segunda-feira, 28 de novembro de 2011

One

Gosto muito desse vídeo (e música) e de diversas mensagens que ele passa.

Já o postei logo que criei esse blog, mas hoje resolvi postá-lo novamente.

Simplesmente porque ele me faz lembrar que equipe é um grupo só.

E esse mesmo grupo cai junto, levanta junto e se equilibra um no outro quando escorrega.

Sem mais.

Abraço a todos.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ter uma boa aula é direito seu.


Ter criado esse blog e o manter ativo com posts e atualizações, é uma maneira de diariamente me desafiar a livrar-me dos meus medos. Por muitos anos tinha ideias, vontade de dividir experiências, mas não confiava em meus pensamentos. Achava que dividir isso com os colegas aqui, seria uma atitude beirando a prepotência, à soberba, mesmo acreditando que meus pensamentos poderiam contribuir para a reflexão de tantos outros, ou pelo menos que se fizesse pensar sobre temas que considero relevantes na área em que atuo. 


Portanto parti para outro caminho. Tentei trabalhar minhas opiniões em meus trabalhos. Nunca abri mão de dar opinião com meus alunos, instigar os mesmos com questionamentos, provocá-los até que sentissem vontade, quase que uma necessidade, de emitir suas opiniões também. E aí foi o imenso ganho que tive. Quem é professor sabe do que estou falando. Diariamente somos colocados em situações, opinamos e vivemos experiências com os alunos que nenhum outro lugar havia conseguido até então, fazer refletir sobre tal acontecimento. É realmente um aprendizado intenso e contínuo. Muitas vezes discordo de algumas opiniões e de alguns alunos, mas acabo levando aquelas opiniões pra casa, reflito, e lá na frente, um dia, percebo que aquela fala que inicialmente havia discordado, faz sentido para explicar o pensamento daquele aluno. Hoje em dia quando discuto com um aluno, sempre gosto de deixar claro que eu entendo e respeito a opinião do aluno, mas que discordo em alguns pontos ou completamente (quando discordo de algum aluno) e tento expôr o meu ponto de vista sobre a mesma questão sem dar a entender que a minha opinião é superior ou a correta sempre. E esse tempo de troca em aulas e treinamentos esportivos, me deu uma segurança maior de vir aqui, criar um blog com meu nome e dividir experiências, sem o medo inicial de me achar confiante demais ou medo do que outros iriam pensar vindo aqui ler minhas ideias e pensamentos.


Estou a dizer tudo isso, porque acredito que uma boa formação, uma formação que faça o aluno pensar, refletir e construir seus conhecimentos, assessorado pelo professor, que também diariamente reconstrói suas ideias diante das trocas com seus alunos, é um direito que tem de ser ofertado pela minha pessoa aos meus alunos. É direito do aluno receber uma formação de qualidade, que não o direcione para um pensamento, mas que o contraponha algumas vezes, concorde em outras, mas que nunca, o desmotive a continuar buscando seu caminho, a tentar construir pensamentos concretos, lógicos e possíveis de serem tomados para sua vida. É obrigação minha oferecer conteúdo, discutir, propor, pedir desculpas quando erro, reconhecer as ideias inovadoras dos alunos, e não me confortar por estar numa posição hierárquica de "maior conhecimento".


Mas infelizmente não é isso que vejo por aí. O que tenho recebido de informações de ex alunos meus, que hoje estão em universidades buscando sua formação de qualidade, é de que existem professores, mestres e doutores acomodados, que pregam a mediocridade, que não se atualizam e que inventam na hora o que vão dar em aula, partindo do princípio de que a ignorância do aluno sobre tal disciplina, não o fará perceber que ele apenas "enrola" em sua aula. Que ele não se planeja, que ele não acrescenta e se vale do poder hierárquico docente para fazer qualquer coisa em aula. 

Acredite em mim, existem diversos professores assim. Essa semana, descobri alguns dentro da principal faculdade de Educação Física do DF (pelo menos é considerada como tal), lá descobri professores que por não ter nada planejado, baseiam suas aulas em carisma, sorrisos, e se escoram no discurso da aula democrática para deixar os alunos falando, debatendo, e não acrescentam em nada, não direcionam, não problematizam, propagando uma ideia aos futuros professores que lá estão estudando, que isso é tudo. Que dar aula assim é ser da linha da escola humanista (está muito longe disso), e é assim que eles vão levando. E sabe qual é o fim disso tudo? A história vai continuar tranquilamente. 


