segunda-feira, 4 de abril de 2011

Reflexões sobre as competências de um treinador - Parte I

Este ano tenho conversado muito com dois influentes amigos no meu trabalho na escola e no esporte.
Falo de Ronaldo Pacheco e Jonatas Maia. Periodicamente temos nos encontrado para conversarmos sobre nossos trabalhos e para botar no papel algumas ideias que temos tido, mas que, devido a correria do nosso dia, ficamos impedidos de praticar com tranquilidade.
Nestes encontros formamos algumas parcerias e nem sempre os 3 estão diretamente envolvidos. Um tema que Ronaldo e Jonatas começaram a desenvolver juntos, tratava de uma discussão sobre as competências necessárias para o treinador esportivo. Acompanhei "de camarote" as discussões por email até eles produzirem este primeiro capítulo sobre esta temática. Como vocês irão perceber, o tema abordado será dividido em diversos capítulos e eu terei o prazer de dividir este material aqui pelo blog. Na primeira vez que li esta versão inicial fiquei pensativo e me surgiram muitas ideias e comentários. Então pensei: Se eu fiquei com tantas ideias após ler, imagina então os leitores que aqui frequentam e que se preocupam com esta formação continuada do professor que atua na área desportiva. 

Portanto, aproveitem a leitura e comentem!




REFLEXÕES SOBRE AS COMPETÊNCIAS DE UM TREINADOR


Em contato com a revista da Federação Espanhola de Basquetebol vi uma figura de um dado em que constavam as seis competências de um treinador de basquetebol. As análises feitas por mim a partir desta figura podem não estar de acordo com os professores que realizaram o estudo, mas os tópicos ali contidos me levaram a realizar algumas reflexões sobre os itens apontados. Para não tornar as análises longas e cansativas pretendo comentar em separado cada uma das partes destas competências.
As competências básicas relacionadas eram:
1 – COMPETÊNCIA EM COMUNICAR-SE.
2 – COMPETÊNCIA DIRETIVA E GESTORA.
3 – COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA.
4 – COMPETÊNCIA EM APRENDER A APRENDER
5 – COMPETÊNCIAS EM CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS E DO JOGO.
6 – COMPETÊNCIAS SOCIAIS E EM VALORES.
Ao escrever este texto, submeti-o a alguns colegas e o prof. Jonatas Maia fez algumas observações que acredito ter extrema pertinência a estes temas.
De acordo com o seu pensamento, o qual concordo plenamente, “é necessário declarar que estes tópicos, embora possam ser discutidos em separado, só fazem sentido caso sejam compreendidos numa relação de interdependência. A categorização nos ajuda a formular problemas específicos e cada um deles e isso certamente contribui no aprofundamento das reflexões, mas é preciso que no âmbito da formação de treinadores, estas competências sejam desenvolvidas e percebidas de maneira interligada. O que quero dizer é que acredito que só teremos a figura do “treinador competente” quando este tiver desenvolvido bem todos estes tópicos.
Justifico esta minha preocupação ao defender a idéia de que competência do treinador se estabelece pela integração de todas estas competências elencadas, pois, penso que é necessário superar a concepção de que existem técnicos (ou treinadores) só educadores e que estes não tem as competências necessárias para serem competitivos. Eu vivi um pouco disso quando da minha breve passagem como técnico de basquete. A propósito destas competências sociais e de valores, as quais penso ter desenvolvido, para muitas pessoas elas não são compatíveis com o esporte em sua manifestação do rendimento ou do esporte de alto nível. Não concordo com isso. Creio que estas pessoas que concebem o esporte de maneira equivocada, mas que se sustenta por ser uma idéia hegemônica de um esporte que só se realiza quando nos oferece a vitória, custe o que custar.

Outro exemplo de como só teremos o treinador competente caso este se valha de todas aquelas competências, é pensar no tópico sobre o conhecimento científico e do jogo. Esta competência não se estabelece sozinha, ou seja, não faz sentido caso esteja isolada. Há uma interdependência dela com a competência comunicativa, por exemplo.
De forma concreta, é só observar os pedidos de tempo dos técnicos de basquete na TV. É bem provável, que alguns deles dominem cientificamente o jogo, mas na medida em que poucos desenvolveram a competência comunicativa, a atuação deles perde muito em eficiência.”
Após estes comentários introdutórios gostaria de iniciar minhas reflexões sobre as competências sociais e em valores.
Este tópico é dividido em alguns subitens: 

- Aprender a respeitar e fazer-se respeitar; 

- Entender a responsabilidade de ser um treinador; 

- Ser capaz de formar pessoas além do jogador; 

- Dominar as técnicas de dinâmicas de grupo; 

- Entender o basquete como instrumento educativo; 

- Inserir valores e ser exemplo para os atletas; 

- Possuir a ética necessária para ser um treinador; 

- Conhecer as regras do jogo e sua aplicação por parte dos árbitros.







Vejo alguns pontos de destaque e que deveria levar a reflexão qualquer treinador em qualquer faixa etária ou grau de competitividade em que atue.
Inicio pela questão de aprender a respeitar e fazer-se respeitar. Este item me parece estar aliado a outros dois: Entender a responsabilidade de ser um treinador e ser capaz de formar pessoas além do jogador.


É sabido que para se ter respeito é necessário respeitar. Vemos na maior parte das equipes a exibição da autoridade do técnico e não o respeito entre os componentes. É necessário entender que a autoridade é algo concedido e não imposto, é algo conquistado e não determinado. A autoridade de um professor/treinador advém da sua competência como tal e principalmente da forma com que ele trata seus atletas/alunos. A responsabilidade de um professor/treinador vai muito além de ensinar o jogo, dirigir a equipe. Ao ser incumbido desta função o treinador deve se propor a formar pessoas, reforçar valores e a partir da sua conduta justa e coerente ser um exemplo para a conduta dos seus alunos/atletas. Na questão relativa a valores, os professores ensinam muito mais pelo seu exemplo do que pelo seu discurso.


Para ser justo e respeitoso é necessário enfrentar de frente os conflitos, que certamente surgirão, com colocações que permitam o diálogo e a exposição de idéias contrárias. Ao respeitar as idéias, respeita-se o indivíduo. Uma frase que marcou muito a minha vida e minha conduta é: “As palavras são fortes quando os argumentos são fracos”. Ter a capacidade de refletir e argumentar é algo que faz com que os elementos de uma equipe sejam e sintam-se respeitados.
O basquete, como todo esporte, deve ser visto com um instrumento educativo, como uma oportunidade de ação e reflexão sobre nossas condutas e principalmente uma excelente oportunidade de conhecermos melhor sobre nós mesmos e nossas relações sociais.
E vocês, o que pensam sobre isso?


Ronaldo Pacheco

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