sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Como se tornar um jogador ?


A primeira vez em que fui ler este texto, criei um preconceito enorme por causa do título(é este título que está aí em cima). Mais me parecia com essa moda mundial de livros de autoajuda no qual se tem uma pergunta determinista em destaque que parece que solucionará todos os problemas da sua vida do que com um artigo interessante sobre basquete.

Mas o texto é sim interessante e contribui de alguma forma para a leitura de atletas que querem fazer algo para melhorar o seu basquetebol. Utilizava este texto com algumas equipes de base que já trabalhei e venho aqui dividir este material com vocês. Lembrem-se: Sejam melhores a cada dia.  



Tornando-se um jogador mais completo conseguirás mais minutos de jogo.


Se você quer jogar mais minutos, primeiro deverá se olhar no espelho e perguntar: como posso ajudar minha equipe? Devido ao basquetebol estar cada vez mais voltado aos aspectos físicos, muitos jogadores estão perdendo o enfoque correto e a objetividade de suas próprias habilidades.

Ser objetivo é uma das chaves que permitem a eles amadurecerem como jogador. Os atletas que não pensam desta forma deixam de trabalhar os seus fundamentos e habilidades de jogo, aspectos que lhes permitem ficar mais tempo em quadra. Depois, olham para seus companheiros e seu técnico para buscar a causa do pouco que jogam (a culpa é sempre dos outros).






As firulas podem afetar seu crescimento como  jogador.
 
Os melhores jogadores são suficientemente inteligentes e capazes de separar a ficção da realidade. Creio que a televisão e os restantes meios de comunicação tendem a super valorizar o jogo espetacular e o atleticismo dos jogadores atuais, digamos que seja um mal necessário. Não obstante, as firulas podem te cegar. Faz com que a atenção da maioria dos jogadores se distancie de um dos conceitos mais básicos, algo que fará com que jogue mais minutos.

Aumente suas habilidades (fundamentos)

Tudo isto me leva a um ponto crítico, seu técnico quer que você jogue. Não conheço nenhum técnico que não queira dar minutos a um jogador com talento e que principalmente seja capaz de produzir dos dois lados da quadra. Sem dúvida, o técnico recortará minutos daqueles jogadores que somente são capazes de uma coisa só dentro de quadra. Isto significa que deverá ser um bom reboteiro, ou um bom defensor, ou um grande passador. Você poderá jogar mais se for um jogador multidimensional.

Posição de tríplice ameaça
A posição de tríplice ameaça não significa que você deverá jogar só. Os técnicos levam anos falando do trabalho da tríplice ameaça. Esta é naturalmente a posição que te permite arremessar, passar ou driblar à partir de uma recepção ou proteção de bola. Enquanto muitos técnicos dão ênfase à esta posição, os jogadores jovens cometem o erro de não gastar tempo suficiente treinando o passe ou os fundamentos de corte/penetração que lhes permite dispor de uma verdadeira posição de tríplice ameaça.

Hoje em dia vários são os jogadores que levam a bola a esta posição, mas não são capazes de passá-la a um companheiro ou driblar de maneira efetiva quando são pressionados. Como poderemos dizer que a posição é boa se não soubermos executar os fundamentos de arremesso, passe ou corte?




Pratique os pequenos detalhes.

Para chegar a ser um jogador completo terás que praticar/treinar mais tempo que seus companheiros, inclusive nos finais de semana e feriados, enquanto os outros se divertem. Será necessário que treine pelo menos 15 minutos diários os fundamentos: passe, rebote, drible e trabalho defensivo de pés, enquanto os outros provavelmente estarão arremessando. Não estou sugerindo que não treine seu arremesso, estou dizendo que trabalhe mais os outros aspectos do jogo.

