quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O poder do trabalho duro.

Em 2010 tive um experiência bem diferente. O Brasil, recém comandado por Ruben Magnano iria jogar um torneio preparatório para o campeonato mundial  e este torneio seria em Brasília. Acabei conseguindo ser guia daquela seleção como contei na época neste post aqui. Pois bem, passei por esta experiência com o único intuito de poder acompanhar o trabalho de Magnano de perto e conhecer ou tentar entender um pouco melhor como aquele nome consagrado do basquete agia e fazia suas equipes tornarem-se competitivas.




O que vi naqueles treinos foi algo que me influenciou nos anos seguintes. Assisti uma intensidade de treino impressionante e uma atuação de Magnano sensacional. Ele não perdoava os erros e não tratava os atletas como estrelas intocáveis. Ele corrigia, se indignava com erros (principalmente de falta de atenção) e também valorizava os acertos e pontos fortes da equipe. Dava atenção aos detalhes: posição de pés, número de dribles para poder dar o passe, ângulos de passes, distribuição do jogo na quadra, e claro, defesa. 

Foram quatro dias que me fizeram pensar muito sobre o que queria com basquete até aquele momento da minha vida e foram quatro dias também para refletir se um dia conseguiremos criar uma cultura de basquete assim por todo o nosso país.


Sim, digo isso porque não temos essa cultura. Vivemos num país onde os atletas quando se tornam consagrados ganham privilégios e não responsabilidades. Representamos um país onde temos problemas em cobrar dos grandes jogadores. Muitos técnicos ficam de "mãos atadas" em equipes se quiserem sobreviver nesse meio de "esporte profissional". E assim vamos passando esse ideal de formação desde a base. Os atletas que já se destacam um pouco ganham privilégios dos mais variados quando jovens. Treinam com menos intensidade, não precisam se dedicar tanto à questões defensivas e até aqueles que ganham bolsas escolares, muitas vezes não se preocupam com seu rendimento escolar, pois já são craques da bola e assim, intocáveis em seu meio acreditando que viverão para sempre daquele esporte. Esse ideal esportivo brasileiro é um dos contribuintes para termos uma escassez de talentos dentro e fora das quadras.

Formação integral também te dá bons resultados dentro de quadra.



E o que Ruben Magnano fez de tão diferente para tornar uma equipe que era promessa em realidade? Na minha opinião, ele impôs uma realidade completamente diferente do que vivemos por aqui no Brasil. Treinou duro estes jogadores, ganhou a confiança deles e deixou claro que a luta e briga dele é pelo melhor da equipe e não por um, por outro ou por vaidade. O engraçado disso tudo é que o resultado da mudança de postura foi imediato. A seleção brasileira mudou de postura radicalmente, ainda foi inconstante em muitos momentos, mas como se fosse "de repente", se tornou em uma das melhores defesas do mundo no basquete masculino.

Por que isso? Que mágica teria sido feita? 

Após a classificação brasileira para Londres no pré-olímpico eu infelizmente assisti a declaração de um técnico brasileiro de NBB dizendo que nada havia mudado e que apenas o espírito de patriotismo havia crescido dentro de cada atleta. É possível um "estudioso" do jogo dizer uma coisa dessa? O que seria isso? Cegueira? Inveja? Perda de noção da realidade?

Penso que Magnano teve bastante trabalho pra mudar o "espírito de patriotismo" dessa equipe, não?


O que importa e que vim aqui deixar claro aqui é que Magnano tem total mérito em potencializar essa equipe que  por anos foi apenas um grupo. E os atletas têm o seu mérito por se darem a chance de serem diferentes do que sempre foram. Independente do que aconteça hoje contra a Argentina, o Brasil é outra equipe, mas mesmo assim, essa mudança de "espírito" não é garantia de dias melhores para os próximos anos. Hoje, estamos a uma vitória de ficarmos entre os quatro melhores de uma Olimpíada, fato este que não acontece há mais de quarenta anos e a pergunta que fica no ar é: O que está sendo feito para formar as próximas gerações com uma mentalidade diferente desde o início? É uma pena não saber responder.


Por isso venho aqui enfatizar que precisamos aproveitar esse momento brasileiro, vencendo hoje ou não. Magnano tem contrato renovado para o próximo ciclo olímpico e nós precisamos aproveitar essa mentalidade de jogo para crescermos não só na formação de atletas, mas na formação dos próximos técnicos. Formar profissionais que acreditem no estudo constante, na correção diária de seus atletas, levando o treino como um aprendizado contínuo e ver se conseguimos passar por cima dessa máxima de termos técnicos algumas vezes ostentando títulos passados e ocupando cargos por nome, amizade, influência midiática ou politicagem.

Estes doze atletas, Magnano e sua comissão técnica têm a chance hoje de fazer história pelo Brasil e superar resultados de seleções brasileiras passadas em Olimpíadas. Mas que fique claro que caso isso não aconteça, não significa que o trabalho não foi bem feito ou que o treinador, antes incontestável, agora inventa muita "moda", como os corneteiros de plantão gostam de falar. O importante disso tudo é pensar que se Magnano conseguiu em dois anos mudar a cultura de uma geração já experiente, com rodagem e com sérios vícios de conduta e jogo, imagina então se começarmos a mudar nossas posturas, formando atletas para o jogo e para a vida desde sua iniciação? 

Mágica ou trabalho duro para tornar esta equipe competitiva?

Que o Brasil hoje possa fazer história, pois quero muito ser testemunha de um momento como esse e que não percamos o foco e a atenção para formar com muito mais qualidade as próximas gerações.