Pois bem, volto ao blog porque vivi nesses últimos 6 meses a maior experiência profissional da minha vida. Eu que sempre sonhei em ser técnico de basquete, que iniciei meus trabalhos em 1999, descobri no meio desse caminho que seria muito difícil um dia chegar em um nível profissional e em competições maiores. Isso porque o mercado é fechadíssimo, existem poucas equipe no Brasil e porque também faço parte de um perfil não usual no mercado: Não fui um jogador de sucesso, decidi trabalhar fora do eixo Rio-São Paulo e apesar de treinar equipes adultas desde o início, sempre tentei não abrir mão de trabalhar com a base, e há um senso comum bizarro no Brasil de que quem trabalha com formação "não dá conta" do ambiente profissional.
Em um país onde são poucas as oportunidades de crescimento nessa profissão e em se tratando de um mesmo país que mal forma os seus atletas, gastando dinheiro principalmente no alto rendimento, imagina o que se faz na formação de seus futuros técnicos? Ser técnico desportivo no Brasil e sonhar em se desenvolver profissionalmente é saber que terá de gastar dinheiro para viajar, fazer cursos, gastar com suas próprias equipes, e claro, terá de ter empregos paralelos para que possa "bancar" esse sonho pessoal de estar atuando no desporto profissional brasileiro.
E a experiência que vivi nestes últimos anos da minha vida com esporte foi muito marcante porque passamos por cada etapa de crescimento na qual deveríamos passar. Um projeto voltado para atender a comunidade e praticantes apaixonados pelo basquetebol, em 4 anos, conseguiu transformar-se em uma equipe competitiva no Distrito Federal. Diagnosticando a nossa cultura da não capacidade em desenvolver atletas em maior quantidade, me aproveitei de uma safra em Brasília que acabara de passar da idade sub-22 da principal equipe do Distrito Federal e caminhava para abandonar o esporte e dedicar seus esforços para recuperar o tempo perdido no trabalho e estudos. Foi preciso um tanto de conversa para mostrar que era possível eles caminharem com a prática esportiva lado a lado com seus estudos e trabalho, já que somos ensinados desde cedo que no Brasil, para ser bem sucedido como atleta é fundamental largar os estudos e não fazer mais nada (infelizmente já vi "técnicos profissionais" tendo essa conversa com seus atletas de base). Montada essa base de atletas que acabara de perceber que suas carreiras haviam chegado ao fim e que tentavam criar uma sobrevida, complementei a equipe com atletas da cidade, que nem possibilidade de disputar uma competição sub-22 tiveram, pois há pouco espaço para muitos interessados e o esporte sempre promove essas lacunas dentro do seu famoso "funil" de aperfeiçoamento.
O que nos restava era treinar. Treinamos nos horários possíveis, tentando dar o nosso melhor. E esse melhor nos levou ao título de campeão adulto do Distrito Federal. Algo que para nós fazia sentido pelo tanto que trabalhamos, mesmo que surpreendesse alguns outros. Automaticamente estávamos classificados para a Copa Centro-Oeste no ano seguinte. Como disputar algo em maior nível com a estrutura que temos tão simples e baseada no esforço de cada um? Recebemos então um apoio da instituição que representávamos. Ainda meio que sem saber como era isso e de que equipe se tratava, o UniCEUB, instituição na qual trabalho há 9 anos e que possui uma equipe multicampeã na modalidade, resolveu dar as condições básicas para que pudéssemos viajar, e disputar a competição com maior qualidade. Além disso, graças ao apoio, conseguimos trazer dois jogadores contratados para nos dar mais experiência a um grupo que de repente, começava a almejar coisas maiores. E vencemos mais uma competição. O campeão da Copa Centro-Oeste estava automaticamente classificado para a Supercopa Brasil(que corresponde como uma terceira divisão nacional) um mês depois. E com muito trabalho e abnegação de todos os envolvidos, um mês depois, éramos campeões da Supercopa Brasil, algo que nem nos meus melhores sonhos anos atrás eu imaginava chegar por este caminho. Com essa grande conquista para nosso nível, um novo desafio: Estávamos classificados para a Liga Ouro, divisão de acesso ao NBB. Bastava agora correr atrás de investidores que nos garantissem o mínimo de investimento exigido pela Liga Nacional de Basquete. E atrás fomos.
Foto: Clas Mendes |
Foto: Clas Mendes |
"A cada fracasso meu, aumentam minhas chances de ser bem sucedido."
Foto: Clas Mendes |
Em segundo lugar faço esse enorme, porém resumido post, para agradecer. Agradecer o imenso número de pessoas que torceram e contribuíram de alguma forma pelo crescimento deste projeto. Primeiramente aos três diretores do UniCEUB, que mesmo tendo uma equipe profissional em mãos resolveram apostar em profissionais pratas da casa a ir atrás de fazer um projeto enraizado na instituição crescer deste tamanho. Ao Dr. João Lopes Filho, ao Dr. Geraldo Rabelo e ao Dr. Homero Neto, minha gratidão pela confiança, entusiasmo e investimento do UniCEUB em nosso trabalho. Aos meus familiares por aceitarem minha ausência em troca de ir atrás de um sonho de criança, e aos meus amigos, colegas de trabalho e de paixão pelo mesmo esporte, que se sentiram representados vendo uma equipe criada na cidade, com atletas crescidos na cidade tentando representar o basquete da sua região pautados por um trabalho sério, comprometido, dedicado, mas que infelizmente por enquanto não foi o suficiente para levar àqueles que se sentiram representados mais adiante.
E em terceiro lugar, resta o imenso agradecimento aos profissionais envolvidos diretamente no projeto. Atletas, comissão técnica, prestadores de serviços e estagiários. À todos vocês agradeço por terem se mantido juntos, intactos, dignos e por terem tentado dar o seu melhor até o nosso último segundo de jogo. Acredito que quando se faz algo de forma limpa, íntegra e com total dedicação, a chance de evoluir é grande, mas não garantida. Para isso, é preciso continuar seguindo firme enfrentando os próximos desafios. É nisso que penso agora e é isso que estou praticando desde nossa eliminação.
Vamos em busca de novos desafios, pois são eles que nos dão a chance de continuarmos crescendo.
Grande abraço a todos e até a próxima!
2 comentários:
Galego,
Sabemos de todos os "problemas" que existem no esporte brasileiro, mais especificamente no basquete... Porém o trabalho que você conseguiu desenvolver, neste curto espaço de tempo, com os garotos do CEUB, foi incrível... Espero que consiga chegar aos seus objetivos/sonhos, e isso não significa apenas a vitória no final da competição...
Abração
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