Durante mais de vinte anos como técnico, um grande percentual das substituições que realizei durante os jogos foram porque necessitava alguém em quadra capaz de passar melhor, cortar melhor ou defender em um momento determinado. Os jogadores que se mantém o maior tempo em quadra são exatamente aqueles que são multidimensionais, quero dizer, capazes de realizar várias coisas úteis para a equipe, são jogadores que desenvolveram bons fundamentos de passe, capazes de manter a bola e não perde-la contra uma pressão, defender de forma sólida e rebotear de forma consistente independentemente de sua estatura. É seguro que seu técnico poderá trocá-lo por ter errado um arremesso ou ter perdido uma bola contra uma defesa forte, mas será menos provável se você é um jogador multidimensional, inclusive se você cometer um erro.


Treinar e praticar, sua melhor oportunidade de melhorar.

Como você pode se tornar um jogador multidimensional? A resposta é muito fácil: Trabalhe cada conceito básico do jogo exaustivamente, cada fundamento, como se fosse uma oportunidade de conseguir seus objetivos. Você deve   se esforçar em executar cada fundamento ensinado por seu técnico, não de forma correta, mas sim como um verdadeiro MAESTRO. Se você o fizer sem intensidade, deixará de melhorar e isso ao largo dos anos é   cumulativo; logo terá uma idade avançada e não estará  dominando os fundamentos como deveria ter automatizado durante os anos anteriores. Você haverá se tornado um jogador unidimensional. Este tipo de jogador não poderá participar dos minutos de qualidade do jogo.

(Texto traduzido do site Bbhighway.com, de autoria de Allan Lamber)



"I´m not nearly the player that I want to be"
( Eu não estou nem perto de ser o jogador que eu quero ser)



Kevin Durant em entrevista após a conquista do mundial.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quem são os seus ídolos?

Ainda estou perplexo com o que li. Não sei o que comentar em respeito à pessoa e não quero parecer marcação da minha parte. Mas quero apenas trazer a entrevista pra cá e dizer que, se tivesse de escolher entre ficar em 9º lugar tentando criar um trabalho de equipe, errando e descobrindo que ainda teremos um longo caminho pela frente e sermos campeões nos moldes do basquete citado por Oscar, eu preferiria ainda o 9º lugar.
Vale lembrar que na época de Oscar, a melhor posição em mundiais que o Brasil obteve foi o 5º lugar  em 1986 e que nesta época não havia ainda o desmembramento de Ioguslávia e União Soviética.

Enfim, fiquem com a entrevista que precisa ser divulgada para repensarmos quem são os nossos ídolos.


10/09/2010 - 07h00

Oscar, homenageado, critica jogadores da seleção: "falta colhão"

Murilo Garavello
Em Istambul (Turquia)
Oscar Schmidt está na Turquia para ser homenageado no dia da final do Mundial. Maior cestinha da história da competição, será introduzido no Hall da Fama do basquete. Hospedado no melhor hotel de Istambul, está assistindo a todos os jogos na área VIP, ao lado da mulher, Cristina.

MAIOR CESTINHA DOS MUNDIAIS DA FIBA

  • Murilo Garavello/UOL


    Oscar vê partida entre EUA e Rússia com esposa. Ex-atleta será homenageado ao final do Mundial
  • Doug Pensinger/Getty Image


    Durante participação em Atlanta-1996, na última vez que o Brasil esteve nos Jogos Olímpicos
Exibindo o mesmo estilo franco de sempre, Oscar conversou com o UOL Esporte no intervalo do jogo entre EUA e Rússia. E disparou, sem papas na língua, seus pontos de vista sobre vários assuntos, inclusive seleção brasileira. As opiniões dele são contundentes:
Homenagem
“Estou hospedado em um dos melhores hotéis da cidade, senão o melhor. Estão me tratando bem. É uma homenagem da Fiba e, indiretamente, também da CBB. Fui almoçar com meus amigos Paulinho Villas-Boas e Cadum em uma churrascaria e quando fui pagar já estava pago pela CBB”.
“Estou muito feliz. Esse prêmio é muito importante. Briga pau a pau com o dos EUA. Espero que um dia eu ganhe lá também. Quero muito, não vou negar. Mas é bom começar pela minha instituição, a Fiba, pode onde joguei durante tanto tempo”.
Maior cestinha da história dos Mundiais
“Ah, é? Sou cestinha de Mundial, também? Quantos pontos eu fiz? (843, o mais próximo em atividade é Dirk Nowitzki, com 425) Não vai passar nunca!”
Seleção brasileira no Mundial
“Não dá para parabenizar time que ficou em 9º. Só faltava essa. Não vou cair nessa armadilha. Não dá também para criticar, quer dizer, tenho divergências sobre algumas coisas técnicas, mas depois de muitos anos começou a se fazer as coisas certas no brasquete brasileiro. O maior serviço para o basquete brasileiro foi o Carlos Nunes aprovar uma reeleição só. A Liga de clubes existe e eu me sinto honrado porque eu que comecei isso daí. E parece que voltou a vontade de os jogadores defenderem a seleção. Não dá para pedir resultado imediatamente".