Tratar o aluno como um ser incapaz de lhe acrescentar algo, é agir com soberba sobre a educação.

Os alunos por não terem um senso crítico apurado deixam isso passar, "a matéria é tranquila, então beleza", se todos passarem então, melhor ainda (não estou sendo a favor da reprovação como demonstração da qualidade de ensino). No fim do semestre existe uma avaliação dos professores. E para manter o pacto da mediocridade, "não vai pegar bem eu contestar o método do professor, né? Quem sou eu para questionar o que ele passa de conhecimento?" E assim, os alunos assinam embaixo com esse tipo de aula e de professor.


Quero deixar claro que existem outros tantos professores competentes e envolvidos nesse meio, mas que por existirem esses bons profissionais, acabamos aceitando os outros que enganam, pra manter um equilíbrio de tudo. Discordo completamente dessa opção feita por todos nós. É direito seu, meu e de todos, exigirem uma formação de qualidade e um profissional que me faça pensar, que busque alternativas para se atualizar e que tenha bom senso ao planejar e dar suas aulas.

Aproveitando a fala de que é um direito seu. Venho aqui postar um vídeo excelente que fala sobre os direito humanos, com uma excelente produção e excelente texto. Pergunto ao fim deste vídeo a todos vocês:



Você tem lutado e exigido seus direitos quando está em algum processo de formação? Lembre-se: você tem direito de ter professores de qualidade. Não se sabote! Não se avalie pelo número de títulos que ele tem comparado a você. Avalie pela qualidade de sua aula e pela capacidade que ele tem de ser justo com o que programou para lecionar no semestre. Talvez a sua luta não ajude imediatamente a qualificar suas aulas, mas pode ter um impacto direto nos futuros alunos que virão a estudar por lá. Pense nisso.

Abraço a todos e fiquem com o vídeo.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

De que vexame estamos falando?

Mais uma vez escrevo um texto discordando das definições da mídia sobre o esporte. Dessa vez, era cobertura do Parapanamericano em Guadalajara. A matéria trazia resultados expressivos do Brasil que acabou sendo o vencedor no quadro geral de medalhas. Mas para "ensinar" um pouco mais sobre esporte, o repórter traz uma cobertura dos jogos de basquete onde o Brasil enfrentou a Argentina no masculino e feminino. No primeiro jogo, o Brasil perdeu de 24 pontos de diferença. E o repórter trata aquela derrota como vexame. Assistam o vídeo, por favor:

                          

Me perdoem o desabafo por aqui. Mas quem somos nós pra falarmos de vexame de esportistas amadores no Brasil? O que o nosso país oferece para estes atletas se superarem a atingirem resultados expressivos? E olha que estamos falando o país primeiro colocado no quadro de medalhas do Parapan.

Será que estes atletas abririam mão de sua participação porque ela seria permeada por um "vexame"? Pra mim apenas uma total falta de conhecimento da modalidade, na qual perder por uma diferença de 24 pontos não significa vexame, vergonha ou coisa parecida. Já perdi jogos de 30 pontos ou mais e consegui perceber que meus atletas haviam se superado e feito uma partida incrível. Mas essa é a opinião popular, que só valoriza o ápice, a vitória, custe o que custar. Triste realidade em que me decidi que de agora em diante, quando perceber que algo do tipo anda sendo veiculado, virei aqui tentar questionar se é isso mesmo que entendemos como vexame ou coisa que o valha.

Vexame é o que aconteceu (e ainda está acontecendo) aqui em Brasília no Mundial de Patinação. Os mais de mil atletas de 32 países têm a disposição deles um ônibus e uma van para participarem da competição. Além disso, devido as chuvas na cidade, o ginásio Nilson Nelson foi tomado por goteiras no meio da pista que foram "remediadas" com baldes, mas que acabaram por cancelar disputas, tamanha a chuva "inesperada" para esta época. O ginásio também foi tomado por mosquitos e ao tentar se tratar de forma emergencial esta questão, a empresa chamada para consertar a cobertura se negou a prestar serviço, devido a antigo calote realizado pelo Governo do DF. Os banheiros da competição são sujos, sem papel higiênico e onde deveria se ter uma estrutura para alimentação de atletas e delegações, existe um barzinho vendendo "lanches". Isso está acontecendo no 56º Campeonato Mundial de Patinação, se você mora em Brasília, vá lá conferir e se indignar.

