segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fora do eixo.. até quando?

Nessa época do ano normalmente vivemos de retrospectivas. Passamos os últimos dias do ano sem muitas emoções ou vivências marcantes. Tiramos os últimos dias para refletir o que fizemos, avaliamos e planejamos o ano seguinte. Era pra ser assim o meu fim de ano também, mas uma competição, confirmada em cima da hora, mexeu com meus planos de férias e me deu os ensinamentos mais marcantes logo no final do ano. Ensinamentos que já martelavam a minha cabeça e que ontem, ao final da competição, me fizeram ter a certeza de que precisamos continuar trabalhando duro.

Estou falando do NBB Sub-22, onde Brasília foi uma das sedes e que contou com a participação de 9 equipes, que divididas em dois grupos,  disputaram 4 vagas para para a próxima fase da competição.



Estive ali para acompanhar a equipe de Brasília. Equipe essa que já tive o prazer de acompanhar de perto muitos dos meninos que lá defendem o nome do Basquetebol da cidade. E é sobre esse tema que a competição me deu uma série de ensinamentos. Vou tentar descrever sobre essas aprendizagens que muitas vezes só o esporte consegue proporcionar de maneira tão emocionante.

Nasci no Rio de Janeiro, sou carioca com um orgulho tremendo, mas foi Brasília que me criou. Foi Brasília que me tornou homem e me fez apaixonar-me pela modalidade de Basquetebol. Crescer em Brasília e decidir trabalhar com Basquete aqui,  fora do eixo Rio-São Paulo, me fez aprender desde cedo que nem sempre estaremos sendo vistos ou avaliados como realmente merecemos. E não faço dessa fala um discurso de sofrimento ou vitimização. É justamente estar fora do eixo, fora do centro das atenções, ou fora do "mercado principal" do Basquete que me motivou a trabalhar com essa modalidade com mais força e vontade. Aqui em Brasília sempre foi feito um trabalho de qualidade, com pessoas envolvidas, estudadas e que querem o crescimento da modalidade em geral. Mas não fazer parte do "eixo principal" da modalidade é aprender que não deve se chatear com o que dizem, pensam, escrevem, falam ou deixam de falar sobre o trabalho em sua cidade.

E em uma cidade como é Brasília hoje em dia, com a equipe atual Tricampeã do NBB, a imagem que se tem é que temos o melhor time porque apenas contratamos alguns dos melhores jogadores do Brasil para compor a equipe. Concordo em parte com isso, principalmente quando vejo que em 10 anos de equipe em Brasília, quase não se lançou ou projetou um jogador dentro da própria cidade. Os meninos até hoje continuam tendo de sonhar em sair da cidade para receber uma real oportunidade de despontar na modalidade. Mas toda essa questão não diminui o trabalho que é feito na cidade. 


UNICEUB-BRB - Atual Tricampeão do NBB

Brasília no ano passado ficou com o 4º lugar no NBB Sub-22 e não era cotado para estar entre os 4 melhores. Mais uma vez em 2012 não citaram a equipe de Brasília entre os favoritos ou candidatos à estar entre os melhores. E fico me perguntando o porquê disso. Sinceramente acredito que fazem isso por dois motivos: O primeiro é que não conhecem realmente o trabalho aqui realizado. Como estamos fora do eixo sempre somos vistos como surpresas e não como realidade. Isso acontece mesmo, não dá pra acompanhar de perto todos os trabalhos.  E o segundo motivo é o que mais me preocupa. Na minha visão, vemos o esporte de forma reduzida e superficial. Conta-se o número de "estrelas" nas equipes e dá-se um somatório para avaliar se a equipe é boa ou não. Isso é uma distorção muito comum vindo do nosso querido futebol. Uma cultura que espalhamos para as outras modalidades. Não avaliamos trabalhos, processos e desenvolvimento. Avaliamos cestinhas, artilheiros e número de pontos. E quando alguém surge fora do prognóstico, tratamos como surpresa e não como fruto de trabalho árduo de longo tempo.

Assim vejo que aconteceu com os meninos Sub-22 de Brasília. Associados ao nome da equipe estavam os nomes Ronald e Isaac. Dois talentos da equipe que ajudaram e muito o resultado espetacular que esta equipe conquistou na tarde de ontem. Mas estamos falando de um esporte coletivo. E nessa equipe, os nomes vão muito além de Isaac e Ronald. Os nomes passam por garotos que treinam duro diariamente,que sonham com o esporte pra vida deles (mesmo com a triste realidade do esporte não ser tão profissional assim no Brasil), que fazem faculdade, treinam, ajudam suas famílias e a cada dia tentam se tornar mais equipe. Ronald e Isaac estamparam todas as notícias após a contundente vitória sobre Franca na tarde de ontem, garantindo o primeiro lugar de seu grupo, mesmo com declarações de técnicos de outras equipes que já davam o primeiro lugar para a equipe de Franca. Ontem eu vi um super jogo de Basquete. Vi uma equipe superando seus limites, uma equipe que praticamente não jogou o ano inteiro esperando essa competição, uma equipe que não tem um campeonato de base para se desenvolver na cidade enfrentando outra super equipe, campeã Paulista Sub-19 e que tem um trabalho fantástico.  Mas queria vir aqui postar para dizer que o time de Brasília não se chamava apenas Ronald e Isaac. Esse time também se chamava João, Gabriel, Vitor, Raphael, Matheus, Lucas, Guilherme, Luiz, André, Tchiêlo, Paulo, Jefferson, Breno e outros nomes mais.. Um time inteiro que se chamava David na camisa. Uma equipe que só ela sabe o que passou nesse ano ao perder um colega de quadra, dentro de quadra.

E aí novamente me pergunto: Até quando vamos ficar quase que individualizando um esporte que tem em sua essência a coletividade? Me incomodei por demais com a maneira que a equipe foi tratada. Nos bastidores a conversa de que Brasília venceu os jogos apertados e, portanto, não teria chances contra a equipe de Franca, que vencera seus jogos por diferenças de pelo menos 30 pontos. Isso não quer dizer nada (ou diz muito pouco) em uma modalidade que tem como tônica a coletividade e a capacidade de superação das equipes. O talento de Ronald e Isaac foram muito bem fomentados por uma equipe de jovens atletas que merecem respeito e admiração, mesmo não estando treinando em clubes ou equipes mais conhecidas no Brasil. Enquanto tratarmos o esporte como mágica, a formação como apenas rendimento dentro de quadra e resultados em apenas números, seremos um País com dificuldade de formar.

Ontem os meninos de Brasília deixaram uma lição escrita dentro de quadra. Não há como saber quem vencerá antes. O esporte é bonito porque é dentro dele que acontecem as decisões mais importantes. Enquanto existe tempo de jogo, existe a chance de se alterar o resultado. Mas no País em que vivemos de individualizar o esporte coletivo, temos ainda muita dificuldade de enxergar isso. Como disse antes, ontem vi um super jogo. Vi a equipe de Brasília jogando uma partida que ainda não haviam feito esse ano (Sei do que falo, pois acompanho esses meninos) e vi uma equipe de Franca tentando de todos os modos reverter o resultado. O que quase aconteceu no final da partida e que se acontecesse, seria recheada de méritos para a equipe Francana por nunca ter desistido de reverter o resultado.




Esse pra mim é o fascinante do esporte. A imprevisibilidade que assusta, mas que ao mesmo tempo gera uma chance de te fazer melhor e que te dá uma chance de se superar.  Mas enquanto vivermos de pragmatismos, de nomes, de preferidos antes da hora, estaremos simplesmente jogando fora a boa formação no Brasil. Ontem quem ganhou foi o Basquete, mas ainda temos a incrível mania de escolher heróis e vilões. Exaltar em excesso o vitorioso e rebaixar o derrotado.

