este material com vocês. Lembrem-se: Sejam melhores a cada dia.  



Tornando-se um jogador mais completo conseguirás mais minutos de jogo.


Se você quer jogar mais minutos, primeiro deverá se olhar no espelho e perguntar: como posso ajudar minha equipe? Devido ao basquetebol estar cada vez mais voltado aos aspectos físicos, muitos jogadores estão perdendo o enfoque correto e a objetividade de suas próprias habilidades.

Ser objetivo é uma das chaves que permitem a eles amadurecerem como jogador. Os atletas que não pensam desta forma deixam de trabalhar os seus fundamentos e habilidades de jogo, aspectos que lhes permitem ficar mais tempo em quadra. Depois, olham para seus companheiros e seu técnico para buscar a causa do pouco que jogam (a culpa é sempre dos outros).






As firulas podem afetar seu crescimento como  jogador.
 
Os melhores jogadores são suficientemente inteligentes e capazes de separar a ficção da realidade. Creio que a televisão e os restantes meios de comunicação tendem a super valorizar o jogo espetacular e o atleticismo dos jogadores atuais, digamos que seja um mal necessário. Não obstante, as firulas podem te cegar. Faz com que a atenção da maioria dos jogadores se distancie de um dos conceitos mais básicos, algo que fará com que jogue mais minutos.

Aumente suas habilidades (fundamentos)

Tudo isto me leva a um ponto crítico, seu técnico quer que você jogue. Não conheço nenhum técnico que não queira dar minutos a um jogador com talento e que principalmente seja capaz de produzir dos dois lados da quadra. Sem dúvida, o técnico recortará minutos daqueles jogadores que somente são capazes de uma coisa só dentro de quadra. Isto significa que deverá ser um bom reboteiro, ou um bom defensor, ou um grande passador. Você poderá jogar mais se for um jogador multidimensional.

Posição de tríplice ameaça
A posição de tríplice ameaça não significa que você deverá jogar só. Os técnicos levam anos falando do trabalho da tríplice ameaça. Esta é naturalmente a posição que te permite arremessar, passar ou driblar à partir de uma recepção ou proteção de bola. Enquanto muitos técnicos dão ênfase à esta posição, os jogadores jovens cometem o erro de não gastar tempo suficiente treinando o passe ou os fundamentos de corte/penetração que lhes permite dispor de uma verdadeira posição de tríplice ameaça.

Hoje em dia vários são os jogadores que levam a bola a esta posição, mas não são capazes de passá-la a um companheiro ou driblar de maneira efetiva quando são pressionados. Como poderemos dizer que a posição é boa se não soubermos executar os fundamentos de arremesso, passe ou corte?




Pratique os pequenos detalhes.

Para chegar a ser um jogador completo terás que praticar/treinar mais tempo que seus companheiros, inclusive nos finais de semana e feriados, enquanto os outros se divertem. Será necessário que treine pelo menos 15 minutos diários os fundamentos: passe, rebote, drible e trabalho defensivo de pés, enquanto os outros provavelmente estarão arremessando. Não estou sugerindo que não treine seu arremesso, estou dizendo que trabalhe mais os outros aspectos do jogo.

Durante mais de vinte anos como técnico, um grande percentual das substituições que realizei durante os jogos foram porque necessitava alguém em quadra capaz de passar melhor, cortar melhor ou defender em um momento determinado. Os jogadores que se mantém o maior tempo em quadra são exatamente aqueles que são multidimensionais, quero dizer, capazes de realizar várias coisas úteis para a equipe, são jogadores que desenvolveram bons fundamentos de passe, capazes de manter a bola e não perde-la contra uma pressão, defender de forma sólida e rebotear de forma consistente independentemente de sua estatura. É seguro que seu técnico poderá trocá-lo por ter errado um arremesso ou ter perdido uma bola contra uma defesa forte, mas será menos provável se você é um jogador multidimensional, inclusive se você cometer um erro.


Treinar e praticar, sua melhor oportunidade de melhorar.

Como você pode se tornar um jogador multidimensional? A resposta é muito fácil: Trabalhe cada conceito básico do jogo exaustivamente, cada fundamento, como se fosse uma oportunidade de conseguir seus objetivos. Você deve   se esforçar em executar cada fundamento ensinado por seu técnico, não de forma correta, mas sim como um verdadeiro MAESTRO. Se você o fizer sem intensidade, deixará de melhorar e isso ao largo dos anos é   cumulativo; logo terá uma idade avançada e não estará  dominando os fundamentos como deveria ter automatizado durante os anos anteriores. Você haverá se tornado um jogador unidimensional. Este tipo de jogador não poderá participar dos minutos de qualidade do jogo.

(Texto traduzido do site Bbhighway.com, de autoria de Allan Lamber)



"I´m not nearly the player that I want to be"
( Eu não estou nem perto de ser o jogador que eu quero ser)



Kevin Durant em entrevista após a conquista do mundial.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quem são os seus ídolos?

Ainda estou perplexo com o que li. Não sei o que comentar em respeito à pessoa e não quero parecer marcação da minha parte. Mas quero apenas trazer a entrevista pra cá e dizer que, se tivesse de escolher entre ficar em 9º lugar tentando criar um trabalho de equipe, errando e descobrindo que ainda teremos um longo caminho pela frente e sermos campeões nos moldes do basquete citado por Oscar, eu preferiria ainda o 9º lugar.
Vale lembrar que na época de Oscar, a melhor posição em mundiais que o Brasil obteve foi o 5º lugar  em 1986 e que nesta época não havia ainda o desmembramento de Ioguslávia e União Soviética.

