Existem diversas razões fascinantes para ser professor. Uma das que acho que mais me acrescentam é o fato de você poder conhecer e se relacionar profissionalmente com pessoas diferenciadas. No meio de sua luta pessoal pra fazer o seu trabalho, acaba se deparando com profissionais ímpares e que de alguma maneira acabam acrescentando na sua formação profissional. Este é o caso de um professor em Brasília chamado Marco Costa, mais conhecido como Marcão.
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Marcão em um de seus "milhares" de jogos. |
Marcão é um apaixonado por Basquete e que tem como grande característica em seu trabalho, a capacidade de trabalhar a formação integral de seus atletas. Em alguns posts atrás por aqui, postei um início de estudo dos professores Ronaldo Pacheco e Joanatas Maia (que vocês podem conferir
aqui), onde discutiam sobre o mito de que existem técnicos/professores formadores (educadores) e técnicos/professores competitivos, como se no alto nível ou em um nível maior de competitividade o professor e também técnico não pudesse ter todas estas qualidades de formação técnica, tática e humana.
Isto é uma questão que deveria ser discutida na formação de professores e técnicos aqui no Brasil, onde nossa cultura e concepção de esporte diz que para vencer é preciso abrir mão de seus valores em alguns momentos. Pena que há pouco espaço para debate destas questões e que nossos "queridos" narradores e apresentadores de futebol na TV sejam a referência nacional para discutir esporte (isso é papo pra um futuro post). Pois bem, Marcão é destes professores que deixam marcas significativas, registros na memória e principalmente na formação de seus alunos/atletas.
Em uma passagem anterior nossa por um blog de basquete, meu querido amigo Marcão havia escrito um post simples e direto sobre o que aprender com este esporte que tanto amamos. Ao encontrá-lo e conversar brevemente sobre basquete, perguntei se poderia publicar seu artigo por aqui, e como a publicação foi liberada, estou aqui pra dizer que o que Marcão escreve é a mais pura síntese de sua prática. Um professor que tenta associar os aprendizados técnicos e de jogo para os aprendizados de fora da quadra. Marcão não é daqueles que usa um discurso bonito de se ver mas que inexiste em seu trabalho. Marcão é ação, amor ao esporte e sonhador como só ele, tenta fazer de sua retidão profissional um exemplo para as gerações que por ele passam e passaram. Já vi Marcão vencer diversos jogos e perder tantos outros, já assisti jogos dele em encontros de Minibasquete (Iniciação 12 anos) e o vi em Campeonatos Nacionais de base. E independente do nível da competição, Marcão foi sempre exemplo, pautado por fazer o seu melhor e tentar extrair o melhor de cada um em busca do objetivo de uma equipe. São por profissionais assim que vale a pena tentar viver e estudar cada vez mais sonhando com uma modalidade melhor trabalhada e difundida em nosso País.
Aproveitem o texto do professor Marcão!
O que aprender com o basquetebol?
Muitos esperam aprender a fazer cestas, ganharem milhões, serem famosos e reconhecidos nas ruas ou serem heróis, mas o que se aprende realmente jogando basquete? O Basquete é um esporte de grupo, de equipe. Não se joga nem se ganha sozinho. Um depende do outro para que o jogo aconteça. É fato comprovado pela história, nenhum grande jogador é campeão sozinho, o grande time vencedor do Chicago Bulls levou 6 anos após a chegada de Michael Jordan para vencer o primeiro campeonato da NBA. Não bastava ter um gênio, era necessário construir uma equipe.
O treinamento de um grupo de atletas deve ter o ensino do drible, do passe, do arremesso, da marcação, a serviço de uma meta, de um projeto maior do que, simplesmente, ensinar o jogo de basquete.
Ao se iniciar o treinamento de um grupo de atletas definir a filosofia de trabalho é um dos primeiros passos.
Assumir uma filosofia, um pensamento, algo que reúna que sintetize o pensamento de todos. É com base nesta filosofia, usando ela como pilar que se inicia a construção de um grupo. Esta base tem que ser sólida e agregar valores da sociedade. Essencial neste momento é formar primeiro o homem, o ser humano: caráter, honestidade, autoconfiança, humildade, solidariedade, reconhecimento, devem estar presentes. Como conseqüência teremos um “atleta” na essência da palavra.
O caminho que se trilha deve estar recheado com os fundamentos do basquete, mas a essência é a formação do ser humano. Capaz de perceber que do outro lado, como adversário, está outro ser humano que merece respeito e admiração, pois no mínimo tem um ponto em comum, “o basquete”. Capaz de perceber que ao seu lado existem mais seres humanos, que acertam e erram, e que continuam ao seu lado.
Viver e entender o paradoxo de que o adversário é companheiro e que companheiro também é concorrente, consolida a visão do ser humano que vive em sociedade, em grupo, que partilha a alegria e a dor, a frustração e a euforia e encontra no semelhante o exemplo e o desafio.
Para a criança, aprender brincando é parte do crescimento. Desde os primeiros momentos, as primeiras brincadeiras, a filosofia do técnico deve estar presente e servir de parâmetro para orientar os desafios. Se o aluno que termina primeiro é sempre o que recebe a glória estaremos dizendo que o que vale é vencer. Por outro lado, se valorizamos aquele que não chegou primeiro, mas se esforçou para concluir estaremos jogando luz sobre o esforço, a dedicação. Desta forma, pode surgir a solidariedade, o momento em que vencer pode ser partilhado com alguém que ajudou na conquista. A filosofia de ensinar algo mais do que simplesmente jogar basquete tem que estar à frente, orientando, e ao mesmo tempo dentro de tudo o que se faz, permeando todas as ações. Dar oportunidade a todos, mesmo àqueles que não parecem ter aptidão, acreditar na construção dos alicerces da formação do ser humano, mesmo que não possam ser vistos.
Com o basquete, temos a oportunidade de aprender a “ser gente” e, de quebra, aprender a defender, passar, driblar e fazer cestas.
Eis o que aprender...
Marco Costa