Se falo isso estando em Brasília, um lugar que está fora do "eixo principal"(é o que dizem), mas não tão distante, imaginem quantos trabalhos fantásticos devem existir no Norte, Nordeste e outros locais que não acompanhamos. E por não sabermos, muitas vezes tratamos como um trabalho não tão bom ou efetivo assim. Esse é o País que quer sediar Olimpíada, que quer ser referência no esporte mundial. Um País que sequer sabe explorar tudo o que tem em si. Estamos distantes, muito distantes ainda.

Por isso agradeço a lição dada pelos meninos de Brasília ontem a tarde. Ver estes meninos jogando com a intensidade que jogaram (Logo eu que tanto já critiquei a intensidade deles!) me dá a certeza que devo continuar trabalhando duramente pela formação de novos esportistas. Esportistas da quadra, esportistas para a vida, mas que acima de tudo, não devem nada a ninguém em lugar algum.

Parabéns aos comandantes Laurindo Miura, Michael Rossi e Ronaldo Pacheco pelo trabalho de excelência que fizeram com estes garotos. Nós sempre soubemos que o trabalho de vocês dava resultados muito além, mas dessa vez o resultado também teve sua expressão em resultados.

Eu não queria estar na pele de vocês. Na próxima fase estarão sendo visados. Qualquer boa atuação não será mais surpresa e caso joguem mal terão "fracassado", segundo "especialistas". Será muito mais complicado passar para a próxima fase e repetir a colocação entre os 4 melhores como no ano anterior. Só o que posso desejar é que continuem trabalhando duro para continuarem tentando dar lições dentro de quadra. Fora dela essa equipe já me ensinou demais.

Brasília Sub-22: Se superando dentro de quadra e dando lição para fora dela.




Certa vez li uma frase do Dalai Lama que dizia: "Quando perder, não perca a lição."

Essa equipe foi além, me fez aprender com as vitórias. Vitórias de uma EQUIPE. Eles sabem do que falo.


Que em 2013 possamos cada vez mais abrir as portas do esporte para quem se interessa em trabalhar duro, de forma digna, honesta, mas acima de tudo com qualidade!

Um excelente 2013 a todos!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ser professor não é apenas dar aula.


Foi a paixão pelo esporte que me levou a ser quem sou. Desde garoto já vendo que não tinha tantas habilidades assim, sonhava em ser técnico esportivo. E queria ser dos melhores, sonhava estar na seleção, em participar de programas de tv dando entrevistas e de ser reconhecido nacionalmente. Ao entrar na universidade pra estudar Educação Física, comecei a descobrir que o caminho não era tão único assim. Comecei a descobrir que para atuar na área do treinamento era preciso dominar a área do ensino. E não bastava estudar os movimentos, o corpo humano e entender do quanto de treino é necessário para desenvolver as habilidades. Era preciso dedicar-se a entender de pessoas, de comportamentos e das mais diversas situações em diversos contextos. E aí comecei a aprender o que, na minha opinião, é o mais fascinante e desafiador na docência: Aprender a conhecer-se.

E assim,  montando meus treinos e aulas, fui me baseando nos grandes mestres que tive (nas salas e nas quadras), nas leituras e aprendizados que ia tendo na faculdade  e também de olho em não cometer os mesmos vícios de comportamento de professores que me fizeram quase desistir da profissão (eles me ajudaram a eu saber como não queria ser).


Era uma vez uma escola que tentava ensinar conhecimento e felicidade juntos.


Mas tudo começou a mudar mesmo quando entrei em sala de aula. Desde meus estágios nas escolas, até a entrada oficial como professor titular, comecei a perceber que ser professor era entender o outro e a conhecer cada vez mais seus próprios potenciais e seus limites. E saber trabalhar isso em poucos minutos semanais com uma turma acabou me dando uma vivência que passava por uma linha tênue entre a loucura e a plena satisfação. Na Educação Física então, a disciplina que "não reprova", que só serve para "passar o tempo" e pra dar uma "relaxada", era preciso encantar a cada aula, mas também deixar claro que se tratava de uma disciplina como qualquer outra, que forma, que ensina e que pode deixar algo que vai além de práticas motoras. 


Vivendo intensamente a escola, você passa a conhecer um mundo de diversidades de alunos, de realidades e a conhecer os mais diversos professores, que dividem contigo o mesmo ofício e que muitas vezes vivem realidades diferentes da sua e que têm metodologias próprias. E você nota que começa a virar uma coletânea de cada um. Começa a ser influenciado por um, divide as angústias com outros e as vezes entra em conflito com alguns. Mas acima de tudo, você começa a aprender que o que se pensa de escola hoje em dia é absurdo. A responsabilidade jogada nas costas dos professores, na formação e educação de crianças e jovens é completamente surreal. Num mundo onde as escolas viraram muitas vezes "depósitos de alunos", onde a família cada vez mais se distancia da construção da educação de seus filhos e os professores não são prioridades em um governo sequer, descobre-se um mundo obscuro de sofrimento, cobranças externas e internas, e você se depara com pessoas incríveis, cansadas, extenuadas e até arrependidas pela profissão que escolheram. E ao mesmo tempo você se depara com professores que conseguem mesmo diante dessa realidade, serem fortes, fazerem a diferença e te darem a certeza de que é esse caminho que você quer seguir. 



E foram esses que mudaram drasticamente a minha profissão. Foi vendo professores assim que descobri que eu não posso apenas entender de movimento e treinamento. Foi me deparando com esses "eternos inconformados" que descobri que era preciso entender em que sociedade estamos, que era necessário entender a cultura em que vivemos para poder atuar, que era preciso entender pontos de vistas diferentes, tomando decisões a partir delas, compreendendo cada lado, cada situação. Era preciso saber de história, de como somos e fomos influenciados e como nossa história nos faz ser o que atualmente somos. Era preciso saber em que mundo vivemos, de política, do que fomos, o que somos e o que queremos ser. Era preciso entender a geopolítica para dar contexto crítico ao que se recebe de informação, principalmente vinda da tv. Aprendi também que precisava me expressar bem(e quantos erros cometo até hoje, meu Deus!), falando ou escrevendo, pois uma informação confusa pode gerar um conflito em diversos alunos por um bom tempo. A mensagem precisa ser clara, direta e que desperte de alguma forma no aluno a capacidade de querer saber mais, de repensar seus atos ou o que se viveu ali em aula. Além disso, precisava estar antenado em outras línguas, no que acontece de informação pelo mundo afora e estar pronto para aprender sobre isso. Era preciso ter um raciocínio lógico, ou criar um despertar a isso. Em diversas situações na vida precisamos de uma mente clara, aberta para receber as informações e para "calcular" o impacto de nossos atos, então descobri a matematizar a vida, e a explorar nos alunos a capacidade de trabalhar de forma lógica a interpretação dos fatos. E nesse caminho aprendi que vivemos de física muito além de fórmulas. Somos física pura desde que nascemos, aprendemos a andar e praticamos física a cada momento. Junto a isso, associamos a química na interpretação dos diversos elementos que a vida nos oferece e precisamos entender o que há de vida em nós e a nossa volta. Entender como funcionamos, quem somos, como nos desenvolvemos e o que há de riqueza de vida à nossa volta. Por fim.. aprendendo sobre toda essa diversidade que uma escola pôde me oferecer, aprendi que tudo o que fazemos, tudo o que produzimos é uma forma de arte. A arte não está nos grandes museus apenas e sim, em nossa existência, em nossos pensamentos, ideias e produções. 