O QUE OSCAR FALOU

Não dá para parabenizar time que ficou em 9º. Só faltava essa. 
Sobre o desempenho da seleção no Mundial
Ninguém vai meter uma bola no fim? Falta colhão. O único acostumado a meter bola no fim é o Marcelinho, mas botaram ele para jogar a conta-gotas”.
Sobre a dificuldade da seleção em vencer jogos equilibrados
Jogadores jogam 37 minutos. Homens, jogam os três minutos finais.
Sobre a ausência de um "definidor" no time
O Magnano tá implantando o jogo dele. Agora, duvido que ele ia me tirar de quadra.
Sobre ser um jogador-estrela
Turquia. A arbitragem vai ajudar.
Quando perguntado qual equipe vencerá o Mundial
"Agora, o resultado, mesmo, foi ruim. Tivemos quatro jogos parelhos e perdemos três. A Argentina é um dos melhores times dos últimos anos, mas você não pode deixar o Scola fazer 10 pontos em três minutos".
A falta de um definidor“A gente não podia ter deixado o jogo ser decidido no final, porque hoje em dia não conseguimos ganhar jogo no fim. Ninguém vai meter uma bola no fim? Falta colhão. O único acostumado a meter bola no fim é o Marcelinho, mas botaram ele para jogar a conta-gotas”.
“Basquete brasileiro precisa de um definidor. Jogadores jogam 37 minutos. Homens, jogam os três minutos finais. Veja o jogo da Sérvia, ontem. O menino (Teodosic), faltando três segundos, meteu a bola de lá da PQP. E pá, caixa. Ele chuta para meter. É essa atitude que eu admiro. Sérvia é o time que mais produz jogadores com culhão”.
Ele era um “jogador-estrela”“O Magnano tá implantando o jogo dele. Agora, duvido que ele ia me tirar de quadra. Porque se me der 20 minutos, eu faço 20 pontos. Comigo era garantia de um ponto por minuto. Pelo menos. Se não me colocar em quadra, na segunda vez eu não faço parte do time. Se na primeira seleção eu ficasse sentadinho, não voltaria na próxima. Esse é o mau do jogador-estrela (risos). Eu era, claro. Sempre carreguei meus times nas costas, com a confiança indiscriminada dos meus companheiros e treinadores”.
Favorito para o título do Mundial
Turquia. A arbitragem vai ajudar. Eles têm um time muito bom e têm um técnico sensacional. Joguei quatro anos com o Tanjevic como técnico no Caserna. Devo demais a ele. Foi um dos melhores técnicos que eu tive, junto com Cláudio Mortari e Ari Vidal".

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

E agora? Qual caminho a seguir?

Após uma derrota sofrida como a do dia 7 de Setembro, perguntas ficam soltas pelo ar. E dessas perguntas que foram feitas em sites e comentários espalhados pela internet, a que prefiro discutir é:

Qual caminho seguir a partir de agora?




Apesar da derrota ter sido extremamente dolorosa com uma movimentação repetida da seleção da Argentina abusando do Pick and Pop(movimentação que explicarei futuramente por aqui) de Scola e de não termos variado a cobertura e saída de bloqueios, tenho a plena certeza de que estamos melhor e em um melhor caminho do que antes. 