Clique aqui se você quer saber um pouco mais sobre o que é dar vexame.


Vexame é fazer isso com o nome do Brasil. Vexame é tratar o esporte como uma atividade de brincadeira, encostada na lista de prioridades de formação humana. Vexame maior está ao lado do Nilson Nelson, com o ginásio Claudio Coutinho "entregue às baratas", espaços públicos esportivos enferrujando, escolas por todo o Brasil com quadras destroçadas, mal conservadas e com números gigantescos de crianças participando de projetos sociais nos sites do governo como se tudo estivesse evoluindo e bem.

Vexame é tratar o Ministério do Esporte como cabide de empregos como foi feito nos últimos anos, vexame é o governador do DF não ir a abertura da competição de patinação aqui citada, neste domingo, com medo de ser vaiado ou receber duras críticas e cobranças.

Vexame é brincar de governar, gastar milhões com assessores. Vexame é falar que somos o país do futebol com uma diversidade imensa que temos em nosso país (Graças a Deus!). Vexame é gastar milhões com esporte de alto rendimento e não gastar nem perto do mesmo montante com o esporte de formação, com formação de professores capacitados.

E eu ainda tenho de assistir uma matéria vendo cadeirantes brasileiros (já trabalhei com esta modalidade e sei a dificuldade que eles passam) perderem um jogo e serem rebaixados como atletas que em uma dia de disputa deram um vexame para o nosso Brasil.





sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Entre aulas e piadas.

Era uma aula de Educação Física no início do ano, e sempre de início, é preciso se preocupar com algumas tarefas importantes que precisam ser pontuadas em aula. Umas das principais tarefas no início do ano que vejo nas aulas desta disciplina, é o fato de ir, aos poucos, formando um conceito do que vai ser trabalhado durante todo o ano na escola. Sempre acontece de entrarem alunos novos e muitos ainda estarem se conhecendo. Neste caso que vou contar, eu também era professor novo, e aí existe um ingrediente a mais, pois quando somos novos no ambiente de trabalho, temos também de vencer a questão da imagem do professor de Educação Física na escola. É preciso vencer a imagem de que também temos algo a oferecer como conteúdo (tema para futuro post), que damos aula e não apenas rolamos a bola (infelizmente acontece demais por aí) para todos jogarem se "se divertirem" (nem todos se divertem e aprendem algo nesse formato).

Uma aula decente de Educação Física é feita de práticas e momentos de conversa e reflexão também.


Pois bem, além de conhecer os alunos, entender que ainda estão se conhecendo e superar a ideia de que na nossa área não se dá aula e apenas se recreia, era preciso superar outras questões. Quando tratamos de jogos, esportivos ou não, o que acontece nas aulas são situações riquíssimas para serem trabalhadas. Nem todas são muito positivas. É muito comum os alunos agirem de forma preconceituosa, egoísta e corporativa (no sentido pejorativo da palavra). Muitos alunos expõem tranquilamente que não querem ficar em determinada equipe, pois aquela equipe é mais fraca ou porque determinados jogadores são piores e irão atrapalhar seu rendimento. Essa situação é muito comum, mais evidente entre os mais novos, talvez pela ingenuidade e total franqueza, e um pouco mais velada entra os mais velhos.