Foi a escola que me devolveu aos treinamentos de outra forma. Que me levou a ter a plena certeza de que o trabalho com o  treinamento esportivo, seja na iniciação ou no alto rendimento, é uma forma e um ato de educação. Infelizmente não é isso que vejo muitas vezes por aí na minha área. Por diversas vezes vejo treinadores se "esgoelando", gritando e destratando seus alunos em busca de uma vitória, pais ensinando aos filhos que o adversário é um inimigo e muitos tentando mostrar que o importante é vencer, a qualquer custo ou a qualquer preço e em qualquer idade, esquecendo-se das fases de desenvolvimento de cada um. Mas mesmo assim, mesmo com os desvios que existem não só na docência como em todas as áreas, venho aqui lembrar deles. Dos professores que mudaram minha vida, dos técnicos que me ensinaram um esporte que não existe por aí, muito menos na tv. De professores na sala de aula que me ensinaram equações erradas de propósito, só me mostrando que estava errada quando eu tive a coragem de ir questionar. Foram esses que me tornaram crítico(tudo bem que fiquei crítico demais), que me fizeram pensar ao invés de decorar, que me fizeram apaixonar-me ao invés de baixar a cabeça e copiar. Foi com diversos destes que tive o prazer de dar aula junto, de participar de conselhos de classe, de reuniões pedagógicas e não demagógicas e são estes que me fazem vir aqui e agradecer pela inspiração. Pelo orgulho que me dão em pensar que no dia de hoje temos mesmo de nos parabenizar, mesmo com a realidade de um Brasil que não investe como deveria em educação.

Atuo nesta área porque acredito na mudança, porque acredito que podemos influenciar pessoas e ajudar a formar tantas pessoas muito melhores que nós. Mas principalmente porque não apenas acredito, mas tenho provas de que sou muito melhor do que era como pessoa por tornar-me professor. Enquanto muitos ainda são "dadores de aula", eu prefiro ficar com os que conseguem nos minutos que tem, dividir suas ideias e gerar uma reflexão em seus alunos para um aprendizado de qualidade. 

Fica aqui os parabéns a todos que dividem essa luta com seriedade, amor e não como um passatempo de quem queria ser alguma coisa "famosa", não conseguiu e tornou-se professor. E fica aqui um agradecimento especial a diversos professores que me fizeram parte da minha trajetória e com quem atuei diretamente tentando propor uma educação as vezes utópica e que a vida nos fez seguir caminhos em instituições diferentes. 

Ah.. e quanto ao sonho da fama e das entrevistas na tv, o trabalho me mostrou que ser bem sucedido vai muito, mas muito além disso e os alunos que por mim passaram me mostraram que nosso valor está no dia a dia e não em um reconhecimento efêmero televisivo.

Parabéns a todos os professores comprometidos com formação de qualidade e o trabalho duro!





sábado, 1 de setembro de 2012

1º de Setembro. Dia de perguntar: Você está fazendo a sua parte?

Hoje é o dia do profissional de Educação Física. Como já disse outras vezes aqui no blog, é um dia normal como qualquer outro. Considero de verdade o dia 15 de outubro (Dia do Professor), mas não sou rebelde ao ponto de não aceitar os parabéns pelo dia de hoje ou qualquer tipo de felicitação. Aceito e sempre tento aproveitar pra poder falar sobre o tema e a profissão. 

Como também já disse por aqui. A criação desta data é uma estratégia do conselho nacional de educação física e seus conselhos regionais para se legitimar no mercado. Eu sinceramente tenho minhas críticas ao conselho. Não sou contra a legitimação da profissão por meio de um conselho, desde que este vise investir na profissão com uma formação continuada e uma busca por melhor qualidade de aula para estes professores. Mas não é isso que acontece. Tenho de pagar mais de quatrocentos reais por ano ao conselho pra apenas dizer ao mundo que eu sou professor de educação física. Para isso tenho o meu diploma, estudei pra me tornar professor e não precisaria de um órgão pra dizer isso por mim. Sabemos muito bem o histórico do conselho (sei bem pelo menos da região centro-oeste) e por muitas vezes o conselho teve atuações muito mais visando lucro do que com o ideal de fortalecer a categoria de profissionais. Tenho amigos que trabalham lá dentro, sei que tem gente séria, mas sinceramente não acredito no ideal do conselho e sua atuação. Vem eleição por aí e torço pra que possam dar uma direção diferente a essa realidade.


Mas não era sobre isso que eu queria vir falar aqui. Na verdade eu queria dizer que enquanto muitos vibram, festejam, gastam com propagandas na tv parabenizando os profissionais de educação física, eu aproveito a data pra perguntar: 

Estamos fazendo a nossa parte? 

Sinceramente eu tenho dúvidas sobre a resposta.

Recentemente vi casos absurdos de atuações profissionais e fico me questionando o caminho que estamos tomando na profissão e principalmente na formação de novos professores. Vou contar alguns casos pra vocês.

Fui convidado pra dar uma aula em uma disciplina do ensino superior do curso de educação física e lá o professor é bastante envolvido e gosta de trabalhar com os alunos não apenas no formato prático, mas com textos e leitura de artigos também. Ele diz que é um investimento em seus alunos e uma tentativa de torná-los mais críticos. Mas ao final dessa aula na qual participei, saindo da aula eu ouvi o "desabafo" de um dos alunos para um colega: 

"Esse professor viaja demais, ele acha que só temos a matéria dele para fazer. Não bastasse a aula ele ainda quer que façamos resenhas de artigos."

É isso mesmo que você entendeu. O aluno estava chateado porque tinha de estudar. Meu questionamento imediato ali comigo mesmo foi: Aquele desabafo era uma distorção, um ato isolado, ou é uma máxima da educação física? Não temos de ler? Como seria esse aluno então fazendo medicina? Achei absurdo e sintomático essa declaração.

Outro professor universitário assumiu ano passado a cadeira da disciplina de basquete(Graças ao bom Pai ele não está mais a frente dessa disciplina). Há muitos anos ele não lecionava essa disciplina e simplesmente não se preparou pra ela. Veio com conceitos antigos ensinar os alunos e sempre que questionado que a aula era muito "vaga" com conceitos muito superficiais, ele discursava dizendo que trabalha num estilo democrático, onde os alunos aprendiam sob descoberta orientada. Resumindo: Ele usou de alguns conceitos de estilos de ensino para explicar sua falta de estudo. Mas ele foi além. Ao ensinar o movimento da bandeja para os alunos universitários, ele simplesmente ensinou com os alunos tendo de pular bolas para aprender a fazer as passadas. Esse modelo não é mais utilizado acredito que pelo menos a uns trinta anos. Além de antigo e não eficaz, ele é perigoso, pois o aluno pode pisar na bola, cair e se machucar. E infelizmente foi isso que aconteceu. Uma aluna pisou na bola literalmente, torceu o tornozelo e rompeu ligamentos do mesmo. Esse foi o ensinamento de um professor "conceituado" no mercado. Isso era o que ele passava para os futuros professores de educação física.

Tem muito professor parecido com o personagem Rolando Lero


Em outra universidade, um professor é famoso por no dia de quarta-feira, que ele teria de dar aula até às 22h40 na universidade, liberar os alunos mais cedo (por volta de 21h30) porque quarta-feira é dia de futebol na tv! Vocês acreditam nisso? Uma vez por semana ele negligencia 100 minutos de sua aula (imagina esse somatório em um semestre). E os alunos o que fazem? ADORAM! 

"Esse professor é massa, entende o nosso lado." 


Foi isso que já ouvi dizer sobre ele.

Outro professor (essa caso é clássico) coloca um estagiário/monitor/amigo/ algo que o valha para dar aula em seu lugar. Ele é um professor doutor e tem muitos afazeres. Pouco aparece na sala, não acompanha a evolução dos alunos e no fim, diz que está investindo na formação de um novo professor. Eu não tenho nada  contra o professor que investe em um monitor para dar algumas aulas. Mas sou contra o professor que simplesmente se omite do seu ofício para pegar esse horário e trabalhar em outras coisas. É isso que acontece demais. E os alunos? Precisam fazer a matéria, muitas vezes o estagiário não tem tanta competência ou poder para avaliá-lo, então a matéria torna-se mais "fácil de passar", então está tudo certo.