É claro que perder deste jeito, ver Huertas saindo chorando do jogo após uma atuação(na verdade um mundial inteiro) sensacional, dói bastante. De alguma forma dói ter de ter paciência para trabalharmos até vermos o Brasil em uma melhor colocação. Mas é o que nos resta fazer e é o que temos de seguir de agora em diante.


Mas sou extremamente confiante de que Rubén Magnano agora terá uma boa chance nas mãos. Terá um tempo maior para olhar outros jogadores, investir em um início de renovação e assim, buscar um Brasil mais completo, que tenha atletas aptos não só na meia quadra de ataque, mas também defensores de qualidade que se entreguem por completo a um sistema de defesa que possa tirar os adversários de posição mais vezes. 



Será tempo também pra potencializar outros atletas que estão em plena fase de amadurecimento. Temos uma geração de atletas entre 18 e 22 anos espalhados pelo Brasil com muito talento. E imagino que Magnano agora terá a chance de mesclar alguns destes jovens com aqueles que ainda devem seguir em nossa Seleção motivados a conseguir uma vaga para nossa volta às Olimpíadas.





Enfim, agora será um momento de cada técnico seguir seu trabalho em seus clubes ou escolas, sejam categorias de base, seja adulto. Cada técnico agora é em potencial um responsável pela renovação do Basquete Brasileiro, e por isso devemos ser responsáveis também por não deixar uma filosofia antiga que deu vitórias ao Brasil em um antigo modelo de basquetebol voltar a reinar. Não é porque ainda não tivemos êxito em nível mundial que o trabalho não está evoluindo. Confesso que temo nestas derrotas retrocedermos para o basquete de dois jogadores que pontuam e que limitam o poder de superação e aprendizado de outros.

 A beleza do basquetebol está na diversidade que ela pode criar em seus praticantes. 



Talvez se Kevin Durant tivesse nascido no Brasil, teria sido treinado apenas para ser um pivô nos moldes da geração Mão Santa, apenas podendo brigar por rebotes e fazendo bloqueios, tendo seu talento minimizado a um basquete que servia a poucos e diminuía a muitos. Talvez se Luis Scola tivesse também nascido por aqui, teriam o achado alto mas um pouco pesado e lento pra ser um grande pontuador.

Vamos seguir em frente, trabalhando, treinando e incentivando nossos atletas a serem melhores a cada dia. A entenderem do jogo, terem leitura de ataque, de defesa e que se libertem do jogo escravizador que reinou no basquetebol brasileiro por muitos anos. Este esporte belíssimo e apaixonante não é apenas para alguns que se dizem santificados com um dom. Este esporte é pra quem treina e aprende que diante da diversidade e versatilidade, se sai a qualidade não só de um jogador, mas de um grupo.

Prova disso é que temos um excepecional PIVÔ como um dos destaques do campeonato mundial.

Aprendam a ser críticos com tudo que leem e escutam sobre o basquete brasileiro. Ainda falta muita coisa, mas temos chances de entrar no caminho certo nas mãos de Rubén Magnano e se continuarmos cada um fazendo a sua parte. 

Está na hora de olharmos pra frente e não para o retrovisor.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Voltando em dia histórico

Hoje completam 3 meses que não passo por aqui pra atualizar este blog. De alguma forma me sinto decepcionado por tanto tempo sem escrever. Mas ao mesmo tempo sei que nestes 3 meses foram tantos acontecimentos, que precisei dar um tempo de tudo para voltar com força total. Quero nestes primeiros posts após minha volta, me dedicar a estes acontecimentos que ocorreram nestes 90 dias. E hoje é um dia especial para um destes eventos. Hoje, além de completar 3 meses, é também o dia em que o Basquete Brasileiro vai ser posto à prova. E é justamente sobre esta seleção que uma de minhas histórias destes 90 dias sem atualizações passa. Vale deixar como registro.