Não é tão simples "negociar" durante as aulas nestas situações. Mas sempre tento mostrar que aquela equipe é composta por diferentes pessoas de diferentes tipos de habilidades. Que quem reclama também tem seus defeitos e que seria interessante todos trabalharem uma habilidade em comum, que seria a habilidade de organização, posicionando, se comunicando e extraindo o melhor de cada um para um rendimento proveitoso da equipe. Mas pelo tempo de trabalho e experiências vividas, sempre gosto de deixar claro aos alunos que organizar-se e tentar fazer o melhor não significa que irá vencer. Neste tempo de aula, muitos alunos já se esforçaram ao máximo, deram uma chance para o meu discurso e fizeram o máximo para tentar vencer. Mas como muito de praxe acontecia, aquela equipe que não vencia ou que não conseguia colocar 100% em prática do que havia combinado, justificava a antiga reclamação pra mim:

"Tá vendo, professor!? Eu não te falei que não ia dar certo? Não jogamos nada, não vencemos e você nos colocou em uma equipe mais fraca!"

É importante fazer com que os alunos percebam que o jogo vai além do resultado


Essa situação é riquíssima, pois é neste exato momento que posso falar sobre alguns valores importantes que acontecem na aulas de Educação Física. Primeiramente falo de que não podemos julgar a aula ou jogo se foi bom ou não pelo resultado. "Se venceu, foi ótima a aula, se perdeu, foi tudo uma desgraça!" É preciso superar mais uma vez esse discurso. E em consequência disso gosto de falar que é importante enxergar o processo de tudo o que aconteceu. Quais foram as falhas na organização? O que faltou para transformar as ideias criadas em boas práticas? E o adversário? Não teve seu méritos?

Enfim, tudo isso pra dizer que a discussão que sai disso tudo é muito proveitosa se você tiver paciência para lidar com essa fase da maturidade de seus alunos. É você o responsável e a pessoa mais madura naquela aula (na teoria seria você) para poder ouvir as opiniões, reclamações e discordâncias, para tentar tirar algo daquilo tudo. Isso sim é trabalhar o esporte, o jogo e a aula de Educação Física em algo formador de opinião crítica e educacional.

A intervenção do professor pode ser o diferencial.
Muitos professores colocam a culpa no esporte por este tipo de pensamento e eu acho uma grande inverdade. Isso é um senso comum, uma distorção existente. E a prova disso é que diversos adultos, pessoas ditas equilibradas e sensatas, quando se encontram em uma atividade de jogo e confronto, acabam atuando e se comportando da mesma maneira, alegando que o esporte permite este tipo de destrato, preconceito e destempero. Eu condeno completamente isso e credito muito disso à nossa cultura. A maneira folclórica como tratamos o jogo e o esporte. Essa é a maneira como infelizmente nossa área é vista. Como uma grande brincadeira e não como uma extensão da nossa formação humana.

Nesta turma em que eu era novo na escola, certa vez uma equipe que dividi para o jogo, veio reclamar comigo dizendo que não iam nem ter chance de jogar e que aquela partida seria como se uma equipe da Série D fosse enfrentar uma da Série A do campeonato brasileiro de futebol. Gostei do exemplo deles e fui além. Perguntei se eles se lembravam do que havia acontecido no mundial interclubes de futebol meses antes, onde uma equipe desconhecida chama Mazembe, venceu a equipe do Internacional de Porto Alegre e foi fazer a final do mundial de clubes contra a Inter de Milão. Aqueles que mais reclamavam e se achavam injustiçados foram se calando e ficaram pensativos, os que sofriam o preconceito de serem indiretamente chamados de "perna de pau", foram se soltando e lembrando que a equipe havia superado e feito o contrário do que esperavam dela. 

Tentei usar a equipe do Mazembe como inspiração para uma boa reflexão.

Fui um pouco além e contei que assisti o jogo e que o que me surpreendeu mais do que a vitória sobre o Inter de Porto Alegre, foi o fato deles entrarem para a final extremamente confiantes na vitória também contra o Inter de Milão. Na final eles perderam por 3x0, mas ao meu ver, eles tentaram ao máximo vencer aquela partida, até de forma atabalhoada tentando cavar penalidades máximas, mas acima de tudo, haviam se dado a chance de fazer o melhor deles e superar seus limites. E dentro desta proposta, fizeram história como a primeira equipe fora do eixo América-Europa a disputar uma final do Mundial de Clubes.