Por fim, esse é o mais curioso. Um professor que passa no início de semestre textos em espanhol, pois dessa forma muitos alunos vão levar mais tempo lendo e assim "gastarão" mais tempo de aula e ele não precisará dar nada de matéria. Nada contra quem passa texto em língua estrangeira, desde que este seja um ato com intencionalidade pedagógica. Esse na minha visão se parece com aquele professor de escola que quando vê que em sua aula em quadra aberta, o tempo começa a nublar e fechar, ele já fala pra turma que pra segurança de todos os alunos não vai ter aula porque está com perigo de chover e de ter raios. Leva eles pra sala,deixa eles batendo papo(Já que, segundo estes, não há o que ministrar de aula de educação física em sala). Acreditem, isso existe muito. 

E por que contei todas essas histórias? Por que em praticamente em todos esses casos, o que os alunos fizeram para protestar? No caso das universidades, todo fim de semestre os alunos necessitam fazer uma avaliação de cada professor. Ali eles têm a chance de mostrar um pouco da realidade. Mas devido a um pacto da mediocridade absurdo e quase que cultural brasileiro, em muitos lugares os alunos colocam avaliações positivas sobre todos os professores. E pronto, o ciclo da mediocridade está a pleno vapor.

Recentemente tivemos o sucesso nacional da aluna Isadora Faber (clique aqui pra saber sobre esse caso) que começou a mostrar na internet os problemas de sua escola e que nos colocou essa questão no ar: 

Isadora Faber e seu Diário de Classe


O que estamos fazendo para exigir aulas e profissionais de qualidade?


Hoje não tirei o dia pra comemorar. Tirei o dia para desabafar sobre essa realidade que continua reforçando que o professor de educação física é um cara carismático (ser só isso é muito pouco), que é criativo (já que nas escolas não há material adequado pra dar aula e o professor precisa improvisar) e que não estuda constantemente. Essa é sim, ainda uma realidade comum em nosso meio. E pior, reforçada e legitimada por diversos professores, mestres e doutores que estão na universidade, "fugindo" de dar aula de verdade. Seja mais crítico em seu olhar e você verá, eles estão por aí tomando conta ainda de muitos espaços.

Mas não pense que eu vim aqui fazer um post pessimista e determinista desse jeito. Eu falo tudo isso porque me indigno mesmo com quem toma espaço de bons profissionais apenas por títulos e nome, mas acredito muito no surgimento de bons profissionais. Hoje em dia tenho o prazer extremo de trabalhar cercado de bons profissionais e vejo estudantes de educação física já muito mais críticos ao que recebem de informação. Há dois meses atrás, participei de um curso de capacitação para professores da rede de ensino do DF que trabalham com treinamento esportivo nas equipes escolares. Fui receoso, com medo de que eles estariam fechados em seus mundos restritos a novas informações. E o que vi foi um grupo de professores (em torno de 70) muito afim de aprender. Sim! Essa é a palavra. Alguns com mais de 20 anos atuando como professor e simplesmente ávidos por aprendizado, informação e pela chance de tornar suas aulas mais dignas e capacitadas.

Nesta quinta-feira estive com eles novamente e falei o que escrevo aqui agora. Tê-los conhecido e vivido esse curso com eles, mexeu diretamente com meu trabalho. Me tornou mais crítico, mais responsável com minha profissão, mas me deixou mais esperançoso de que podemos sim fazer um trabalho de maior qualidade. Existe muita gente boa por aí, o que precisamos é sermos críticos e diretos com aqueles que tentam reforçar que Educação Física é uma disciplina divertida e feliz. Educação Física é muito mais que isso. Ela também é trabalho árduo, esforço e estudo diário, mas pra quem gosta e vê sentido no que faz, tem um retorno incrível quando vemos que podemos influenciar e alterar de maneira positiva o cotidiano das pessoas.

É nesse misto de revolta com o que temos por aí e esperança e confiança naqueles que fazem valer a pena essa profissão que eu pergunto: 

Você está fazendo a sua parte? 


Espero que sim e que continuemos fazendo para termos um dia o que comemorar de verdade.

Parabéns professores e estudantes de Educação Física.

Ofereçam e exijam aulas de qualidade baseada no estudo e não na amizade e no bom papo.

Abraço a todos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O poder do trabalho duro.

Em 2010 tive um experiência bem diferente. O Brasil, recém comandado por Ruben Magnano iria jogar um torneio preparatório para o campeonato mundial  e este torneio seria em Brasília. Acabei conseguindo ser guia daquela seleção como contei na época neste post aqui. Pois bem, passei por esta experiência com o único intuito de poder acompanhar o trabalho de Magnano de perto e conhecer ou tentar entender um pouco melhor como aquele nome consagrado do basquete agia e fazia suas equipes tornarem-se competitivas.




O que vi naqueles treinos foi algo que me influenciou nos anos seguintes. Assisti uma intensidade de treino impressionante e uma atuação de Magnano sensacional. Ele não perdoava os erros e não tratava os atletas como estrelas intocáveis. Ele corrigia, se indignava com erros (principalmente de falta de atenção) e também valorizava os acertos e pontos fortes da equipe. Dava atenção aos detalhes: posição de pés, número de dribles para poder dar o passe, ângulos de passes, distribuição do jogo na quadra, e claro, defesa. 

Foram quatro dias que me fizeram pensar muito sobre o que queria com basquete até aquele momento da minha vida e foram quatro dias também para refletir se um dia conseguiremos criar uma cultura de basquete assim por todo o nosso país.


Sim, digo isso porque não temos essa cultura. Vivemos num país onde os atletas quando se tornam consagrados ganham privilégios e não responsabilidades. Representamos um país onde temos problemas em cobrar dos grandes jogadores. Muitos técnicos ficam de "mãos atadas" em equipes se quiserem sobreviver nesse meio de "esporte profissional". E assim vamos passando esse ideal de formação desde a base. Os atletas que já se destacam um pouco ganham privilégios dos mais variados quando jovens. Treinam com menos intensidade, não precisam se dedicar tanto à questões defensivas e até aqueles que ganham bolsas escolares, muitas vezes não se preocupam com seu rendimento escolar, pois já são craques da bola e assim, intocáveis em seu meio acreditando que viverão para sempre daquele esporte. Esse ideal esportivo brasileiro é um dos contribuintes para termos uma escassez de talentos dentro e fora das quadras.

Formação integral também te dá bons resultados dentro de quadra.



E o que Ruben Magnano fez de tão diferente para tornar uma equipe que era promessa em realidade? Na minha opinião, ele impôs uma realidade completamente diferente do que vivemos por aqui no Brasil. Treinou duro estes jogadores, ganhou a confiança deles e deixou claro que a luta e briga dele é pelo melhor da equipe e não por um, por outro ou por vaidade. O engraçado disso tudo é que o resultado da mudança de postura foi imediato. A seleção brasileira mudou de postura radicalmente, ainda foi inconstante em muitos momentos, mas como se fosse "de repente", se tornou em uma das melhores defesas do mundo no basquete masculino.

Por que isso? Que mágica teria sido feita? 

Após a classificação brasileira para Londres no pré-olímpico eu infelizmente assisti a declaração de um técnico brasileiro de NBB dizendo que nada havia mudado e que apenas o espírito de patriotismo havia crescido dentro de cada atleta. É possível um "estudioso" do jogo dizer uma coisa dessa? O que seria isso? Cegueira? Inveja? Perda de noção da realidade?

