domingo, 23 de maio de 2010

Planejar garante a vitória?

Neste fim de semana a equipe que treino não conseguiu alcançar uma vaga na final da competição que disputávamos. Desde fevereiro falávamos sobre esta possibilidade. Sonhávamos juntos e treinamos pensando que seria possível uma vaga na final desta competição. Não conseguimos, mas diante deste resultado conseguimos tirar diversas lições e conclusões. Lições estas, que serão base para o restante do trabalho neste ano que ainda está mais perto do início do que do fim. Mas perder e não conseguir algo que se tentava como aconteceu nesta competição, me fez lembrar uma coluna que escrevi pra outro site ano passado. E resolvi trazê-la pra cá pra colocar esta questão. Nos planejamos apenas para vencermos ou para fazermos um trabalho melhor e com mais qualidade? Quando escrevi esta coluna, lembro-me de que eu tinha plena convicção sobre cada palavra ali colocada. Mas a prática disso tudo é desgastante e requer envolvimento. Agora tenho em meu grupo, o desafio de provarmos a nós mesmos que em nosso planejamento, estar nesta final não era tudo e sim uma de muitas metas a serem alcançadas e planejadas previamente para este ano. Estou vivendo na pele o desafio de ser o que escrevi um dia lá atrás.
Fiquem com a coluna.

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Na maioria das vezes, ser técnico de basquete ou de esporte amador em geral é ser um abnegado que abre mão de outras coisas a se fazer na vida para conduzir um trabalho de formação no esporte que amamos. Levamos então, como o grande amigo Prof. Ronaldo Pacheco me disse certa vez, uma mistura pessoal de experiências vividas, sonhos, estudos e aprendizagem durante o tempo de trabalho com a modalidade.


No meio dessa mistura de influências que o técnico vive e constrói o seu trabalho, uma questão deve ser inabalável: o Planejamento. Este deve ser a viga que sustenta qualquer trabalho. Planejar para gerar qualidade na sua atuação, na sua informação. Existe uma diferença entre falar de improviso reagindo aos acontecimentos e preparar sua fala e ações para as situações que podem vir a acontecer. É na informação que está o caminho para a construção do seu atleta. E nesse processo de construção você transforma a informação em conhecimento. E com o conhecimento em mãos, o atleta será capaz de saber o que fazer e como fazer. Aí está a essência do técnico. Gerar informação e transformá-la em conhecimento. E o planejamento sempre vai te fazer buscar esse caminho.



Uma das características mais importantes do planejamento é a flexibilidade que ele deve ter. Durante uma temporada muitos acontecimentos mudam, opções táticas, de treinamento e de atletas com o qual você pode contar. Portanto, saber planejar é também saber que nem tudo que está no papel vai seguir a mesma seqüência. Desse modo, planejar fazendo um contínuo acompanhamento deste, faz com que você tenha uma boa condição de organizar e prever o seu trabalho, redirecionar o caminho a seguir e te oferece um feed-back mais palpável sobre o que tem sido feito. Deve-se lembrar que o planejamento se inicia por traçar objetivos, metas e é de suma importância que os mesmos não estejam colocadas acima das reais condições da sua equipe. Os objetivos devem ser desafiadores, exigirem esforços, determinação porém devem ser possíveis. Objetivos acima da capacidade de uma equipe podem gerar frustrações.

Ao planejar o técnico se depara com muitas dúvidas e questionamentos. Alguns ligados a objetivos e outros à metodologia, que são comuns a esse tipo de trabalho.

Reforço que os objetivos devem ser traçados diante das condições de trabalho que se tem. Analisar as opções de treinamento e a realidade de seu grupo de atletas pode dar um melhor sentido ao trabalho e fazer com que o grupo possa aprender através da prática do treinamento e para isso é necessário tempo. Muitas vezes o técnico numa típica ansiedade de ver o resultado acontecer, trabalha para que aquele atleta ou grupo alcance os resultados na temporada em que está acontecendo. É preciso entender que em se tratando de trabalho de formação, a evolução se dá com o tempo. Elaborar objetivos e a partir dele estabelecer metas de curto e médio prazo pode fazer com que o trabalho se torne mais efetivo.

