sábado, 25 de junho de 2011

Formar bem vai muito além.



Passei esta manhã pesquisando vídeos de uma área que adoro aprender cada vez mais. Achei alguns vídeos sobre footwork (trabalho de pés). Este tipo de trabalho é a base para os esportes em geral que dependem de mudanças de direção, variação de velocidade, explosão e agilidade. O footwork é pouco usado de maneira específica na formação de jovens. Normalmente os professores de escolinhas tendem a ensinar os movimentos da modalidade e cometem algo que considero um erro grave: Repetem apenas os movimentos específicos da modalidade numa exaustiva rotina de ações pouco variadas. Principalmente quando se é jovem, é importante incentivar as mais diversas habilidades. Não é porque o esporte é basquete, handebol ou tênis, que a criança ou jovem não precise de aprender a lidar com a habilidade óculo pedal (habilidade relacionada entre visão e movimento de pés). E sendo assim, muito se perde na formação, já que, se você se der a chance de planejar e ser criativo, será capaz de fazer atividades, lúdicas, através de desafios motores capazes de estimular a capacidade de reação das crianças e jovens. Essa ideia já é bem vista por muitos profissionais no Brasil, mas ainda é excessão. Tanto não é tradição em nosso País, que normalmente pouco enxergamos este tipo de trabalho e costumamos olhar os grandes astros como atletas dotados de um dom magnífico. Sinceramente não acredito nisso. Acredito que estes atletas juntaram seus talentos com treino de formação de boa qualidade. Posso dar um exemplo clássico aqui. Experimente observar este atleta do vídeo. É um dos maiores jogadores da história da NBA e ainda em atividade. Mas queto te lançar um desafio: 

Não foque sua atenção às cestas e malabarismos. Fique atento ao trabalho de pés deste atleta. Note como ele não cansa de se utilizar de fintas de pés e falsos cortes para desestabilizar os adversários.
Como ele aprendeu isso? Veio junto no "pacote de dom magnífico"?




Pois bem, é preciso acreditar em uma formação mais completa. Independente se a criança se tornará jogador ou não. Estamos falando de uma alfabetização no Brasil. Mas neste caso de uma alfabetização motora.
Com trabalho de formação que não seja apenas o mecânico(algo a ser visto e executado), a criança começa aprender a usar suas habilidades a seu favor, e melhor, a encaixar suas escolhas de movimentos, finalização ou o que quer que seja, de acordo com o que vê a sua frente. Estimula sua capacidade de leitura da situação e de tomada de decisão. Dessa forma, ela não fica presa ao conceito "o certo é assim". Ela certamente descobrirá o certo da melhor forma que ela poderá praticar. Este tipo de formação já é uma vertente muito utilizada em outros países. E trabalhando dessa maneira, estimulando as diversas habilidades e áreas do corpo humano,  alguns foram muito beneficiados com estas ideias.




Ao falar deste tema, corro dois perigos nisso tudo:

1. Muitos vão olhar pra este tipo de trabalho e vão dizer: "Agora não se pode mais ensinar os movimentos do esporte em questão? Temos de inventar brincadeiras? Comprar materiais coloridos pra chamar a atenção?"

Não! Não é essa mensagem que eu quero passar. Quero dizer que precisamos acrescentar à formação esportiva, trabalhos de coordenação motora geral, atividades que desafiem a parte motora de nossas crianças e que acrescentem em sua capacidade de fazer leitura das situações. A ideia aqui é acrescentar e não colocar um contra o outro.

2. Outros dirão: "Isso é especialização precoce! Treinamento para crianças, nunca! "

Nada disso. Muitos confundem trabalhar as questões motora como um trabalho focado apenas no trabalho motor e muitos acabam por utilizar a nomenclatura "esporte alto rendimento". É uma grande inverdade. Muitos se utilizam deste discurso porque não dominam a área desenvolvimentista e alegam que este tipo de trabalho não  estimula a formação social e pessoal da criança ou jovem atleta. Muito pelo contrário. Este tipo de trabalho, como diz o autor Adroaldo Gaya, incentiva o auto rendimento, faz a criança se perceber melhor e dá a ela a autonomia de correr atrás de sua evolução. A cada passo conquistado neste tipo de trabalho a criança tem sim um ganho de auto estima por se descobrir cada vez mais capaz. Juntando este trabalho ao esporte, ele verá que suas habilidades deverão ser encaixadas a um macro chamado grupo. Este tipo de percepção e ganho não tem preço. E além disso, é um tipo de legado motor que fica pra criança.

Enfim, o tema é realmente instigante e quero escrever mais vezes sobre a temática. O que mais me anima nisso tudo é que já existe gente boa e qualificada começando a fazer esse trabalho pelo Brasil. 
Isso me dá esperança numa formação mais qualificada em um breve futuro.





É importante deixar claro que uma boa formação envolve aspectos motores, sociais, afetivos, cognitivos , psicológicos e outros mais. O que fiz aqui foi tocar em uma destas áreas.
É preciso continuar estudando, pesquisando e se arriscando a fazer algo diferente. 
Experimente começar a olhar as grandes jogadas dos esportes de uma maneira mais ampla. 
Você descobrirá que talento é importante, mas uma boa formação é fundamental.

Abraço a todos!

2 comentários:

Liliam disse...

Ótimo texto! Acho que a formação no esporte é fundamental. Exemplos como do professor Marcão que se preocupam com o esporte de base deveriam ser mais comuns. Li um texto que fala um pouco disso:

http://albertomurray.wordpress.com/2009/01/10/o-descaso-do-governo-com-o-esporte-de-base-magic-paula-esta-corretissima-em-suas-analises/

Rodrigo Leonardo disse...

Excelente, Liliam.
Esse tema da formação na escola para gerar mais atletas dá um bom post por aqui futuramente. É uma área importante de criarmos cultura de ler. Vou tentar me inspirar pra escrever algo futuramente sobre isso.