Penso que Magnano teve bastante trabalho pra mudar o "espírito de patriotismo" dessa equipe, não?


O que importa e que vim aqui deixar claro aqui é que Magnano tem total mérito em potencializar essa equipe que  por anos foi apenas um grupo. E os atletas têm o seu mérito por se darem a chance de serem diferentes do que sempre foram. Independente do que aconteça hoje contra a Argentina, o Brasil é outra equipe, mas mesmo assim, essa mudança de "espírito" não é garantia de dias melhores para os próximos anos. Hoje, estamos a uma vitória de ficarmos entre os quatro melhores de uma Olimpíada, fato este que não acontece há mais de quarenta anos e a pergunta que fica no ar é: O que está sendo feito para formar as próximas gerações com uma mentalidade diferente desde o início? É uma pena não saber responder.


Por isso venho aqui enfatizar que precisamos aproveitar esse momento brasileiro, vencendo hoje ou não. Magnano tem contrato renovado para o próximo ciclo olímpico e nós precisamos aproveitar essa mentalidade de jogo para crescermos não só na formação de atletas, mas na formação dos próximos técnicos. Formar profissionais que acreditem no estudo constante, na correção diária de seus atletas, levando o treino como um aprendizado contínuo e ver se conseguimos passar por cima dessa máxima de termos técnicos algumas vezes ostentando títulos passados e ocupando cargos por nome, amizade, influência midiática ou politicagem.

Estes doze atletas, Magnano e sua comissão técnica têm a chance hoje de fazer história pelo Brasil e superar resultados de seleções brasileiras passadas em Olimpíadas. Mas que fique claro que caso isso não aconteça, não significa que o trabalho não foi bem feito ou que o treinador, antes incontestável, agora inventa muita "moda", como os corneteiros de plantão gostam de falar. O importante disso tudo é pensar que se Magnano conseguiu em dois anos mudar a cultura de uma geração já experiente, com rodagem e com sérios vícios de conduta e jogo, imagina então se começarmos a mudar nossas posturas, formando atletas para o jogo e para a vida desde sua iniciação? 

Mágica ou trabalho duro para tornar esta equipe competitiva?

Que o Brasil hoje possa fazer história, pois quero muito ser testemunha de um momento como esse e que não percamos o foco e a atenção para formar com muito mais qualidade as próximas gerações.

 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

É preciso seguir firme.

Não dá pra seguir normalmente aqui no blog enquanto não escrever sobre o que irei escrever agora. Hoje vejo que só conseguirei seguir por aqui se fizer isso. 

Estou falando da infelicidade que ocorreu com o atleta David, de Brasília. Desde quinta-feira a cidade e a comunidade do basquete, vive este drama junto do atleta. Não tem sido fácil ver o que tem passado os seus colegas de equipe e principalmente toda sua família.

Seleção DF Sub-17 - 2009

Trabalhei com David e com boa parte dessa equipe por alguns anos em categorias de base. A primeira coisa a vir em minha mente foram as lembranças do que já havia vivido com todos: Os treinos, competições, alegrias passado juntos e momentos difíceis compartilhados. Lembrei do quanto já havia discutido com esses meninos que considero de uma geração com muita oportunidade em Brasília. E todos esses momentos hoje resgatados na lembrança, me geraram diversas sensações.

É bem complicado ver todos passando por este momento e não poder ter estado no momento que eles mais precisavam. Isso faz parte de um amadurecimento pessoal que temos de ter. É preciso aceitar que não vamos estar onde queremos sempre. Mesmo distante do trabalho com estes meninos, ainda me sinto parte deles e vê-los neste momento unidos pela melhora de um colega de equipe foi algo que mexeu demais comigo.

Copa Minas Sub-19 - 2010
Por vezes discuti e briguei com estes meninos dando a entender que eles não eram ou não se comportavam como equipe muitas vezes. Na minha opinião o trabalho em equipe não pode reinar apenas em amizade e brincadeiras. O bom trabalho em equipe deve ser também feito de cobranças pontuais e tomada de decisões coletivas, discutidas e abertas incessantemente entre todos, para que haja o crescimento do todo. E as vezes penso que posso ter sido exigente demais com uma equipe que estava em pleno processo de amadurecimento e construção.




Neste final de semana, ao me reencontrar com todos, notei o quanto eles estão diferentes. Unidos pelo incidente de quinta-feira e pela plena recuperação de David, os vi incrivelmente fortes, apesar de consternados pelo ocorrido, percebi o quanto são homens certos de que juntos são muito mais efetivos na resolução do problema de cada um. 

As vezes empolgados com a história de filmes que mostram a superação de uma equipe, podemos imaginar que estes meninos vão criar forças em nome do David e buscar resultados expressivos em jogos, esperando pelo retorno de seu colega às quadras. Mas sinceramente, os filmes têm suas limitações, têm começo, meio e fim. E essa história que está sendo vivida por todas estas pessoas não é tão limitada assim. 




Esta equipe está crescendo muito além das quadras. O que eles vão mostrar nos jogos será empolgante de ver, mas percebo que o que mais se destacará nesta equipe, será o que mostrarão como pessoas. E pra isso é necessário seguir firme. Nesta segunda os treinos voltarão. E sinceramente vejo que é o momento de todos darem sua contribuição e mostrar o que realmente são: Uma grande equipe. 

Reforço que é o momento de se dedicarem ao máximo, mostrar que a força de suas orações por David, também está expressa em suas atitudes, em seus esforços para manter esta equipe forte, unida por um ideal e principalmente, juntas pelo o que os fez tornar equipe, que é o basquetebol.

Sei bem dos sonhos e da paixão de David pela modalidade. Por algumas vezes conversamos sobre seu sonho de jogar profissionalmente e sei que sua luta incansável por sua recuperação precisa ser fonte de energia para todos esses meninos voltarem as quadras com força total. O exemplo que David está dando na luta pela sua vida e o exemplo que esta equipe dará voltando com tudo às atividades hoje, será uma lição que muitos poderão aprender algo para si.

O que peço a vocês é que continuem sendo essa força tamanha que têm sido e que mostrem a vocês o quanto são importante uns para os outros também nas quadras. Foi ali que vocês se conheceram, foi ali que vocês se tornaram amigos, se tornaram um time e é justamente ali que precisam dar essa lição a todos nós.


É hora de dar um bom exemplo a todos do que é ser uma equipe . 
Me orgulho de ter trabalhado com cada um de vocês e posso afirmar que ainda me sinto parte disto. Só que agora esta equipe é muito maior, com muito mais gente dando a força necessária para que vocês continuem crescendo. Será essa força que tirará o David do estado grave, será essa força que manterá todos vocês juntos. Não é o que gostaríamos que acontecesse com nenhum de nós, mas seguindo a vida diante do que aconteceu, deem esse exemplo a todos que estão acompanhando e orando pela plena recuperação do nosso colega.

 É de arrepiar e emocionar ver como o David está lutando pela sua vida. A força com que sua família e que cada pessoa que aparece pra dizer que está torcendo pela sua recuperação. É esta força que nos move, nos mantém fortes acreditando sempre em nossos ideais. E será essa força que trará o David de volta para o convívio de todos nós e junto novamente desta equipe que um dia tive orgulho de representar.

Muita força à todos os atletas, comissão e meus sinceros votos de melhora a toda família do David.
 
Vamos passar firme por essa situação todos juntos, podem apostar!

