Passaram-se cinco finais de semana para eu conseguir escrever a segunda parte deste post. Mas enfim, saiu!
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O que mais me chama a atenção em viagens de competição quando acontecem é a possibilidade de você conhecer melhor cada atleta e de poder intervir de forma mais incisiva no que diz respeito à trabalho de equipe.
Não tem como escapar, você convive diariamente com cada atleta em sua totalidade. Acorda, treina, almoça, joga, janta e dorme no mesmo ambiente. De alguma forma, as viagens servem também pra você tentar entender melhor o que pensa de cada um e de que forma pode influenciar melhor cada atleta seu. Eu pelo menos penso muito nisso. Muitas vezes fazemos um perfil de nosso atleta no horário de treino e esquecemos que o treino é apenas um "recorte" do dia daquela pessoa. Em cada treino, cada um carrega consigo os problemas diários, as dúvidas fora dali e por mais que tentemos fazer com que ele naquele exato momento concentre-se apenas no treinamento, de alguma forma devemos perceber também que eles são influenciados pela rotina que vivem e o estilo de vida que têm.
E viajar para competir tem essa característica especial. Por um breve momento enquanto viaja e compete, você pode tentar extrair do atleta o máximo de entrega àquele momento e assim acaba tendo a chance de colocá-lo numa oportunidade de evoluir mais ainda. Individualmente e em grupo.
Foi assim que viajei para Belo Horizonte, em busca de conseguirmos um bom resultado, visto que temos uma equipe extremamente competitiva em nível nacional, mas também em busca de conhecer melhor cada atleta e tentar evoluir como técnico. Nesta busca de evolução de todos, vemos como o intercâmbio é essencial. Só o fato de poder enfrentar técnicos que conheço de longe, admiro e outros que passei a conhecer na própria competição já me fazia testar tudo que eu acredito que poderia fazer ali naquele torneio. De alguma maneira enquanto enfrenta e assiste jogos de outras equipes que não está acostumado a ver muito, você acaba assimilando e pensando sobre outras formas de jogar e essa possibilidade de repensar seu trabalho e como joga a sua equipe faz muito bem ao trabalho.
Profissionais que admiro e que tive o prazer de enfrentar. |
Quanto a trabalhar com um grupo jovem assim é uma experiência pra mim sempre renovadora. De alguma forma ser professor te dá algumas vivências que considero especiais. Por mais que já tenha vivido a minha adolescência e acredito que tenha vivido tudo muito bem, quando se é professor você tem a chance de reviver, ou pelo menos tentar entender, o que se passa com pessoas de uma idade que considera já ter tido esta experiência muito bem vivida. E estar com os meninos de idades entre 17 e 19 anos acaba me fazendo bem. Por um lado resgato tudo o que vivi nesta época. Por vezes recordava de minhas viagens com equipe sendo juvenil e muitas destas lembranças viraram histórias para eles. Por outro lado, você tem a chance, por já ter passado por algo parecido, de mostrar um caminho e direcioná-los a um melhor aproveitamento de tudo. E toda essa mistura de nostalgia com realidade, leva a um trabalho prazeroso de experimentar apesar de considerar extremamente cansativo.
E assim foi nossa viagem, entre os jogos, a percepção de quem ganhou confiança e de quem precisa ainda se soltar . Os altos e baixos de uma competição, as conversas no vestiário antes e após o jogo e as histórias que você acaba construindo com eles durante este tempo fora de casa. Dentro de quadra conseguimos juntos, com muita conversa e dedicação, evoluirmos comparado a quando chegamos à competição e tivemos a chance de enfrentar na final a grande equipe do Minas Tênis Clube. Além dos profissionais que respeito muito que lá trabalham, admirava também muitos atletas que a esta equipe pertenciam. Dois meses antes da competição estava em Brasília trabalhando de guia da Seleção Brasileira acompanhando os treinos e jogos de Raulzinho. Agora, estava tendo a chance de tentar pará-lo dentro de quadra com os meninos da nossa equipe. Além de Raulzinho, tivemos de tentar parar outros jogadores que acompanho de longe em competições nacionais de base e que vi o tanto que evoluíram. No jogo em si, fizemos uma final brilhante, com uma entrega incrível dos meninos aos que combinamos antes da partida e tivemos bons momentos à frente da equipe do Minas. Na reta final da partida com alguns lances decisivos, deixamos escapar o placar apertado e eles abriram 9 pontos. Diferença que acabou nos desestruturando um pouco nos minutos finais e que nos fez perder aquela partida por 7 pontos de diferença.
Ao final do jogo, já tentando pensar em tudo que vivemos naquela semana de competição, agradeci aos meninos por toda a entrega e pelo tanto que me ensinaram sobre grupo e sobre basquete naqueles dias. De alguma forma questionei eles até que ponto o fato de eu valorizar muito a equipe adversária e a qualidade deles, fez da nossa equipe satisfeita por apenas fazer "jogo duro" com o adversário. Já era um desafio que eu precisaria melhor no meu trabalho. Saí do jogo com a certeza de que éramos um grupo tão bom quanto eles e com plenas capacidade de vencê-los. Mas este desafio já era pra ser trabalhado para uma próxima oportunidade. Quando volto de competições assim e vejo garotos que sonham jogar basquete se entregando a um objetivo em comum e tentando evoluir, me empolgo com a chance de trabalhar cada vez mais com basquete mas ao mesmo tempo e pelas experiências já vividas acabo tentando conter minha empolgação, pois estes meninos por mais talentosos que sejam, ficam limitados a uma realidade Brasileira. Por que digo isto?
Porque este evento não tinha ninguém da CBB presente, é um torneio criado pelo Minas Tênis Clube, onde cada equipe convidada contribui com uma taxa simbólica de inscrição e por cinco dias, jogam 7 jogos com alguns dias tendo de fazer dois jogos por dia.
Esse tipo de torneio é bem comum em nosso País. Um clube ou uma sede, custeia boa parte da competição e convida as outras equipes de fora para participarem, com cada equipe custeando além da inscrição, algum custo como hospedagem ou alimentação para que não fique tão apertado para todos. Apesar da iniciativa destes diversos clubes espalhados pelo Brasil ser belíssima, eventos como este são a "foto 3x4" da situação do Basquete do nosso País. É muito normal ouvir nos congressos técnicos destes eventos, dirigentes e técnicos dizendo que fazem isso porque não podem esperar por uma iniciativa da Confederação Brasileira de Basquete.
Infelizmente, esta é uma triste realidade.
Temos uma geração belíssima sub-20 no Brasil e penso que a liga nacional que está sendo prometida para o ano que vem para esta idade, pode sim revolucionar o Basquetebol Brasileiro a médio e longo prazo. É preciso fazer algo por tantos meninos que fazem, lutam e se entregam pelo esporte que tanto amam como nós. Antes que eles desistam por não verem retorno algum.
Por fim, é impressionante como 5 dias fora da cidade podem influenciar tantas pessoas a serem melhores e a aprender cada vez mais.
Abraço à todos.
Um comentário:
Existem dentro do esporte atletas, técnicos e pessoas que são diferenciadas. Você pela sua sensibilidade, dedicação e alta consciência do papel de educador é uma destas pessoas. Retratou de forma brilhante o que é conviver em viagem com jovens jogadores. Se todos os técnicos tivessem esta consciência, toda viagem seria este grande momento pedagógico para todos, atletas e técnicos. Parabéns e abraços,
Ronaldo Pacheco
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