Foi no final de julho em que descobri que os treinos da Seleção Brasileira seriam abertos para os técnicos assistitrem. Leio o blog Rebote do jornalista Rodrigo Alves quase que diariamente. Me identifico e sinto uma inveja da maneira que ele consegue manter um blog além do trabalho desgastante do dia a dia. Lá, ele comentava que seria um momento em que os técnicos poderiam acompanhar e aprender um pouco com o trabalho dos argentinos Rubén Magnano e Fernando Duró.



Confesso que fiquei inquieto com esta notícia. Apesar de ser apaixonado por basquete e me considerar uma pessoa patriota. Admiro e venero a mentalidade, filosofia e o trabalho feito com o basquetebol na Argentina. Mais precisamente de Rubén Magnano e Sérgio Hernandez. Sobre Hernandez, já o tinha visto de perto em jogos de sua equipe (Penharol) contra a equipe do Universo Brasília em torneios sulamericanos. Mas Rubén pra mim, parecia ser algo inalcançável. Não sabia quando o veria em quadra aqui pelo Brasil. Até que a CBB anunciou Rubén como técnico. Desde então marquei comigo mesmo um compromisso de ver este profissional trabalhando.


Infelizmente meus compromissos profissionais me impediram de ir ao Rio para poder assistir aos treinos da seleção, e eu já me via conformado em acompanhar o trabalho de renovação de Rubén somente após o mundial.

Sérgio Hernandez e Rubén Magnano
Mas no dia 3 de agosto recebi um convite inesperado. Um grande amigo que sabe da minha admiração pelo técnico Magnano, estava na organização do Torneio Super Four que seria realizado em Brasília, me ligou perguntando se eu teria interesse de ser guia da delegação Brasileira neste evento. Era uma decisão difícil de ser tomada ali. E por isso, levei cerca de 3 segundos para responder um SIM!

Me virei no meu trabalho e fui liberado para acompanhar a seleção de quinta-feira à domingo.
Eu nem acreditava, poderia ver de perto os treinos de Rubén Magnano. Estava sendo recompensado por sei lá o que Meu Deus!

E a quinta-feira chegou! A seleção chegou com aquela correria básica de uma seleção recheada dos melhores jogadores brasileiros na atualidade e eu estava lá entre eles. Já no ônibus à caminho do hotel, vivi o principal momento que considero desta experiência. Todos os atletas e componentes da delegação foram no andar de cima do ônibus no caminho aeroporto-hotel. Eu vim sentado no andar de baixo. Sabia das obrigações de um guia e uma que me cobrava bastante era não misturar a admiração por alguns ali com o que eu tinha de fazer. Era importante manter-me de forma profissional naquele evento. Já teria os treinos para assistir e isso pra mim já seria o ápice.


Pois bem, no meio do caminho rumo ao hotel, Rubén decide sentar no andar de baixo, talvez para pensar um pouco sozinho sobre tudo. Sei que viagens em grupo são cansativas. Era um pequeno momento só e eu ali, ao lado dele. Naquele momento estava no andar do ônibus sentado ao meu lado o técnico campeão olímpico pela Argentina. Seleção que tanto acompanhei, escrevi jogadas em pedaço de papel, admirei sistemas defensivos e postura em quadra. O responsável por aquilo tudo estava ao meu lado. Eu, claro, suava frio em todos os poros do corpo. Não sou muito feito para ser fã/ tiete e essas coisas, mas aquele momento confesso que tremi e me obrigava a me apresentar a ele. Queria que ele soubesse que eu estava a trabalhar naquele evento somente por causa do trabalho dele. Enfim, não foi bem o que eu disse mas consegui me apresentar, dizer que trabalhava com basquete na cidade e que gostaria muito de levar um caderno de anotações para os treinos da seleção. Ele me recebeu bem e disse que eu deveria ficar à vontade e anotar o que quisesse tranquilamente. Claro que junto a isso, levei uma pequena filmadora de bolso para registrar algumas movimentações e situações de treinos.