 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Aprender não é mágica


Recentemente estava em uma aula da minha turma de basquete da faixa etária de 8 à 12 anos.
Essa turma é uma turma muito querida e divertida. Trabalhamos com o basquete, mas nessa faixa etária é muito importante estimular o desenvolvimento motor amplo. Fazer os alunos experimentarem diversas habilidades motoras e situações. Não se pode apenas ensinar o gesto técnico do basquete. As crianças nessa idade não estão com seu programa e repertório motor finalizado (na verdade nunca estamos) e é preciso formar uma boa base motora pra que futuramente ela consiga construir melhor seus movimentos em qualquer modalidade que ela quiser praticar.


A criança precisa ser estimulada a desenvolver o máximo da habilidades e capacidades.

Pois bem, a brincadeira/desafio era lançar uma bolinha de tênis na parede e conseguir pegá-la antes dela tocar o chão. Um desafio como esse envolve diversas habilidades. Para ter êxito, a criança precisa dominar o básico do movimento do lançamento e também ter um cálculo sobre a distância entre ela e a parede, para assim, realizar o movimento de lançamento e poder se ater a habilidade de recepção, que é uma habilidade que chamamos de visual motora (envolvendo a percepção visual pelo olhar e o movimento pelas mãos). 

Com a prática muitos tiveram sucesso imediato, já outros levaram algumas tentativas para conseguirem estabilizar o movimento. E com um tempo de prática, eles já estavam se desafiando: Aumentando a distância entre eles e a parede, jogando a bola na parede, tocando as mãos no chão e pegando a bola de volta e por aí foi. 

Dei um certo tempo de prática até que notasse que eles tivessem real sucesso com as tentativas e que aquela atividade caísse no nível de interesse deles, afinal eles já conseguiam com muito sucesso a prática.

Daí fiz o seguinte desafio: "Quero ver quem consegue fazer a mesma prática lançando a bola com a mão esquerda". 

Imagem que mostra as fases da habilidade de lançar a bola, do livro
"Compreendendo o desenvolvimento motor " de Gallahue e Ozmun


Foi o bastante para mudar completamente a atividade. As crianças não tinham uma boa combinação de lançamento com a mão esquerda, o que comprometia o lançamento. E com o lançamento comprometido, a chance de pegar a bolinha em boas condições caiu bastante de possibilidade. Deixei eles praticando por um tempo e dessa vez poucos conseguiram de imediato o sucesso na realização. Outros continuavam com dificuldades de lançamento e não conseguiam perceber no que estavam errando para tentar corrigir. Fui então fazendo algumas intervenções e explicando sobre o movimento de lançamento, mas mesmo assim, precisaria de mais tempo para a evolução deles e resolvi finalizar aquela prática para refazermos em um outro momento.

Ao final dessa atividade, juntei os alunos e perguntei a eles o porquê de não terem muito sucesso na execução com a mão esquerda. E o mais surpreendente é que pareciam ter ensaiado a resposta, pois todos responderam alto e ao mesmo tempo:

"Porque somos destros!"

Nesse exato momento uma denúncia acabava de acontecer ali. A ideia de que não aprendemos as habilidades pelos dois lados porque temos apenas um lado dominante. Isso é uma grande mentira. O lado dominante existe e ele certamente te dá uma capacidade de execução, precisão e eficiência melhor, até aí tudo bem. Mas dizer que você não é capaz utilizando o lado não dominante por que não é seu lado "forte" é um grande engano. Respondi aos pequenos que eles tiveram dificuldades porque praticaram pouco, experimentaram (alguns nunca experimentaram) muito menos do que pelo lado dominante em suas vidas, e por isso a dificuldade. 

E essa é a ideia da aprendizagem motora erroneamente praticada. Aprendemos somente o que somos bons. Esse é um dado preocupante e que me faz pensar a cada dia que somos um país analfabeto motor. Nossas escolas e espaços de iniciação esportiva muitas vezes não investem numa formação motora integral. Confundimos um ensino que se dedica ao desenvolvimento com apenas brincadeiras passatempos, livre de observações e intervenções que possa potencializar o desenvolvimento de cada aluno. E acabamos por acreditar que aquele que tem uma extrema habilidade e capacidade de solucionar problemas nos jogos é "gênio". E sinceramente não acredito nisso. A pessoa pode ter uma predisposição fantástica para as habilidades motoras, mas se não tiver estímulos e vivências necessárias, não desenvolverá suas capacidades.


Neymar é um bom exemplo de uma pessoa que é tratada como detentor de uma habilidade "mágica".
Como se não fosse uma combinação de predisposição e trabalho para desenvolver.

Mas estamos no Brasil, há quatro anos de sediarmos uma Olimpíada e ainda tratamos a formação como algo mágico. Como algo onde os gênios se destacarão por natureza própria. E assim, vamos deixando de formar, não só os excepcionais, como vamos deixando de dar oportunidades de amplo desenvolvimento a tantos outros que poderiam estar mais aptos do que estão.

Confesso que quando as crianças me responderam que não conseguiam fazer a brincadeira com a mão esquerda porque eram destros, fiquei com vontade de responder a todos: 

"Vocês são destros, não são manetas!"

Há muito a ser feito nessa área em nosso país.

Espero tocar mais nesse assunto sobre o analfabetismo motor em breve.


Abraço a todos.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Um conto de fatos - Parte II

A única vantagem de ficar mais de 100 dias sem postar (mentira, não há vantagem alguma!) é poder analisar friamente um acontecimento com dados mais concretos sobre o que aconteceu.


Quando deixei o blog por um "breve" período (mais de 4 meses), o assunto ainda era Jeremy Lin.


Jeremy Lin, tema destes dois últimos posts, apareceu, se firmou e deixou sua marca na NBA. Desde sua explosão vindo do banco no dia 4 de fevereiro, até seu último jogo no dia 24 de março, quando parou de jogar devido a uma lesão, Lin teve bons números. Em 26 jogos, teve uma média em torno de 19 pontos por partida. Como muitos na época de sua explosão na mídia questionaram sua capacidade de jogo, creditando muito mais valor ao seu potencial midiático do que como atleta, penso que Lin teve bons números. Não é fácil manter quase vinte pontos por partida numa liga que exige diariamente boas apresentações. Hoje, Lin é uma aposta ainda e está em negociação tanto para renovação como para outras equipes pretendentes. Independente de se saber se Lin é um jogador diferenciado ou não, o fato é que ele é um jogador que "dá conta" da liga norte americana.


Lin também foi um ótimo produto para patrocinadores, foi a segunda camisa mais vendida na temporada da NBA(na frente de Kobe Bryant e LeBron James) e foi incluso na relação das cem pessoas mais influentes no mundo. Vale ressaltar que apenas seis esportistas foram relacionados nessa lista (entre eles Leonel Messi, por exemplo) e isso mostra como o nome de Jeremy Lin foi recorrente e muito utilizado nesse primeiro semestre.

Ao mesmo tempo, é interessante ver um acontecimento desse numa liga tão profissional e que, teoricamente, é a mais preparada para observar, desenvolver e selecionar os melhores jogadores em atividade. O caso de Jeremy Lin mostra um pouco de como o "funil" existente no esporte é complexo e que nem sempre garante espaço a todos, bem diferente do que as pregações de técnicos e motivadores quando dizem que querer é poder. Sinceramente interpreto essa frase de forma bem diferente.

Em Harvard, formou-se em economia e não conseguiu espaço no draft da NBA.
Mas o que quero expor aqui nessa segunda parte, trata-se de como falamos sobre esporte no Brasil. Lin foi tratado como um ser "iluminado", como alguém que recentemente resolveu ser jogador, que passou por alguns apertos, mas que por acreditar muito e ser muito "afim" de ter "sucesso", conseguiu enfim brilhar na liga norte americana. A coisa não foi tão "bonitinha" assim. Jeremy Lin ralou bastante desde a época de escola. Um de seus técnicos conta que, em sua fase adolescente, Lin por uma época não era dedicado ao extremo, era disperso e que seu jogo melhorou quando ele decidiu focar melhor no aperfeiçoamento de seus fundamentos. Jeremy buscou um técnico para auxiliar na evolução de seu arremesso. Paralelo a isso fez faculdade de economia em Harvard e se formou com louvor.