Através dos resultados, vitórias e derrotas, busque enxergar o que seu grupo necessita para melhorar. Seja sincero com você e com seus ideais. O título passará através dos anos, mas a formação humana, cognitiva, afetiva e social que você pode dar a este atleta, jamais será esquecida. A cada acontecimento, será você técnico que será o exemplo de como reagir ao resultado. Saiba perder, saiba vencer. Saiba mostrar quando a equipe falhou muito mais que um simples erro de arbitragem. Saiba ver os pontos positivos do adversário mesmo quando o vence por mais de 30 pontos.


Seja exemplo e não apenas palavras. Cobre, elogie, questione, compreenda a dificuldade, enalteça os pontos fortes, mostre que as falhas podem ser melhoradas e que não são apenas defeitos fechados em si. Não espere que o retorno disso tudo aconteça sempre em suas mãos.
 


                Faça porque é importante fazer e não porque você colherá o fruto em troca.


Planejar é investir na qualidade do seu trabalho. E através dos anos o planejamento torna-se uma experiência para a montagem de futuras temporadas.

Abraço a todos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

6 décimos de segundo

Recentemente tive um jogo de basquete adulto em que a equipe que eu dirigia fez uma cesta faltando exato 1 segundo para o fim da partida. Os meninos comemoravam e a outra equipe havia pedido um tempo. Lembro-me que apesar da euforia, tentava racionalizar o momento e pedia concentração da equipe na defesa para não deixá-los receber em boas condições para finalizar. Lembro-me também que um atleta para motivar o grupo dizia: "Temos de marcar apenas 1 segundo!"

Mas não era bem assim, tínhamos de marcar na verdade 6 segundos. Um segundo de bola em jogo e outros cinco no qual o adversário tinha para cobrar a saída lateral. Pois bem, a equipe adversária fez uma jogada espetacular e o jogador no ar segurou a bola, arremessou e com a bola batendo na tabela, entrou de forma a  acabar com nossas esperanças e a nós ficou apenas o gostinho da virada no fim e o aprendizado que o jogo só termina quando não há mais um milésimo de segundo sequer para continuar a partida.

Chegando em casa neste dia, com uma sensação confusa de satisfação pelos jogadores terem quase virado um jogo "perdido" e a vitória que escapou de nossas mãos no segundo final, pensava e tinha ali a certeza de como esse esporte é fascinante, como ele cria momentos inesquecíveis e como te dá aprendizados automáticos.

Nesta semana recebi um vídeo sensacional. Pela Liga Adriática, o Partizan tinha 2 lances livres para sacramentar a vitória de seu time. O jogador erra os dois lances e a equipe adversária sai rápido para o ataque para tentar um chute de 3 para virar a partida. A estratégia do time funciona e a equipe do cibona vira o jogo a 6 décimos de segundo do final da partida. A equipe e comissão técnica do Cibona então invadem a quadra e se esquecem de conferir se o jogo acabou mesmo. Nenhum jogador do time do Cibona fica na marcação na meia quadra de ataque para impedir qualquer esboço de reação da equipe do Partizan.

Os árbitros então retiram rapidamente os "invasores" da quadra e liberam a bola para a cobrança do fundo bola já que a outra equipe não tinha mais pedido de tempo. O que resta então com 6 décimos de segundo?

Resta ainda uma tentativa!

E aí, com o vídeo, com as imagens e com a narração que nem precisamos entender o idioma, temos mais uma lição de que devemos nos dedicar até o último segundo, ou melhor, até o último momento de jogo.

Aproveitem a lição e acreditem sempre que tentar até o final, dando certo ou não, será sempre sua obrigação de fazer o melhor.
 Vale sempre a pena tentar!

domingo, 2 de maio de 2010

Superando os desafios


Serei sempre repetitivo em falar que o trabalho com basquetebol proporciona aprendizados além das quadras. Mas para esses aprendizados serem interiorizados em cada atleta, diversos desafios precisam ser superados dentro de quadra tanto nos treinamentos quanto no jogo.



O medo de errar talvez seja uma das maiores entraves para atletas e técnicos.

Para os atletas, se o medo de errar for maior que a vontade de aprender e se experimentar, pode causar uma dificuldade em querer aperfeiçoar seus recursos técnicos.