Chegando ao hotel dei de frente com meu propósito naquele evento. Apesar de querer ver tudo referente aos treinos de perto, eu tinha a função de resolver diversos problemas que a seleção teria. Deveria conferir a logística de horários da seleção entre descanso, ida à academia, ida ao ginásio para treinos e horários das refeições e combinar tudo isso com motoristas, seguranças e equipe de apoio. Além disso deveria conferir e levar os uniformes sujos para lavanderia. Estava diante de um situação de humildade também. Não me sobrava tempo para curtir estar ali, era uma correria só. Mas só de sentir que estava de alguma forma ajudando na preparação da seleção rumo ao mundial, me gerava um prazer imenso. Mas claro, nem sempre as coisas aconteceram como eu queria. No primeiro treino da seleção, tive de sair na hora que o treino ficou bom para buscar toalhas sobressalentes para a seleção no hotel, cuidar da quantidade de gelo para tratar alguns atletas com imersão no gelo e essas situações se tornaram rotina para minha função até domingo. Fazia com o maior prazer do mundo mas claro que gostaria de estar ali de perto vendo Rubén comandar o treino. Acabou então que no primeiro dia de treino acompanhei pouco do treinamento. Mas do pouco que vi já havia gostado da postura de Magnano. Tive então uma atitude que considerei fundamental para que eu conseguisse assistir o treino do dia seguinte (e principal treino da seleção no evento) com tranquilidade. Já sabendo de todas as minhas funções no dia a dia com a seleção, no dia do treino bem cedo, antecipei todas as situações que poderiam sobrar pra mim no exato horário do treino. Separei as toalhas em números além do necessário, deixei a quantidade de água pronta, o gelo estava pronto para ser manipulado pelo fisioterapeuta e massagista na quantidade exata, as roupas de treino já estavam limpas e esperando apenas eu buscar na lavanderia e a logística do dia inteiro sobre os horários de saída e chegada já estavam acertadas com o motorista do ônibus, seguranças e com a própria delegação. Teria eu dessa forma a chance de assistir de fato ao treino que seria mais puxado da seleção em Brasília. SIM! Eu havia sido recompensado pela minha ação antecipada.



E assim vi um treino digno de um campeão olímpico. Aquele senhor sereno e tranquilo no hotel, atencioso com quem tentava conversar com ele, estava entregue a um simples treino. Dedicação total. Magnano tem uma capacidade de falar tranquilamente sobre o que quer do treino, da equipe e de ao mesmo tempo enquanto os exercícios são executados, é capaz de ser exigente, estar atento aos mínimos detalhes e chamar a atenção de todos. Friamente falando, não esperava outra coisa dele. Mas só quando se vê ao vivo mesmo é que temos a real noção de como ele é diferenciado de por exemplo nossa concepção de técnico de basquete no Brasil, onde quando os atletas viram "estrelas", acabamos deixando de investir nestes atletas como deveríamos porque estes tornam-se pessoas que não podem ser expostas com cobranças no grupo. Sinto falar desta forma mas o tempo que trabalho com basquete me fez ver que situações de omissão como esta existe espalhadas pelas principais equipes do país.

Magnano era intenso, inquieto, objetivo e sempre querendo mais do elenco. Em um momento uma chamada mais dura frente ao grupo, em outro momento, uma conversa ao "pé do ouvido", uma mão ao ombro do atleta, mostrando que  ele cobra mas está ali junto fazendo parte daquela evolução coletiva. Sua parceria com Fernando Duró também era excelente. Duró estava sempre procurando trabalhar conceitos no qual Magnano não abordava. Por algumas vezes Magnano cobrava uma postura mais consciente e coletiva de ataque e Duró orientava as defesas para dar trabalho ao sistema de ataque. Em outras vezes enquanto Magnano observava ao mesmo tempo ataque e defesa de forma brilhante e no qual fiz questão de ressaltar esta situação em meu caderninho de anotações, Duró corrigia movimentos técnicos, não só de defesa mas também gestos técnicos de ataque, posicionamento e finalização. Estava ali assistindo a um verdadeiro trabalho em equipe de técnico e assistente, e não o que infelizmente muitas vezes assistimos no nosso País onde o assistente é um mero anotador de estatísticas e que não pode falar muito durante o treino porque pode parecer que ele está tentando tirar o lugar do técnico (Calma! Sei que em muitos lugares do Brasil existem equipes que trabalham decentemente também).