Mas é bom deixar claro que Lin poderia não ter estourado na liga. Poderia hoje ainda estar jogando em ligas inferiores e ter seguido sua vida projetando outras ambições. Isso porque no esporte de alto nível, não cabe todos que querem. Muitos querem, têm qualidade e mesmo assim não despontam. É uma combinação de talento, oportunidades, desenvolver-se na hora certa,  manter-se focado e uma pitada de combinar esses fatores com o acompanhamento de um bom profissional e boa estrutura em volta. Mesmo assim, não é uma garantia de sucesso (aliás, o que é ter sucesso?). E caso o sucesso esperado por Lin não fosse alcançado, ele teria uma chance de seguir sua vida, um diploma em uma das universidades mais bem conceituadas no mundo.

Falo tudo isso porque o que temos no Brasil é uma realidade muito diferente, distante e posso dizer que muitas vezes triste. Além de problemas estruturais com nosso esporte, temos uma cultura que considero pobre no que diz respeito à formação esportiva. Já vi técnicos (inclusive de equipes profissionais) pedirem a seus atletas juvenis para deixarem a escola, se matricularem em um supletivo, pois assim teriam mais tempo para treinarem. Já vi atletas profissionais dando essa mesma "dica" a um grupo de jovens. No Brasil, o atleta que estuda paralelamente e tem uma boa formação é exceção.


Jobson: Sua capacidade técnica sempre foi mais valorizada do que suas atitudes como pessoa. 

No Brasil, o status de ser atleta está acima das obrigações de cidadão ou de pessoa. Se você tem potencial e pode conseguir alguns títulos, não importa muito o que você faz, como faz e se está se formando alguém melhor ou não. Escolas e universidades, em alguns casos, não dão bolsas e acompanham seus estudos, elas simplesmente dão matrículas, para que o atleta represente sua instituição, totalmente desvinculado se ele vai ter bom desempenho nos estudos ou não. Enquanto for um bom atleta, você está acima do bem e do mal. Essa, infelizmente, ainda é uma cultura muito utilizada no esporte brasileiro.


São diversos atletas de diversas modalidades, em caráter amador, que vivem de "migalhas". E pro sistema esportivo brasileiro, muitas vezes é importante viciá-los nessas migalhas, pois assim eles ficam "reféns" do esporte e topam qualquer negociação para continuar sobrevivendo, já que negligenciaram os estudos, a formação completa e agora ou jogam sob qualquer condição ou vão correr atrás de emprego sem ter estudado. Vocês têm certeza que esse é o país do futuro no esporte? 

O atleta recém draftado pelo Boston Celtics, Fabrício Melo, foi suspenso das finais da liga universitária por um simples motivo: Problema com notas. Imagina essa situação no Brasil. Seu principal jogador de defesa vai mal com notas e seu time está na fase final da liga nacional universitária. O que fariam os gestores do esporte em nosso País? Certamente algum tipo de discurso assim:

"Não podemos tirar do menino a única coisa que ele sabe fazer na vida". 



Fabrício Melo, promessa do basquete brasileiro, suspenso por problemas com notas nas finais da liga universitária.


Pois é assim que trabalhamos pros lados de cá. Se dar bem no esporte (coisa que terá um fim em breve, já que o esporte não é pra sempre) está acima de tudo. E a formação pessoal, em segundo plano.

Quando vi o "fenômeno" Jeremy Lin despontando na mídia, confesso que fiquei curioso pra ver seus jogos, suas performances, mas muito mais interessado em conhecer um pouco mais a história de sua vida. E quando olhamos, percebemos que se trata de alguém que foi formado dentro e fora das quadras. Até quando no Brasil vamos formar dentro de quadra e deixar àqueles que não despontaram como deveriam, trabalhando como segurança, cobrador de transporte público, obras e outros mais. Nada contra as profissões citadas, mas me incomodo porque acho que quando estes estavam se destacando no esporte, poderiam ter tido uma chance maior de formação integral e não apenas dentro de quadra. Esse processo hoje em dia é sabotado pelos próprios pais, que estimulam filhos a largarem a escola para se dedicarem ao esporte, num sonho completamente ilusório de que o sucesso está ali esperando. 

Os que fazem parte dessa história de sucesso são, em larga escala, a minoria dessa estatística. Para eles terem vencido na vida apenas jogando, outros diversos foram sugados dentro de quadra e depois dispensados com o singelo agradecimento pelos serviços prestados. E aí estamos, beirando uma copa do mundo, olimpíada, com o discurso do legado dos estádios, ginásios e ainda sem legados em legislação esportiva, em esporte escolar e universitário. As leis de apoio ao esporte fazem "jorrar" milhões de reais para o esporte de alto rendimento(confira aqui) e a nossa formação fica por aí, aparecendo uma vez ao ano em jogos nacionais escolares. Sinceramente é muito pouco pra um país que diz estar em pleno desenvolvimento.



O olhar que podemos utilizar para analisar o fenômeno esportivo chamado Jeremy Lin é de que, por muito pouco, ele não consegue se firmar na liga profissional norte americana. E esse estouro de popularidade não vai lhe garantir temporadas perfeitas no futuro. Lin terá de provar muito ainda para se manter como um jogador de qualidade. Isso porque o esporte é assim. É um espaço de excelência, onde a cada temporada novos valores surgem e há um reposicionamento do nível dos jogadores. Mas caso ele não venha se firmar, tem um caminho a seguir, um diploma debaixo do braço, fruto de seu esforço, seu empenho, dentro e fora das quadras, fruto de uma oportunidade que existia e que ele soube aproveitar.


Que tipo de oportunidades oferecemos aos nossos jovens atletas no Brasil de se formarem muito além das quadras? Espero sempre que possível falar mais sobre esse tema por aqui.

Aliás, espero voltar a postar com frequência por aqui.

Até a próxima.



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Um conto de fatos - Parte I


Quem acompanha Basquete, principalmente a liga norte americana (NBA), é bem provável que esteja sabendo de uma história fantástica que tem quebrado alguns paradigmas do esporte profissional.

Estou falando de Jeremy Lin, jogador americano de 23 anos que vem tentando a sorte na modalidade há um bom tempo e que de 5ª opção de armador no time do New York Knicks, tornou-se titular, ídolo e um jogador importante para o time alcançar 6 vitórias nos últimos 6 jogos da equipe na temporada.

Jeremy Lin conquistando seu espaço no basquete universitário.

Bom, vou contar melhor essa história pra quem ainda não conhece:

Norte americano de ascendência chinesa e taiwanesa, Lin pratica basquete desde a época de escola. Mais tarde entrou para a Universidade de Harvard para estudar economia. Harvard é reconhecida mundialmente pela sua excelência no ensino, mas a universidade não tem tradição de se firmar entre as mais reconhecidas no esporte universitário. Mesmo assim, Lin conseguiu elevar o nível de sua equipe e ter boas apresentações. Após formar-se, tentou seguir o caminho para a NBA, mas não foi escolhido por nenhuma equipe no Draft (Uma espécie de processo seletivo pra entrar na NBA).

Lin então participou de uma liga de verão feita pelas equipes da NBA, onde vários técnicos e olheiros observam jogadores ainda disponíveis no mercado para compor seu plantel. Conseguindo se sair bem, Lin recebeu propostas de algumas equipes e preferiu aceitar a equipe próxima de sua família, o Golden State Warriors. Pronto! Jeremy Lin acabara de realizar seu sonho de criança de fazer parte de uma equipe da NBA.