Chegando em casa após aquela aula, fui na internet procurar algum vídeo que falasse sobre a participação do Mazembe no Mundial para passar aos alunos. Ao procurar, achei este onde me mostrava uma outra leitura daquela final. Uma leitura que considero pobre e midiática. A leitura de que o esporte é uma grande piada. Nada contra as piadas, mas muito contra a só conseguirem falar de esporte hoje em dia nesse formato. Naquela hora pensei que meus alunos naquela turma são muito mais vítimas do que responsáveis por pensarem daquela forma preconceituosa, acreditando piamente que não valia de nada o esforço quando pensavam que perderiam fácil. É claro, eles são "bombardeados" por este tipo de informação diariamente e nossa cultura adora valorizar o folclore ao invés de tratar o esporte como uma das formas de instruir o nosso povo que tanto carece de boa informação. 

Aqui o vídeo onde eu acreditava que poderia ajudar os alunos a pensarem criticamente sobre a ideia deles:


Nossa!!! A culpa então de tudo isso é da mídia, da imprensa? É claro que não! Mas só quero mostrar como há poucos anos de sediar os mais importantes eventos esportivos em nosso País, não nos preocupamos em formar gerações que entendam melhor sobre formação pessoal, esportiva e profissional. Isso acontece na tv, mas isso também acontece por demais nas escolas, nas ruas e em todo quase todo lugar. "Pra que me esforçar se as chances de vencer é pequena?" É um pensamento que criticamos, mas que por diversas vezes praticamos sem notar. E o esporte, logo ele tão criticado nas escolas, poderiam e deveriam trabalhar melhor estas questões como forma de educação.

E vocês? O que acharam deste vídeo? Confesso que não gostei muito e é por isso que tenho procurado fazer outras coisas no horário do almoço que não seja assistir tv.

Venho aqui em breve falar um pouco mais sobre essa nova moda do "Piadinha Esporte Clube"

Abraço à todos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O gigante está doente.

Antes de ler o post, reveja, ou veja pela primeira vez, este comercial:


Assisti esse comercial tem pelo menos 3 semanas. E assim que o assisti, o procurei na internet para ver inteiro. Pensei duas vezes antes de vir publicá-lo, pois o primeiro empecilho que vi foi o fato dele estar fazendo propaganda para uma empresa de bebida alcoolica. Mas enfim, tentei passar por cima disso, pois concluí que o comercial havia instigado meu senso crítico e pensei que poderia ter feito o mesmo com tantos outros.

A cada ano que passa tenho me tornado menos fã de televisão. Hoje em dia assisto a poucos programas, pois me sinto muitas vezes próximo da idiotice ao ver o que a tv transmite. Nos comerciais então, pior ainda. Essa modinha dos comerciais terem que ser, quase por obrigação, muito engraçados (o que geralmente não são, mesmo tentando ser), me incomoda bastante. E a minha maior frustração na televisão quando vejo telejornais esportivos, é ver que a modinha da piada e gracinhas também invadiu esse meio. Confesso que fico numa luta interna entre ver as reportagens e desligar a tv, mas isso certamente será melhor contado futuramente em outro post aqui no blog.

O comercial então me despertou interesse por arriscar-se a falar do Brasil. Inicialmente me tocou muito mais por saber que no Rio de Janeiro há uma extensão rochosa beirando a orla da cidade, que em uma vista panorâmica parece formar a imagem de uma pessoa deitada. Este "monumento" natural é conhecido como "Gigante adormecido". Em um minuto de propaganda sem falas e com apenas uma frase de desfecho, o comercial tenta mexer com nossos sentimentos em relação ao nosso País. Era tarde da noite, estava perto de dormir, mas não tive como deixar passar a confusão de sentimentos que o comercial me causou. 

À esquerda a pedra da gávea (cabeça) e à direita o pão de açúcar (pé).


Inicialmente me identifiquei e me senti orgulhoso. O amor que sinto pelo meu País, vi ali representado. O orgulho de ser parte de uma nação que sofre, mas que de alguma forma tenta ser forte e crescer a cada ano, me fez olhar a propaganda com um olhar romântico, empolgado imaginando a exposição que o Brasil terá agora sendo um dos centros esportivos nos próximos anos ao sediar grandes eventos. 