E assim tive acesso a um treino que nem a imprensa podia participar e assistir. Pelo silêncio do ginásio conseguia ouvir e entender tudo que era cobrado e proposto aos atletas. Passei um dia de sonho vendo aquele treino. No caderno de anotações não havia apenas anotações de jogadas, conceitos defensivos e exercícios. Acabaram surgindo pensamentos soltos sobre como podemos fazer um basquete de mais qualidade no Brasil e sobre como amo este esporte que me ensina a cada dia. E assim foi até domingo. Enquanto o canal de tv que transmitia o torneio não podia colocar o microfone para ouvir o técnico Magnano a pedido dele próprio, eu estava lá colado atrás do banco ouvindo tudo e de alguma forma confirmando cada vez mais de que se tratava de um trabalho de qualidade frente à Seleção Brasileira. Passei 4 dias mágicos de aprendizado, de muito trabalho e de motivação para minha pessoa que todo dia que coloca a cabeça no travesseiro pra dormir, pensa em conseguir trabalhar com basquete de forma cada vez mais digna. De brinde, tive a possibilidade de conhecer um pouco melhor as pessoas que fazem a equipe e comissão técnica trabalhar com mais tranquilidade. Diante das minhas funções pude conhecer melhor o trabalho do preparador físico, responsável também por ajudar na montagem da logística da seleção. O trabalho árduo do médico e fisioterapeuta que tinham naquela época a missão de recuperar o Nenê e manter a seleção nas melhores condições físicas. E o mais bacana de tudo: Ficar próximo de uma figura folclórica como o Marcão. Massagista da seleção há 17 anos, pessoa responsável por um trabalho que nem percebemos muito a sua importância muitas vezes mas que eu, por ter funções em conjunto com ele, pude notar como é fundamental ter alguém dedicado a fazer o seu melhor nesta função. Marcão era responsável pela água que os atletas bebiam, pela roupa que vestiam e por manter um bom ambiente no grupo. Tive a oportunidade de conhecê-lo melhor e no último dia, a única pessoa além de Rubén Magnano que eu quis tirar uma foto para registrar esta minha experiência nova como guia da Seleção Brasileira, foi sem dúvidas o Marcão. Com seu jeitão carioca irreverente, mas acima de tudo extremamente profissional e comprometido com a seleção. Aliás, esta foi uma marca e ótima impressão de todos que compunham a delegação brasileira me deixaram. Com todos que tive uma relação de trabalho e que em momentos conversávamos sobre a seleção no mundial, todos, sem exceções em algum momento desabafavam algo como: "Vai dar certo, Rodrigo!"
Eu e Marcão na despedida da Seleção à Brasília



Todos ali tinham um pensamento muito positivo e trabalhavam duro para ver isso acontecer. E eu que sempre tive críticas( e ainda tenho) à Confederação pelos trabalhos realizados com seleções durante diversos anos, me rendi aos profissionais que ali estavam pois pude ver de perto o desejo de todos de que este mundial realmente representasse o ressurgimento do País na modalidade.

No dia de hoje, onde os dois téncicos que mais admiro e que as duas seleções por que mais torço se enfrentam, fico a espera deste jogo histórico e que espero que seja maravilhoso. Eu torcerei fervorosamente pela Seleção Brasileira. Gravarei o jogo para assistir sem emoção depois analisando os detalhes mas acima de tudo sei que em quadra estará uma tentativa dos dois lados de jogar um basquetebol de qualidade. Um tipo de basquete que gosto. Mesmo sabendo que a seleção brasileira ainda está aprendendo a se comportar assim e tendo durante o mundial recaídas para o jogo egocêntrico, ainda acredito que este será mesmo um jogo histórico, maravilhoso e marcante para todos que assistirem.

Fico na torcida pela seleção do meu País e por profissionais que passei a admirar depois de um convívio de quatro dias. E é claro que neste dia tão especial eu deveria voltar a postar por aqui. Aproveitem o jogo!

Abraço à todos!