Mas o sonho não era tão fácil assim. Com poucas aparições em quadra e com médias baixas nos fundamentos, Lin foi dispensado no ano passado e desde então tentou conseguir uma nova equipe para jogar. Passou rapidamente pela equipe do Houston Rockets, mas também foi dispensado. No fim do ano, Lin recebeu uma proposta de ir para o New York Knicks, equipe tradicional e que recentemente após algumas trocas e contratações, montou um plantel com algumas estrelas em seu grupo. Jeremy Lin assinou um tipo de contrato para compor grupo, onde não tinha muitas garantias de continuidade.

Com pouco aproveitamento de seu jogo no fim de dezembro e no mês de janeiro, Lin foi mandado para a D-League, uma liga de desenvolvimento para os jogadores não ficarem parados e ganharem experiência. Ele fez uma única partida anotando 28 pontos, 12 assistências e 11 rebotes. Esses números chamaram a atenção dos técnicos dos Knicks, que junto de uma série de lesões da equipe, somado a uma fase tenebrosa em resultados (11 derrotas em 13 jogos), fez o jovem jogador ser reintegrado ao grupo. 

Lin tentando mais uma vez mostrar seu potencial.


No dia 4 de fevereiro, há pouquíssimo tempo atrás, Lin foi chamado no banco de reservas para entrar no jogo contra o New Jersey Nets. Neste jogo, Lin simplesmente anotou 25 pontos, distribuiu 7 assistências e pegou 5 rebotes, ajudando sua equipe a vencer a partida. Desde então, Lin conquistou a vaga de titular na equipe e já foram, como disse antes, 6 jogos com 6 vitórias, incluindo 38 pontos marcados contra o Los Angeles Lakers, de Kobe Bryant, onde a torcida e seus colegas de time pareciam não acreditar no que viam diante da performance do recém promovido a titular da equipe.


Este vídeo abaixo reúne os melhores momentos de Jeremy Lin nesta partida contra os Lakers:





Ontem, após estar perdendo por 17 pontos, o novo fenômeno de New York marcou os últimos 6 pontos de sua equipe no minuto final de partida, com direito a uma cesta decisiva no último segundo do jogo, dando a vitória a sua equipe, como você também confere aqui:




Após uma de suas espetaculares apresentações nestes 6 jogos, seu colega de equipe, Tyson Chandler, resumiu com tamanha simplicidade as atuações de seu colega dizendo: "Não é sorte, isto é real!"

O "efeito Lin" tem sido ótimo para todos. O jogador tem se tornado uma febre na internet com comentários, fotos, vídeos e posts(tudo bem, eu me rendi também!) e a NBA ganha em divulgação com uma figura fora do comum de jogador de basquete norte americano. Além disso, o mercado asiático que havia visto a aposentadoria de Yao Ming recentemente, ganha  um novo referencial e o basquete ganha espaço em mais mídias, mesmo se tratando de basquete internacional.

Mas posso me arriscar a dizer que o melhor dos efeitos que Jeremy Lin começa a despertar (afirmo isso pois estou vendo de perto acontecendo) é uma nova impressão nos jovens praticantes da modalidade. Lin é um "boa praça", de cabeça boa, que prega humildade, estudioso (levou basquete e estudo sempre lado a lado), com uma história de dedicação, garra, mas que não foram apenas cercadas de conquistas. Muito pelo contrário, pela história fantástica muito mais parecida com filmes de motivação do que com realidade, Lin terá de se firmar e lutar para confirmar seu nome e jogo a cada dia. Ainda está longe dele ter se tornado uma estrela consagrada. Entretanto posso afirmar que é muito gostoso falar de um atleta que é bom exemplo dentro e fora das quadras, que suou muito para conquistar um pouco de espaço, e que neste pouco tempo e espaço que tem tido, tem feito de tudo para ser o melhor possível.

Mesmo assim, esse "estouro" de Lin dentro e fora das quadras precisa ser analisado de forma mais ampla. É quase um crime à formação esportiva dar a entender que este acontecimento se deu como num passe de mágica. As coisas não acontecem assim de repente. Tudo é fruto de um processo de construção do próprio jogador, da estrutura esportiva que viveu e das oportunidades que teve. 

Voltarei aqui para continuar esse post que resolvi dividir em dois, tamanho o número de informações que podemos tirar de um acontecimento tão bacana como esse. 

Me despeço colocando mais um vídeo, de diversos que vi, material que li, pra poder conhecer um pouco melhor a vida de Jeremy Lin. Pra quem gosta de cenas de basquete, bons lances e acompanhados de boa trilha sonora, esse foi o que eu mais gostei.

Abraço a todos.









PS: Finalizo esse post e vejo que a equipe do New York Knicks está vencendo mais uma partida por 20 pontos de diferença, faltando apenas 4 minutos para o fim. Parece que a devoção por Lin vai continuar por mais uns dias.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Na melhor das lembranças.

Difícil dormir ou pensar em algo que possa acalentar a sensação de perplexidade que toma conta desta madrugada. Resolvi então vir aqui escrever e homenagear um ex colega de trabalho, que se tornou amigo e que neste dia 3 de fevereiro, partiu de nossas vidas. 

Zé Carlos, o querido Zeca, foi um excelente parceiro de trabalho. Disposto sempre a conversar sobre diversos assuntos, foi um grande ouvinte para muitas conversas que abordavam desabafos, problemas e coisas bacanas do dia a dia. Lembro-me de alguns encontros no final do dia, onde dividíamos as dificuldades da rotina cansativa de tentar tornar disciplinas como filosofia, sociologia e educação física, que nem sempre estão no foco principal das escolas, como disciplinas de relevância na formação de nossos alunos.  

Mas as conversas foram além, por vezes curtimos e dividimos situações interessantes que ocorreram com nossos alunos e outras tantas histórias. Até nossa ansiedade por mudanças, onde queríamos mudar algo, mas que era preciso ter paciência, já que sempre enquanto professores, pregamos que as mudanças vêm aos poucos e não do dia para a noite. Foi assim que me aproximei desse excelente companheiro de jornada, que apreciava a natureza, gostava de esportes e tinha sempre disponível um sorriso receptivo para iniciar uma boa conversa. 

Não demorou muito para ser reconhecido na escola pela sua capacidade profissional. Alunos, colegas de trabalho e demais funcionários, viram que ali, por trás de suas falas sempre pertinentes e de colocações diretas e sem rodeios, estava uma pessoa capaz de fazer a diferença. E a prova disso eram as diversas citações de alunos agradecidos por transformar o ensino da filosofia em algo atraente, instigante e que gerasse alguma reflexão para a vida deles.

Dos encontros nos corredores, na sala dos professores, das discussões dos conselhos de classe, nasceu uma relação de admiração e amizade, felizmente mantida em encontros casuais quando deixamos de trabalhar juntos. 

Ao tentar racionalizar a partida de meu querido amigo Zeca, repete em minha mente uma mensagem de agradecimento por tudo o que sempre foi e que sempre me marcou em nossas conversas: Franqueza, objetividade e uma expectativa de que suas ideias gerassem questionamentos, reflexões e uma maneira diferente de ver o mundo. Zeca parte e deixa uma saudade imensa por se tratar de uma pessoa inspiradora. 

Em minhas conversas com amigos de trabalho, sempre falo que um de nossos objetivos deveria ser o de "dominar o mundo". E dominar o mundo na minha visão, nada mais é que fazer a diferença de maneira positiva a influenciar outras pessoas.

Pois bem, Zeca veio, "dominou" e partiu. Deixando pra mim, e espero que para seus colegas e ex-alunos, a certeza de que "dominar o mundo" é possível e de que, por ser possível, é preciso tentar fazê-lo.

Zeca, um abraço saudoso de um amigo que você conquistou e que sempre vai te admirar muito.