Mas o romantismo não durou muito. Como me considero uma pessoa bem crítica ao que recebo de informação, comecei a me questionar: Que crescimento é esse do qual estou falando? E de que exposição estou pensando? A exposição de um País que está entre os países que mais "investe" no esporte de alto rendimento no mundo, que vai gastar bilhões e mais bilhões para construir uma estrutura para receber os jogos nos próximos anos, utilizando-se de um discurso onde versa que deixará um imenso legado para o País (você se lembra do legado que o Pan 2007 deixou?) e que continuará deixando de investir em gestão e políticas públicas para o esporte, qualificação profissional na área de formação esportiva e de professor de Educação Física. País que continuará deixando as escolas e o senso comum acreditando que a Educação Física na escola só serve pra brincar e passar tempo ou que serve para detectar talentos esportivos e espelha nossa performance olímpica (nem o 8, nem o 80.. é muito mais que isso).





Temos hoje, um Brasil que tenta se agigantar de forma errônea: Que "aluga" militares para ser campeão dos jogos mundiais militares (temos mesmo a melhor formação esportiva militar do mundo?), que leva boa parte de seus atletas de ponta para tentar mostrar que somos potência esportiva no Pan (dá uma olhada nesse link aqui se você acredita que estamos entre os melhores) enquanto outros países, ditos de ponta no esporte, tentam mesclar grandes atletas e jovens promissores que precisam de experiência internacional. 



Esse é o mesmo Brasil, aquele que é gigante pela própria natureza, que é marcado pelo uso indevido do dinheiro público, que faz estádios em cima da hora e aperta o passo para conseguir as obras de urbanização  das cidades sediantes destes eventos, atropelando projetos, e que por falta de um planejamento decente, vai gastar muito mais do que deveria com estas obras, e que mesmo assim, apesar de melhorar estas cidades, terá de fechar ruas, proibir o direito de ir e vir da população para conseguir fazer um evento seguro, e que no fim das contas dirão de boca cheia: "Tá vendo! Deu tudo certo! Mesmo contra todos que torciam contra."

Percebendo apenas algumas destas questões (isso porque existem inúmeras outras), me pergunto como anda a vida deste gigante. Ele acordou, até concordo, mas penso que ele mesmo que acordado, está doente. Deve ter adoecido por ter sofrido muito tempo com complexo de inferioridade e, sendo assim, acabou buscando caminhos errados para tentar se firmar. Esse tipo de conduta acabou fazendo com que o gigante sofresse e entrasse numa depressão profunda, onde ele sabe que é bom, sabe que tem potencial, mas por tempos agindo de forma errada, está pagando com a consciência por estar acostumado a querer as coisas de maneira fácil. Muitos olham para o gigante, admiram a sua beleza e sua imponência e dizem: "Este é o gigante do futuro!" Mas internamente a história é diferente. Lá dentro do seu consciente, há pensamentos onde afirmam que há muita coisa errada nele e que são questões difíceis de mudar.

Dessa forma, o gigante precisa de uma boa terapia (talvez seja necessária medicação), de uma franca conversa consigo mesmo e acima de tudo, precisa tomar uma decisão firme para sua vida.

 "Afinal, o que você quer da vida, gigante?
 Vai continuar orgulhoso de ter se deitado em berço esplêndido?" 




A hora é de mudança e a cada vez que sinto esse orgulho de ser brasileiro ao ver uma propaganda como essa e a cada vez que descubro que sou parte, uma pequena célula que compõe este gigante, tenho vontade de vir aqui falar que este corpo no qual habito, está adoecido, viciado em costumes e em uma vida que tenta muito mais parecer ser, do que realmente tenta lutar para ser e fazer algo diferenciado e significativo.

Cada um de nós deve lutar pela saúde do nosso Gigante Brasil. Cada um de nós é responsável por um pouco do que acontece de errado. Devemos assumir nossos erros e lutarmos para entrarmos no rumo certo. A política esportiva adotada para estes mega eventos já pegou o caminho errado. Já estamos em cima da hora e a torcida agora é para que fique o menos errado possível dentre tantos erros cometidos. Mesmo assim, ainda temos a chance de fazer algo, de votar melhor, de nos envolvermos mais, ou então vamos esperar por outra propaganda, que numa noite qualquer de surpresa, nos lembre do orgulho imenso de ser brasileiro, mesmo sabendo que estamos muito longe ainda do ideal.

Abraço a todos.