Quem nunca viu em um treino algum jogador sair livre para o contra-ataque pela esquerda, por exemplo, e mudar para a direita com medo de errar e garantir os pontos? A mesma situação serve invertida também para os canhotos.

Os pontos são convertidos no coletivo, mas a chance do atleta de ganhar a confiança necessária pelo lado que lhe causa desconforto é desperdiçada.

E sem notar, o atleta vai deixando de acrescentar variações em suas habilidades por confortar-se com o que já tem de muito bom. Com o tempo, os adversários vão identificando suas limitações e este vai se tornando alvo fácil de ser marcado ou anulado. Quando mais velho, vão lhe incutir uma visão reducionista de que se não aprendeu lá atrás, não aprenderá mais.

Dessa forma, percebe-se o quanto o atleta se “sabota” através do tempo de várias formas como tentarei citar em alguns exemplos:

- Aquele atleta que é bom do arremesso de longa distância e deixa de especializar e acrescentar no seu treino o trabalho de infiltrações e bandejas.

- Aquele que tem ótimo domínio e corte para infiltrar, mas que deixa de treinar incessantemente seus arremessos de curta e longa distância.

- Aquele que é um grande pontuador e deixa de dar atenção ao aprendizado em seu deslocamento em base de marcação e ser um bom marcador.

- Aquele que é amigo e divertido com todos os colegas de equipe, mas que deixa de lado a capacidade de cobrar empenho de seus companheiros e ser duro quando necessário.

- Ou aquele que é aguerrido, empenhado e que cobra de todos os companheiros de equipe, mas esquece de aproveitar os momentos de prazer que o basquete proporciona, deixa de reforçar os laços de amizade e “curtir” a alegria que é jogar basquetebol.

É impossível ao tratar deste tema, não lembrar uma frase marcante que diz algo sobre erros e acertos dita por Michael Jordan:

"Errei mais de nove mil arremessos na minha carreira. Perdi mais de 300 jogos. Em 26 ocasiões, acreditaram que eu ganharia o jogo no arremesso decisivo e errei. Fracassei, fracassei muito na minha vida. E é por isso que eu sou um vencedor."


Acima de tudo, é preciso saber que você sempre pode aprender algo e superar suas deficiências em qualquer idade. Acreditar nisso, é o primeiro passo para fazer seu trabalho e esforço valer a pena.



Ao fazer esta declaração a favor de experimentar e testar suas possibilidades sempre, não quero que seja confundido com o descompromisso de fazer qualquer coisa e alegar que está apenas tentando evoluir. Existe o momento certo de se testar e experimentar, e também existe o momento certo de praticá-lo. Muitos atletas não treinam com a devida intensidade e avidez por melhorar se guardando para o jogo.


Descobrir esse momento em que se deve testar e desafiar seus próprios limites é que traz o aprendizado necessário tanto como atleta como para a vida pessoal. Assim você passa a se conhecer melhor e entende que ter certo medo (é preciso transformar o medo em um estresse positivo) é necessário pra te deixar concentrado desde que ele não supere sua busca pela melhoria.

Lembre-se: Quando estiver em quadra, você estará representando seus companheiros que estão no banco e outros que nem escalados pro jogo foram. Precisará com o tempo saber mesclar a responsabilidade de representar seus companheiros de equipe com concentração e dedicação, mas que essa responsabilidade não se torne um peso onde o faça temer falhar.

Só essa busca por aprender a cada dia te fará crescer.

Observe em si seus maiores medos e falhas e não se martirize por isso. Todos têm limitações. O importante ao identificá-los, é conversar com seu técnico sobre como pode melhorar e começar a treinar.

Nada se compara a sensação de realização quando se consegue praticar algo fruto do próprio esforço.

E aí !? Está pronto para tentar ?

A todos que se sentiram desafiados por esta coluna a se conhecer melhor e seguir em frente independente do que aconteça, deixo-os com uma frase que gosto muito e que de tempos em tempos, leio pra lembrar que vale a pena lutar pelo que acreditamos:

“Por que devemos continuar, mesmo que todas as circunstâncias pareçam desencorajadoras? Porque pode dar certo. Mesmo que não dê totalmente certo, a simples busca de obter sucesso faz com que olhemos para frente e não para trás.”

Dale Carnegie




Abraço a todos.