Enfim, fiquem com a entrevista que precisa ser divulgada para repensarmos quem são os nossos ídolos.


10/09/2010 - 07h00

Oscar, homenageado, critica jogadores da seleção: "falta colhão"

Murilo Garavello
Em Istambul (Turquia)
Oscar Schmidt está na Turquia para ser homenageado no dia da final do Mundial. Maior cestinha da história da competição, será introduzido no Hall da Fama do basquete. Hospedado no melhor hotel de Istambul, está assistindo a todos os jogos na área VIP, ao lado da mulher, Cristina.

MAIOR CESTINHA DOS MUNDIAIS DA FIBA

  • Murilo Garavello/UOL


    Oscar vê partida entre EUA e Rússia com esposa. Ex-atleta será homenageado ao final do Mundial
  • Doug Pensinger/Getty Image


    Durante participação em Atlanta-1996, na última vez que o Brasil esteve nos Jogos Olímpicos
Exibindo o mesmo estilo franco de sempre, Oscar conversou com o UOL Esporte no intervalo do jogo entre EUA e Rússia. E disparou, sem papas na língua, seus pontos de vista sobre vários assuntos, inclusive seleção brasileira. As opiniões dele são contundentes:
Homenagem
“Estou hospedado em um dos melhores hotéis da cidade, senão o melhor. Estão me tratando bem. É uma homenagem da Fiba e, indiretamente, também da CBB. Fui almoçar com meus amigos Paulinho Villas-Boas e Cadum em uma churrascaria e quando fui pagar já estava pago pela CBB”.
“Estou muito feliz. Esse prêmio é muito importante. Briga pau a pau com o dos EUA. Espero que um dia eu ganhe lá também. Quero muito, não vou negar. Mas é bom começar pela minha instituição, a Fiba, pode onde joguei durante tanto tempo”.
Maior cestinha da história dos Mundiais
“Ah, é? Sou cestinha de Mundial, também? Quantos pontos eu fiz? (843, o mais próximo em atividade é Dirk Nowitzki, com 425) Não vai passar nunca!”
Seleção brasileira no Mundial
“Não dá para parabenizar time que ficou em 9º. Só faltava essa. Não vou cair nessa armadilha. Não dá também para criticar, quer dizer, tenho divergências sobre algumas coisas técnicas, mas depois de muitos anos começou a se fazer as coisas certas no brasquete brasileiro. O maior serviço para o basquete brasileiro foi o Carlos Nunes aprovar uma reeleição só. A Liga de clubes existe e eu me sinto honrado porque eu que comecei isso daí. E parece que voltou a vontade de os jogadores defenderem a seleção. Não dá para pedir resultado imediatamente".

O QUE OSCAR FALOU

Não dá para parabenizar time que ficou em 9º. Só faltava essa. 
Sobre o desempenho da seleção no Mundial
Ninguém vai meter uma bola no fim? Falta colhão. O único acostumado a meter bola no fim é o Marcelinho, mas botaram ele para jogar a conta-gotas”.
Sobre a dificuldade da seleção em vencer jogos equilibrados
Jogadores jogam 37 minutos. Homens, jogam os três minutos finais.
Sobre a ausência de um "definidor" no time
O Magnano tá implantando o jogo dele. Agora, duvido que ele ia me tirar de quadra.
Sobre ser um jogador-estrela
Turquia. A arbitragem vai ajudar.
Quando perguntado qual equipe vencerá o Mundial
"Agora, o resultado, mesmo, foi ruim. Tivemos quatro jogos parelhos e perdemos três. A Argentina é um dos melhores times dos últimos anos, mas você não pode deixar o Scola fazer 10 pontos em três minutos".
A falta de um definidor“A gente não podia ter deixado o jogo ser decidido no final, porque hoje em dia não conseguimos ganhar jogo no fim. Ninguém vai meter uma bola no fim? Falta colhão. O único acostumado a meter bola no fim é o Marcelinho, mas botaram ele para jogar a conta-gotas”.
“Basquete brasileiro precisa de um definidor. Jogadores jogam 37 minutos. Homens, jogam os três minutos finais. Veja o jogo da Sérvia, ontem. O menino (Teodosic), faltando três segundos, meteu a bola de lá da PQP. E pá, caixa. Ele chuta para meter. É essa atitude que eu admiro. Sérvia é o time que mais produz jogadores com culhão”.
Ele era um “jogador-estrela”“O Magnano tá implantando o jogo dele. Agora, duvido que ele ia me tirar de quadra. Porque se me der 20 minutos, eu faço 20 pontos. Comigo era garantia de um ponto por minuto. Pelo menos. Se não me colocar em quadra, na segunda vez eu não faço parte do time. Se na primeira seleção eu ficasse sentadinho, não voltaria na próxima. Esse é o mau do jogador-estrela (risos). Eu era, claro. Sempre carreguei meus times nas costas, com a confiança indiscriminada dos meus companheiros e treinadores”.
Favorito para o título do Mundial
Turquia. A arbitragem vai ajudar. Eles têm um time muito bom e têm um técnico sensacional. Joguei quatro anos com o Tanjevic como técnico no Caserna. Devo demais a ele. Foi um dos melhores técnicos que eu tive, junto com Cláudio Mortari e Ari Vidal".